EUA caminham rumo a uma crise institucional com disputa apertada e ameaças de Trump de apelar à Suprema Corte
Presidente se sai melhor que o esperado na votação, cujo resultado ainda é incerto, e acusa democratas de quererem “roubar” a eleição, enquanto Biden se mostra otimista e defende cautela
As eleições presidenciais dos EUA caminham para conduzir o país a uma grave crise institucional. Por volta das 2h30 (horário de Washington) desta quarta-feira, Donald Trump declarou uma vitória que ainda não existe nas urnas e ameaçou apelar à Suprema Corte ―onde os republicanos agora são maioria― se a contagem dos votos pelos correios não for interrompida, o que pode consolidar a derrota do presidente. O cenário do momento é muito confuso. Neste pleito anômalo, marcado pela pandemia de coronavírus e por uma enxurrada de votos antecipados, a apuração pode ser atrasada e deixar uma imagem diferente do final da noite de terça, quando os Estados Unidos fecharam as urnas. Trump, que surpreendeu e largou à frente, acusou os democratas de tentarem “roubar” a eleição, confessando preocupação com o resultado. Seu rival, Joe Biden, estava otimista com o resultado, mas pediu paciência aos eleitores, lembrando que nem o presidente nem ele poderiam declarar vitória antes da consolidação dos resultados.
Ganhando ou perdendo, Donald Trump demonstrou na noite desta terça-feira que não é um acidente político, nem um mero exemplar a mais da onda populista que sacode o mundo. Os primeiros resultados das eleições presidenciais norte-americanas refletem uma batalha muito acirrada contra o democrata Joe Biden e deixam em aberto o destino da presidência mais poderosa do mundo livre. O republicano amarrou todos os feudos conservadores e passou, até agora, uma noite melhor do que as pesquisas lhe permitiam esperar.
Com 94% dos votos apurados, o republicano vence no crucial Estado da Flórida com uma diferença de 3,4 pontos, bem mais folgada que há quatro anos (1,2 ponto sobre Hillary Clinton). E, por enquanto, não cedeu dois dos territórios onde o democrata Joe Biden podia virar (Ohio e Carolina do Norte). Por volta de meia-noite (hora de Washington, 2h em Brasília), o vice-presidente da era Obama se aproximava da vitória no Arizona, Estado onde Trump venceu em 2016, e tinha chances de conquistar os três territórios pendulares do cinturão industrial (Michigan, Wisconsin e Pensilvânia) que foram decisivos há quatro anos e agora podem lhe dar a chave da presidência.
Todos os olhares se voltam para a Pensilvânia, um prêmio gordo, de 12 milhões de habitantes, que recebeu tamanha enxurrada de voto antecipado e postal que a apuração pode se prolongar até sexta-feira. O secretário estadual de Justiça, Josh Shapiro, publicou uma mensagem à 0h30 no Twitter recomendando às pessoas que “vão dormir”. “Como dissemos durante meses: esta eleição só terá acabado quando todos os votos forem apurados. Mantenham a calma”, acrescentou.
Isso é muito difícil na Casa Branca, onde Trump acompanhava os resultados, ou em Wilmington (Delaware), cidade de Biden. O republicano já sinalizou que pretende contestar os resultados se perder. “Estamos indo muito acima, mas estão tentando roubar a eleição. Jamais permitiremos que façam isso. Não se pode votar depois que as urnas tiverem fechado!”, escreveu em sua conta do Twitter. Praticamente ao mesmo tempo, Biden se dirigia aos norte-americanos na companha da sua esposa, Jill. “A apuração vai demorar, mas vamos ganhar na Pensilvânia. Temos que ter paciência até que a apuração termine. Continuamos na briga na Geórgia. Temos uma boa sensação com Wisconsin e Michigan. Achamos estar no caminho da vitória. Vamos ganhar isto. Mantenho a fé”, disse.
Ele de fato lutou até o último momento, com uma intensa agenda de comícios por todo o país. Os Estados Unidos tiveram as eleições mais relevantes da sua história recente, em meio a uma grave crise sanitária, econômica e social. Os dispositivos de segurança mobilizados nos últimos dias nas grandes cidades pelas autoridades e pelos cidadãos comuns, temerosos da violência, dão conta do clima de tensão. O próprio presidente tinha promovido a incerteza até o último momento, agitando o fantasma da fraude eleitoral.
Biden, de perfil centrista e quase octogenário, um ano atrás parecia ser uma aposta contrária aos tempos que correm, alheio ao sangue novo do Partido Democrata, distante dos potentes discursos da ala esquerdista e sem ímpeto suficiente para enfrentar um tigre político como Trump. Sua figura, entretanto, foi a que mais consensos gerou entre as diferentes sensibilidades; sua estabilidade, sua moderação e sua irresistíveis doses de empatia fizeram dele o nome em torno do qual cerrar fileiras. Em eleições primárias com mais de 20 aspirantes, o ex-vice-presidente da era Obama se sagrou vencedor.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.