Proximidade entre terremoto no México e uma falha sísmica ‘adormecida’ dispara alerta

Origem do tremor de magnitude 7,1 está muito perto da faixa de 110 quilômetros que não registra um grande movimento tectônico há mais de um século. Especialistas analisam impacto na fissura

Hotel afetado por terremoto desta terça em Acapulco, no México.David Guzmán (EFE)
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O terremoto de magnitude 7,1 que abalou o centro do México na noite de terça-feira deixou os sismólogos do país em alerta por causa de sua proximidade da falha sísmica de Guerrero, uma faixa tectônica que há mais de um século não registra um grande terremoto. Víctor Manuel Cruz-Atienza, pesquisador do Instituto de Geofísica da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), ressalta que em comparação com outros terremotos ocorridos na região do Estado de Guerrero este último não foi de grande magnitude, mas ocorreu exatamente no ponto da costa mais próximo da Cidade do México. Esse seria um dos motivos pelos quais em algumas áreas da capital ele foi sentido com muita força. Além disso, o sismo foi em uma área crucial do país: o limite leste de uma faixa na qual há mais de um século se espera um grande terremoto de magnitude superior a 8.

Todos os anos são registrados no México cerca de 30.000 terremotos, em média, e o Estado de Guerrero concentra cerca de 25% da atividade sísmica nacional. Por isso, para os especialistas, a falha de Guerrero é um lugar anômalo, na medida em que um terremoto significativo, com mais de 7 graus, não ocorre ali há mais de 110 anos. Cruz-Atienza explica que, se a fenda sísmica se rompesse totalmente, causaria um grande terremoto com magnitude superior a 8,2. O especialista reconhece que o terremoto de terça-feira pode ter repercussões na falha sísmica de Guerrero, que, por não ter registado um grande sismo, continua a acumular energia. “É um sismo pequeno de magnitude moderada pequena, que nos mostra a preparação que existe em certas partes da falha para um rompimento, mas insuficiente ainda para desencadear um terremoto maior”, diz ele.


De acordo com informações do Serviço Sismológico Nacional, o terremoto de terça-feira ocorreu às 20h47, hora local, 11 quilômetros a sudeste de Acapulco, a uma profundidade de 10 quilômetros. “É uma falha do tipo inverso, em que o bloco do teto sobe em relação ao bloco de piso. Esses tipos de falhas são característicos das zonas de convergência entre as placas tectônicas, como ocorre no contato entre as placas de Cocos e da América do Norte, nessa interação a placa de Cocos se movimenta sob a placa norte-americana”, indica o relatório técnico. Até agora, houve mais de 200 tremores secundários deste terremoto, o maior deles com magnitude de 5,2.

Há cinco anos, Cruz-Atienza, com um grupo de pesquisadores da UNAM e da Universidade de Kyoto, busca nas águas do Pacífico mexicano qualquer sinal de movimento da falha sísmica de Guerrero. Em novembro próximo, esta equipe de pesquisadores levantará âncoras para recuperar dados do fundo do oceano e ver como a crosta foi deformada antes da ruptura de terça-feira e da deformação pós-sísmica que este último terremoto provocou em Acapulco.

Quando a falha de Guerrero se romperá?

Esta é a pergunta que todos os especialistas estão se fazendo, afirma Carlos Valdés González, pesquisador do Instituto de Geofísica da UNAM e representante do Centro de Estudos Mexicanos da Universidade da Costa Rica. “Estamos fazendo uma série de análises para tentar determinar o impacto que este terremoto e suas réplicas têm na transferência ou em permitir a liberação de energia sísmica na fissura de Guerrero. É uma incógnita muito importante e será preciso fazer uma série de avaliações para uma conclusão, mas sabemos que haverá um terremoto na fenda sísmica de Guerrero. Não podemos impedir um terremoto neste local, mas podemos mitigar seus efeitos se agirmos de modo correto”, diz ele.

Embora Valdés González reconheça ser muito provável que este terremoto venha a desencadear uma maior atividade sísmica no país, como aconteceu em 2017, não é possível prever quão grande será esse aumento. Além disso, destaca que, apesar da coincidência de datas com os terremotos de setembro de 2017, não é possível estabelecer uma relação para poder prever outros movimentos semelhantes na área. Ao contrário do ocorrido há quase quatro anos, afirma Valdés González, a distância de mais de 200 quilômetros permitiu um sinal de alerta mais oportuno para a população.

Os especialistas concordam que ainda não é possível prever um terremoto nem evitar o perigo que representa, mas consideram que com mais informações técnicas suficientes disponíveis será possível mitigar o risco associado de um futuro sismo com epicentro na falha de Guerrero.

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