Miami busca 159 pessoas nos escombros após desabamento que causou ao menos quatro mortes

A angústia dos parentes dos desaparecidos aumenta na cidade: “A dor é demais”

Equipe de resgate remove destroços do prédio de apartamentos destruído em Miami em busca de sobreviventes.Lynne Sladky (AP)

As equipes de emergência continuam o trabalho de resgate 24 horas após a tragédia que já deixa um saldo de quatro mortos e 159 pessoas que não puderam ser localizadas. Na noite desta quinta-feira, a angústia dos parentes dos desaparecidos com o desabamento parcial de um prédio em Surfside, cidade a nove quilômetros de Miami Beach (Flórida), não encontrou consolo. Dezenas deles aguardam, em um prédio próximo ao local do incidente, notícias sobre o paradeiro de seus parentes. Elas ainda não chegaram. As autoridades não divulgaram as identidades das pessoas afetadas pela tragédia, mas vários são conhecidos como judeus e latinos. O rabino Sholom Lipskar, um dos organizadores do centro de reunificação familiar, afirma que vários membros de sua sinagoga ainda estão desaparecidos. “Estou aqui para ouvir [os familiares], não posso falar muito. A dor é muito grande e o enredo muito complexo “, disse ele no Surfside Community Center, o epicentro da incerteza.

Os residentes da cidade de Surfside, com uma população de 5.800 habitantes, estão pasmos. Eles mantêm os olhos fixos nos guindastes e tratores que tentam remover os escombros das 55 casas que desabaram por volta das duas da manhã no prédio residencial de 12 andares construído em 1981. Após o barulho estrondoso do que eles descreveram como algo semelhante a “um terremoto” ou “o impacto de um míssil”, à noite tudo é silêncio. Só se ouvem as sirenes dos policiais e dos bombeiros, e o murmúrio de quem observa o trabalho dos socorristas sob forte chuva.

A prefeita de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, informou nesta sexta-feira que três corpos foram encontrados durante a noite nos escombros, elevando o número de mortos para quatro. O presidente, Joe Biden, declarou estado de emergência no Estado da Flórida, o que permite colocar recursos federais à disposição das autoridades locais para reforçar os esforços de resgate.

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Herlan, um secretário financeiro cubano de 47 anos, diz que o que aconteceu com essas famílias poderia ter acontecido com qualquer um dos presentes. “São pessoas de classe média, talvez de classe média alta, mas porque ganharam trabalhando”, ele destaca, ao falar sobre os moradores de Surfside. Herlan está prestes a fechar a compra de um apartamento no litoral. “Mas agora fiquei com medo”, reconhece, embora enfatize que o terreno da ilha onde o evento ocorreu é mais sujeito à erosão do solo do que Miami continental.

Casal se abraça após o colapso do edifício em Surfside.Marta Lavandier (AP)

Ainda não há uma causa oficial para o colapso parcial do prédio. As autoridades locais informaram que a investigação sobre o desabamento ―que pode levar meses― envolverá engenheiros especializados, além da Administração da Cidade de Surfside e do Corpo de Bombeiros. “É difícil imaginar como isso poderia ter acontecido”, disse o prefeito de Surfside, Charles Burkett, “os prédios não desmoronam simplesmente.” Ele também esclareceu que, em sua opinião, o colapso absoluto da ala nordeste do prédio sugere não haverá “tanto sucesso” quanto se esperava para “encontrar os desaparecidos com vida”.

Cerca de 20 cidadãos judeus, incluindo alguns com cidadania israelense, também estão entre os desaparecidos, disse Maor Elbaz-Starinsky, cônsul-geral de Israel em Miami, ao USA Today. Perto do prédio desabado, há várias sinagogas e muitos de seus membros foram para o centro de reunificação da família na quinta-feira. Eles chegaram com comida kosher, roupas e cobertores para facilitar a espera. Não vieram apenas para o Surfside Community Center. Segundo o rabino Sholom Lipskar, “centenas” de voluntários passaram por lá ao longo do dia e, no final da manhã, jovens de diferentes nacionalidades continuaram chegando, carregando garrafas de água, guarda-chuvas e tudo o que fosse necessário, perguntando como poderiam ajudar. A imprensa não pode entrar nas instalações a pedido de familiares.

Imagem do que era a entrada do prédio de 12 andares colapsado em Surfside, Flórida.Bomberos de Miami-Dade (Bomberos de Miami-Dade / EFE)

Outra comunidade que foi afetada pela tragédia é a latina. Existem cerca de 30 cidadãos latino-americanos desaparecidos. O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia informou por meio do Twitter que pelo menos seis compatriotas residiam no prédio, mas não há registro de se eles estavam lá dentro quando ocorreu o desabamento. As autoridades argentinas asseguram que não conseguiram localizar nove de seus nacionais. O representante de Juan Guaidó nos Estados Unidos, Carlos Vecchio, registrou o desaparecimento de pelo menos quatro venezuelanos. Entre as pessoas que ainda não foram encontradas está Sophia López Moreira, irmã da primeira-dama do Paraguai, Silvana López Moreira, e seu marido Luis Pettengill, além de quatro outros compatriotas, conforme atesta o Ministério das Relações Exteriores paraguaio no Twitter.

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