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Polícia da Venezuela mata ao menos 23 pessoas em operação contra quadrilhas em Caracas

Ação letal das forças de segurança em um bairro controlado por facções criminosas ocorre em meio ao escrutínio internacional pelas execuções extrajudiciais

Florantonia Singer
Membros da Polícia Nacional Bolivariana patrulham um bairro de Caracas, Venezuela.
Membros da Polícia Nacional Bolivariana patrulham um bairro de Caracas, Venezuela.Rodrigo Abd (AP)
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Pelo menos 23 pessoas morreram durante o fim de semana em um confronto entre a polícia e quadrilhas em Caracas, capital da Venezuela, depois que comandos da Força de Ações Especiais da Polícia Nacional Bolivariana entraram no bairro de La Vega na sexta-feira, na parte Oeste da cidade. A briga é mais uma das travadas por este grupo policial acusado de perpetrar execuções extrajudiciais. A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a ex-presidenta chilena Michelle Bachelet, pediu a dissolução desta força em 2019 devido às graves violações de que é acusada.

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As FAES são um grupo de forças especiais criado em 2016 por Nicolás Maduro. Com pulso firme, eles assumiram o controle da luta contra o crime, mas também atuam junto com as forças de choque do Chavismo na repressão às manifestações e na perseguição aos opositores.

Os policiais enviados ao bairro de La Vega mataram membros de uma poderosa quadrilha dedicada a sequestros que supostamente tentava estender seu raio de ação a outros bairros de Caracas. Na operação policial, moradores também morreram com balas perdidas, entre eles Nelson Villalta, um professor de música de 50 anos, que estava na porta de sua casa enquanto os criminosos enfrentavam os agentes policiais.

Os vídeos dos disparos de armas de vários calibres correm pelas redes sociais desde sexta-feira, quando o bairro entrou em uma espécie de toque de recolher que obrigou o fechamento dos comércios. Os moradores viveram horas de medo e horror pelos tiroteios. O comandante das FAES, Miguel Domínguez, disse em sua conta do Twitter que o corpo policial estava mobilizado na área “dando segurança e proteção ao bairro”. Desde 2019 Domínguez sofre sanções de Washington.

A violência na Venezuela – que nos últimos anos liderou a taxa de homicídios da região junto com Honduras e El Salvador – deixou de estar nas mãos dos delinquentes. O último relatório do Observatório Venezuelano de Violência reportou em 2020 uma taxa de 45,6 mortes violentas para cada 100.000 habitantes, muito acima de qualquer um dos outros países considerados violentos na América Latina. O ano acabou com pelo menos 11.891 mortos, incluindo outros 4.231 falecimentos catalogados pelas autoridades como resistência à autoridade e que se suspeita que foram homicídios cometidos pelos corpos de segurança do Estado, por uso excessivo da força e por execuções extrajudiciais. No ano passado os delinquentes cometeram 4.153 homicídios, outras 3.507 mortes estão sob investigação.

“A letalidade policial se estendeu por todo o país, parece ser a única política de segurança que foi implementada. Em 12 Estados a polícia matou mais do que os delinquentes. Ou seja, na metade das entidades federais a letalidade policial foi superior à letalidade delinquencial”, diz o relatório divulgado na última semana de dezembro.

As acusações contra as FAES e outros corpos policiais foram documentadas por organizações não governamentais e sustentam o caso contra a Venezuela na Corte Penal Internacional, que já apontou que foram cometidos crimes de lesa humanidade, pelo menos desde 2017. A missão de investigação da ONU também reuniu em seu relatório, apresentado em setembro, execuções extrajudiciais pelas forças de segurança do Estado.

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