Ruth Bader Ginsburg volta a fazer história no Congresso dos EUA em seu último adeus
Magistrada é a primeira mulher a receber uma homenagem de Estado com a instalação de uma câmara-ardente no Capitólio
Ruth Bader Ginsburg continua escrevendo a história dos Estados Unidos. A juíza, falecida aos 87 anos há uma semana, tornou-se esta sexta-feira a primeira mulher com cargo público a ser velada na sede do Congresso, ou seja, a receber uma homenagem de Estado após seu falecimento. Também é a primeira pessoa judia a receber essa honraria, reservada principalmente a presidentes e heróis de guerra. A câmara-ardente no Statuary Hall, no Capitólio, culmina os três dias de homenagens da capital americana à magistrada que defendeu a igualdade de gênero durante toda a sua carreira. Desde a notícia de sua morte, milhares de pessoas se aproximaram da sede da Suprema Corte para agradecê-la por sua luta incansável pela justiça. Nos últimos dois dias, as pessoas fizeram fila durante horas para se despedir da juíza, cujo caixão foi exposto ao público na escadaria do edifício do Judiciário.
A presidenta da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, saudou com “profundo pesar e profunda simpatia” os familiares e amigos da magistrada. A líder democrata destacou que os restos mortais da juíza repousavam sobre um sepulcro construído para o presidente Abraham Lincoln. Devido às restrições pela pandemia, esteve presente apenas um pequeno grupo de convidados, todos usando máscara, entre eles o candidato democrata à presidência Joe Biden e sua mulher, Jill, além de sua companheira de chapa, a candidata a vice-presidenta Kamala Harris. Durante a cerimônia, a soprano Denyce Graves cantou Deep River e American Anthem, lembrando o amor que a juíza tinha pela ópera. “Ela queria ser uma cantora de ópera, mas se tornou uma estrela de rock”, disse no primeiro dia de homenagens o presidente da Suprema Corte, John Roberts.
Durante a cerimônia, a rabina Lauren Holtzblatt, da Congregação Adas Israel em Washington, destacou a ascensão de Ginsburg até o cargo mais alto ao qual um juiz pode aspirar nos Estados Unidos: a Suprema Corte, a última instância judicial do país, responsável por moldar os direitos da sociedade. “A justiça não veio como um raio, e sim através de uma persistência tenaz, todos os dias de sua vida”, assinalou Holtzblatt. “A mudança real, a mudança duradoura, acontece pouco a pouco”, acrescentou, citando uma das frases célebres da juíza. A rabina convidou o povo a dar continuidade a seu legado, a se levantar, apesar da dor. “Ela foi nosso profeta, nossa estrela guia, nossa força durante tanto tempo. Agora, devemos permitir que descanse, depois de trabalhar tão duro por cada um de nós”, afirmou.
Além dos cidadãos anônimos que foram à Suprema Corte para homenagear a lenda da Justiça americana e ícone do feminismo, vários políticos, tanto democratas como republicanos, fizeram o mesmo. Entre eles o presidente Donald Trump, que compareceu com sua mulher. Enquanto estiveram alguns minutos de pé diante do caixão de Ginsburg, coberto por uma bandeira dos EUA, pessoas reunidas no local gritavam “votem para tirá-lo!” e “honre seu desejo”. Antes de morrer, a magistrada manifestou por escrito o desejo de que seu sucessor fosse indicado pelo mandatário que vencer as próximas eleições presidenciais, em 3 de novembro. Mas Trump, apenas 24 horas depois do anúncio da morte da magistrada, disse que nomeará uma mulher para preencher a vaga.
A câmara-ardente da ativista dos direitos civis dos afro-americanos Rosa Parks também foi instalada no amplo espaço circular sob a abóbada do Congresso. No entanto, no caso da juíza Ginsburg, é uma homenagem de Estado. Desde 1852, 38 pessoas receberam esse reconhecimento, considerado uma das maiores honrarias do protocolo americano. Não existem regras definidas sobre quem pode ser velado no Capitólio. Isso é determinado pelos congressistas e, depois, deve ser aceito pela família da pessoa falecida.
Na próxima semana, a magistrada será enterrada ao lado do corpo de seu marido, Martin Ginsburg, em uma cerimônia privada no Cemitério Nacional de Arlington. Seu grande companheiro de vida desde que se conheceram na universidade, aos 18 anos, morreu em 2010.
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