EUA avaliam se têm “capacidade tecnológica” para restabelecer a internet em Cuba
Declaração foi feita pelo presidente Joe Biden, ditando o tom áspero da relação com a ilha. Enquanto isso, para aliviar tensão após protestos, dirigentes do país comunista livram de taxas comida e remédio trazidos por visitantes
O Governo dos Estados Unidos avalia se tem capacidade tecnológica para restabelecer a conexão de Internet em Cuba, cortada pelo regime após as mobilizações do último domingo. Foi o que disse o presidente norte-americano, Joe Biden, durante entrevista coletiva na Casa Branca nesta quinta-feira ao final da visita da chanceler alemã, Angela Merkel.
Biden descreveu Cuba como um “estado falido” que está “reprimindo a população” e explicou que Washington está disposto a enviar vacinas contra a covid-19 ao país caribenho para aliviar o sofrimento da população, mas somente com a garantia de que uma agência internacional administre a distribuição. Cuba vive seu pior momento da pandemia, mas, ainda assim, está bem distante dos recordes de outros países latino-americanos ou dos EUA no auge da crise sanitária. Nesta quinta-feira foi quebrado um novo recorde de mortes na ilha de 11,3 milhões de habitantes, 67 em um único dia, e 6.479 casos positivos. Desde o começo da pandemia, morreram 1.726 cubanos. São Paulo, com 12,3 milhões de habitantes, acumula 34.000 mortes pela covid-19.
Na mesma linha de desconfiança em relação ao regime, Biden explicou que não autoriza o envio de remessas a Cuba devido pelo temor de que as autoridades cubanas as confisquem. “Eles cortaram o acesso à Internet, estamos considerando se temos capacidade tecnológica para restaurar esse acesso”, disse Biden. O presidente foi questionado sobre sua opinião sobre o socialismo, termo que nos Estados Unidos é associado ao comunismo, embora a esquerda do Partido Democrata às vezes defenda sua versão democrática. “O comunismo é um sistema falido e não acho que o socialismo seja um substituto muito útil, mas isso é outra história”, respondeu ele.
A internet e o acesso aos dados móveis nos celulares continuam cortados ou funcionando com dificuldades em Cuba para quem não tem um aplicativo VPN, por meio do qual é possível ter acesso à rede. Mas muitos cubanos começam a se conectar à rede e a ver imagens do que aconteceu nestes dias. Entre elas, as fotografias de policiais da tropa de choque vestidos com toda a parafernália de rigor, escudos protetores, capacetes, uniformes blindados, cassetetes e armas longas, algo absolutamente inédito na ilha. Cada vez mais artistas manifestam publicamente sua consternação com a violência policial observada nos últimos dias, embora outros, como o famoso cantor e compositor Silvio Rodríguez, tenham enfatizado a manipulação feita do exterior. “Fizeram crer a muitos que a revolução é violência. É preciso ser cínico, com a quantidade de mensagens incitando à violência que espalharam.”
Comida e remédios de viajantes liberados
Enquanto Biden não dá sinais de que irá rever nem mesmo as sanções adicionais contra a ilha, Cuba volta pouco a pouco à normalidade depois da turbulência política provocada pelos protestos do último domingo na capital e em várias cidades do país. O controle das ruas pela polícia e por grupos ligados ao Governo continua, e é avassalador, mas a vida volta a ser o que era, com gente fazendo fila nas lojas para comprar produtos de primeira necessidade, desabastecimento nos comércios e apagões programados em várias localidades. Os cortes de eletricidade vêm se reduzindo.
Um conjunto de fatores que explica algumas das causas que provocam mal-estar e descontentamento entre a população e que está por trás das manifestações recentes, algo que não vai melhorar no curto prazo. As autoridades sabem disso, o que fica demonstrado pelo fato de que nesta quarta-feira os principais dirigentes do Governo voltaram a aparecer na televisão e anunciaram que, a partir de agora, será permitido “de forma excepcional” e até o fim do ano, a importação livre de tarifas de alimentos e remédios aos viajantes que entrarem na ilha.
É uma medida primeira, limitada, mas que demonstra até que ponto o que aconteceu nos últimos dias agitou as coisas nas ruas e nas alturas, e obrigou o regime a tomar medidas. Vários economistas dizem que, se se pretende realmente aliviar a situação crítica do país e dar oxigênio à economia, o Governo terá de acelerar a introdução de reformas e estas devem ser estruturais e não simples remendos. E para que as pessoas realmente possam ganhar a vida, os especialistas consideram de suma importância a eliminação de uma infinidade de obstáculos à iniciativa privada e a tão esperada autorização para as pequenas e médias empresas, algo de que não se falou na quarta-feira na intervenção especial na televisão, uma medida que tarda em chegar. Ao mencionar a liberalização da importação de alimentos e medicamentos, o primeiro-ministro, Manuel Marrero, indicou que era uma demonstração de que o Governo “está buscando soluções para o povo”.
Ao lado de Marrero, os titulares das pastas de Economia, Alejandro Gil, e de Energias e Minas, Liván Arronte, deram explicações sobre as dificuldades que o país enfrenta, “agravadas pelo ressurgimento do bloqueio norte-americano”, mas tentando transmitir à população a mensagem de que há luz no fim do túnel, especialmente no que se refere ao fornecimento de energia elétrica. Os analistas concordam que o descontentamento com o aumento dos apagões é o que fez com que, na pequena cidade de San Antonio de los Baños, as pessoas saíssem às ruas no último domingo, a centelha que, por simpatia, acendeu horas depois os protestos em outras vilas e cidades do país.
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, voltou a se referir às manifestações daquele dia, desta vez com certo tom de autocrítica. Disse que junto com os “elementos contrarrevolucionários”, “anexionistas que participam de um plano estrangeiro” e “criminosos”, se manifestaram pessoas com reivindicações legítimas e também jovens e setores empobrecidos da população cujas necessidades a revolução não conseguiu satisfazer. Reconheceu que a polícia pode ter cometido excessos, mas que “sem a resposta das forças de ordem, a violência e o caos teriam prevalecido” e agora a situação seria pior. “Também devemos pedir desculpas a quem foi maltratado no meio da confusão”, admitiu.
No entanto, ficou claro que as autoridades aplicarão todo o rigor aos que consideram “instigadores e organizadores dos distúrbios”, um aviso claro aos navegantes e para desativar futuros incidentes. Altos funcionários do Ministério do Interior e do Ministério Público deram declarações depois, sem fornecer um número oficial de presos ―que algumas organizações oposicionistas estimam em centenas. A televisão mostrou imagens de distúrbios graves em alguns bairros periféricos de Havana e de outras cidades do país, onde os manifestantes entraram em confronto com a polícia, inclusive lançando coquetéis molotov e saqueando lojas de dólares. Os funcionários advertiram que os responsáveis por estes atos serão julgados por crimes graves e podem ser condenados a vários anos de prisão.
Biden descarta o envio de tropas ao Haiti
O presidente dos EUA, Joe Biden, descartou o envio de tropas ao Haiti, outro país com graves turbulências após o assassinato de seu presidente, além das tropas necessárias para proteger a embaixada. “Não está na ordem do dia”, disse ele, apesar do fato de o governo interino ter solicitado isso para evitar o caos no país.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.