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FBI investiga se invasores do Capitólio planejavam fazer reféns e matar políticos

Departamento de Justiça acusou 13 pessoas de diversos crimes pelos fatos cometidos contra o Congresso dos EUA

Richard Barnett, Adam Johnson e  Jacob Anthony Chansley, que foram presos pela invasão ao Capitólio.
Richard Barnett, Adam Johnson e Jacob Anthony Chansley, que foram presos pela invasão ao Capitólio.AFP
Yolanda Monge
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House Speaker Nancy Pelosi sanitizes the gavel after Vice President Mike Pence walked off the dais as a joint session of the House and Senate convenes to count the Electoral College votes cast in November's election, at the Capitol in Washington, Wednesday, Jan. 6, 2021. (Erin Schaff/The New York Times via AP, Pool)
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Pouco a pouco, os principais líderes do ataque ao Congresso dos Estados Unidos vão caindo. Primeiro foi Richard Barnett, o vândalo que entrou no gabinete de Nancy Pelosi. No sábado a polícia prendeu Jacob Anthony Chansley, o homem que vestia um chapéu de pele e chifres e o rosto pintado com uma bandeira, e Adam Johnson, famoso por roubar um atril. O FBI pretende agora estabelecer se a turba que invadiu o Capitólio, além de criar o caos, pretendia fazer reféns e até matar congressistas e assessores.

Se o FBI segue essa linha de investigação é porque, entre as muitas fotografias publicadas após a invasão da turba trumpista ao Congresso, alguns dos invasores levavam consigo amarras de plástico utilizadas para deter e imobilizar pessoas pelas mãos. “Não estamos tratando isso como uma grande conspiração, mas queremos saber o que essas pessoas pretendiam com essas tiras plásticas”, declarou ao The Washington Post um agente da investigação que, como todos os citados pelo jornal da capital da nação, falou sob a condição de anonimato.

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Até agora nada prova, através das imagens obtidas e que continuam sendo analisadas milimetricamente, que nenhum dos vândalos tentaria fazer reféns e a explicação mais lógica para o FBI é que alguns deles são pessoas que faziam ou fazem parte das forças de segurança e do setor militar, razão pela qual carregavam esse material.

Em relação às armas que portavam, os investigadores federais querem averiguar se entre seus planos estava matar algum congressista, algo que os agentes de polícia no Capitólio temeram quando durante o ataque pediram aos políticos que arrancassem as insígnias que os identificavam como senadores e congressistas.

Novas prisões

Enquanto isso, a cada dia ocorrem novas prisões e indiciamentos. Até agora, o Departamento de Justiça acusou 13 pessoas de diferentes crimes pelos fatos cometidos contra o Congresso dos EUA. Aos mais de 60 presos após os distúrbios vão se somando os rostos mais conhecidos tornados públicos através das imagens do brutal ataque. A polícia da Flórida prendeu no sábado o invasor que levava consigo, enquanto saudava sorridente uma câmera, o atril da presidenta da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi. É Adam Johnson, de 36 anos.

Também está em uma cela Jacob Anthony Chansley (também conhecido como Jake Angeli), do Arizona, conhecido como O xamã do QAnon, que usa o nome de lobo do Yellowstone em seu canal do YouTube e que entrou no Capitólio de chifres, peles na cabeça e peito nu. Chansley, de 32 anos, segue o culto do QAnon, considerado uma organização de terrorismo interno pelo FBI, e que divulga uma teoria enlouquecida sobre a existência de uma quadrilha global de pedófilos adoradores de Satanás que supostamente se infiltraram nos níveis mais altos do Governo norte-americano para acabar com Donald Trump.

A Promotoria de Washington DC também informou a prisão do republicano Derrick Evans, de 35 anos e membro do Congresso do Estado da Virgínia Ocidental, que publicou no Facebook um vídeo encorajando os vândalos e participando do ataque.

Também está sob custódia federal outro dos rostos mais visíveis e desafiantes do ataque: o homem fotografado com os pés sobre a mesa do gabinete de Pelosi. Identificado como Richard Barnett, do Arkansas, o homem de 60 anos havia publicado nos dias anteriores à insurreição que estava preparado para “uma morte violenta”. Obstinado seguidor de Trump e defensor do direito a portar armas, Barnett se somava às vozes trumpistas de fraude eleitoral e afirmava em sua conta do Facebook que havia “montes de provas” de que o ocorrido em 3 de novembro havia sido uma trapaça.

Enquanto ocorrem prisões e são feitas acusações por entrada ilegal no Capitólio, portar armas, destruição de propriedade, o FBI tem em seu espelho retrovisor o grupo de homens que formavam uma milícia que no ano passado foram presos em Michigan acusados de planejar o sequestro da governadora do Estado, a democrata Gretchen Whitmer, e fazer reféns. Esse caso foi investigado por meses e pôde ser impedido a tempo. Agora o FBI quer investigar um fio semelhante no Congresso.

A maior ameaça desde 11 de Setembro

Enquanto o país tenta digerir o ocorrido no último dia 6, e os cinco mortos deixados pelo ataque, os especialistas alertam que a violência pode voltar a surgir no dia da posse, em 20 de janeiro, quando o presidente eleito Joe Biden deve jurar o cargo como presidente e comandante em chefe dos EUA.

“A cada dia vemos como se intensifica a retórica nas redes sociais desses supremacistas brancos e seguidores da extrema-direita que promovem o ódio”, disse no sábado o diretor da Liga Antidifamação, Jonathan Greenblat, à CNN. “Tememos que a violência se acentue em vez de se apaziguar”. Na nota em que o Twitter disse por que suspendia definitivamente a conta do presidente Trump, a empresa alertou que havia observado planos para futuros protestos armados “dentro e fora do Twitter, incluindo outro ataque proposto contra o Capitólio dos Estados Unidos e os edifícios do Capitólio estadual em 17 de janeiro”.

David Laufman, funcionário de alto escalão do Departamento de Justiça durante os ataques terroristas da Al Qaeda em 2001, considera válidas as manchetes “A democracia dos Estados Unidos, em perigo” e “O templo da liberdade, atacado por uma turba alienada”. Em sua opinião, o ocorrido na quarta-feira significa “a maior ameaça a nossa segurança nacional desde o 11 de Setembro”. Citado pelo The Washington Post, Laufman vai além e considera o ataque até mesmo mais perigoso porque é terrorismo interno, e coloca “nossa democracia em perigo”.

Para o ex-promotor federal, nesse momento não deveria existir maior prioridade ao FBI e ao Departamento de Justiça do que investigar e colocar diante de um juiz todos os que foram responsáveis pelo ataque contra o Capitólio. Laufman avisa que não deveria ficar de fora da investigação quem incitou o ataque, em clara referência ao presidente Trump.

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