_
_
_
_

Casa natal de Che: vende-se

O apartamento em Rosário, onde o guerrilheiro nasceu em circunstâncias confusas, é oferecido após falhar a tentativa de criar um memorial

Enric González
Pequena escultura de Ernesto 'Che' Guevara no apartamento em que nasceu, em Rosário, Argentina.
Pequena escultura de Ernesto 'Che' Guevara no apartamento em que nasceu, em Rosário, Argentina.MARCELO MANERA (AFP)
Mais informações
Casa Museu de Ernesto Che Guevara em Alta Gracia
El Che, um argentino incômodo
Multidão de turistas contempla os afrescos
Quando Che Guevara deitou no chão da Capela Sistina
Ernesto ‘Che’ Guevara lendo no Congo em 1965.
Che Guevara, um leitor compulsivo em plena selva

A casa natal de Ernesto Che Guevara está à venda. Trata-se de um apartamento de mais de 200 metros quadrados em um dos edifícios mais elegantes de Rosário. Os proprietários pedem 400.000 dólares (cerca de 2,15 milhões de reais). Queriam transformar a residência em um espaço cultural, mas os vizinhos bloquearam o projeto. Ninguém sabe o que vai acontecer agora. O edifício de estilo francês localizado na esquina das ruas Urquiza e Entre Ríos foi construído em 1927 por Alejandro Bustillo, o mais célebre arquiteto argentino.

Era praticamente novo em 1928, quando Celia de la Serna deu à luz seu primeiro filho nesse apartamento no segundo andar. As circunstâncias são confusas. Por que Celia de la Serna e Ernesto Guevara Lynch, residentes de uma fazenda agrícola em Caraguatay (Misiones) e em Buenos Aires, estavam em Rosário? Mesmo a data oficial de nascimento, 14 de junho, está em questão.

Segundo a versão oficial, os pais do futuro guerrilheiro estavam viajando da fazenda para a capital pelo rio Paraná quando ela começou a sofrer as dores do parto e tiveram que deixar a embarcação em Rosário. John Lee Anderson, biógrafo de Che, oferece uma explicação alternativa e que se opõe à da própria família. Como a gravidez começou três meses antes do casamento, o casal de classe alta preferiu se esconder em uma cidade onde não eram conhecidos. A data real de nascimento seria, na realidade, 14 de maio, mas eles só foram ao cartório em 14 de junho, para que a criança pudesse passar por nascida de sete meses.

O pequeno Ernesto Guevara morou bem poucos meses no apartamento de Rosário. Em dezembro de 1928, a família já residia em Buenos Aires e, anos depois, em Córdoba. A lembrança do local de nascimento do revolucionário foi apagada com o passar do tempo. Mas, após a queda da última ditadura militar, em 1983, foi reavivada. A proprietária do apartamento, de sobrenome Repetto, começou a receber visitantes ilustres. Em 2002, após o colapso econômico da Argentina, o empresário ítalo-argentino Francisco Farruggia viu no Corriere della Sera um anúncio da venda da casa onde nasceu Che. Em parceria com o empresário espanhol Manuel de la Rica (chefe de publicidade do EL PAÍS nos anos 80), ele encarregou o advogado local Horacio Baldoni de comprar o apartamento. E este fez isso.

Farruggia e De la Rica tinham grandes projetos para a residência. Queriam criar um centro cultural e envolveram pessoas ilustres de Rosário, como o escritor Roberto Fontanarrosa e a cantora Mercedes Sosa. Mas Fontanarrosa morreu em 2007, Sosa, em 2009, e os moradores do prédio se recusaram a aceitar a abertura de um museu ou centro cultural no local. Com o apartamento transformado em um santuário, cheio de fotos icônicas, mas sem possibilidade de acesso ao público em geral, apenas alguns privilegiados puderam visitá-lo nos últimos 18 anos. Pessoas como os próprios filhos de Che, o bioquímico Alberto Granado (que morreu em 2011), com quem o jovem Che percorreu de motocicleta a América Latina, e o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. O escritor Ernesto Sábato foi convidado, mas preferiu ficar no portal da rua, diante da placa comemorativa, como qualquer cidadão que percorre o chamado “circuito Che” em Rosário.

Os dois proprietários dizem que já se sentem idosos e querem se livrar de um apartamento vazio e caro de manter. Francisco Ferruggia disse à Infobae que já haviam recebido várias ofertas e que, apesar de não poderem fazer exigências ao futuro comprador, favoreceriam quem se comprometesse a preservar "a memória histórica do apartamento".

A agência imobiliária apresenta assim a residência: “Um edifício de categoria, com estética elegante de época. Possui um hall de recepção, um amplo living, sala de estar com espaço de trabalho, cozinha separada com móveis debaixo da bancada e despensa, sala de jantar. Quatro dormitórios amplos com guarda-roupas, banheiro completo. Calefação central”. Não faz referência a quem nasceu naquele “edifício de categoria”.

Erramos: A quantia de 400.000 dólares equivale a cerca de 2,15 milhões de reais, e não bilhões, como informado incorretamente em versão anterior deste texto.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_