Cientista ‘pai’ do programa nuclear do Irã é assassinado
Suspeitas sobre a morte de Mohsen Fakhrizadeh recaem sobre Israel, que já apontou o nome do pesquisador como responsável por um projeto secreto para fabricar a bomba atômica
Mohsen Fakhrizadeh, cientista considerado o pai do programa nuclear iraniano, foi assassinado nesta sexta-feira, segundo um comunicado do Ministério da Defesa do Irã divulgado pela rede estatal PressTV. Embora ninguém tenha assumido a autoria do ataque, as suspeitas recaem sobre Israel, cujos serviços secretos foram apontados como responsáveis por ações similares há alguns anos.
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O escritório de imprensa do Ministério da Defesa afirmou que Fakhrizadeh, que chefiava a Organização de Pesquisa e Inovação de Defesa, “ficou gravemente ferido em um confronto entre sua equipe de segurança e terroristas e foi levado para o hospital”, onde morreu.
Segundo a agência FARS, Fakhrizadeh foi alvo de um ataque misto de armas leves e de pelo menos uma explosão na entrada da localidade de Absard, 90 quilômetros a leste de Teerã. Embora sua morte tenha sido confirmada pela televisão estatal, um desmentido inicial do porta-voz da Organização da Energia Atômica do Irã causou confusão. “Ele está no hospital e sua morte ainda não foi confirmada. Há informações não confirmadas de que ainda está vivo”, havia tuitado o jornalista e pesquisador iraniano Abas Aslani.
Fakhrizadeh, membro da Guarda Revolucionária e professor de Física da Universidade Imam Hossein (onde estudam os cientistas de maior prestígio do regime), era considerado pelos centros de espionagem ocidentais como o pai do programa nuclear da República Islâmica. É atribuído a ele o suposto plano encoberto para fabricar uma bomba atômica que Teerã teria interrompido em 2003, um ano depois que foram descobertas suas atividades nucleares secretas. O Irã sempre negou que seu programa tivesse nuclear finalidade militar.
Mesmo assim, há quase unanimidade de que Fakhrizadeh era a pessoa que conhecia todos os segredos nucleares do Irã. Significativamente, o país rejeitou durante anos os pedidos da Agência Internacional de Emergia Atômica (AIEA) para entrevistá-lo. Os inspetores da AIEA fiscalizam o programa atômico iraniano para que não seja desviado para uso militar.
“Lembrem-se desse nome, Fakhrizadeh”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante uma apresentação em 2018 na qual revelou detalhes do programa secreto, segundo um arquivo que seus agentes tinham conseguido retirar do Irã. Netanyahu também disse naquela ocasião que, depois do encerramento do projeto, o cientista continuou trabalhando em “projetos especiais” dentro de uma organização do Ministério da Defesa.
Pelo menos quatro cientistas iranianos vinculados ao programa nuclear foram assassinados entre 2010 e 2012 em operações atribuídas a Israel, algo que seus porta-vozes sempre negaram. Este novo assassinato ocorre em um momento de especial tensão devido à troca de comando em Washington, já que Israel e Arábia Saudita, os principais rivais da República Islâmica na região, temem que o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, retome o acordo nuclear e abandone a política de pressão máxima de Donald Trump.