Senado italiano autoriza que Salvini seja julgado por bloquear navio com imigrantes

Justiça italiana deve decidir sobre processo contra o ex-ministro ultradireitista do Interior por paralisar em 2019 o desembarque de 131 pessoas resgatadas em alto-mar

O líder da extrema direita italiana Matteo Salvini em um evento em Roma, nesta quinta-feira, 13.GUGLIELMO MANGIAPANE (Reuters)

Terminou o teatro político ao redor do possível julgamento contra o líder ultradireitista Matteo Salvini por tentar impedir que um navio repleto de imigrantes atracasse na Itália, em julho do ano passado. O Senado italiano aprovou nesta quarta-feira a autorização para a abertura de um processo judicial contra o ex-ministro do Interior e líder do partido Liga. A Câmara suspenderá a imunidade parlamentar do hoje senador, o que abre caminho para que o juiz do caso o leve ao banco dos réus. Como se esperava, foram 152 votos a favor da cassação da imunidade e 76 contrários, dos partidos Força Itália e Irmãos da Itália, os sócios conservadores da Liga.

O ex-ministro do Interior, investigado por um suposto sequestro de pessoas ao não permitir o desembarque de 131 imigrantes que chegaram a bordo de uma embarcação militar italiana em julho passado, decidiu renunciar à sua imunidade para ser processado. Além disso, pediu a seus representantes na CPI do caso que votassem a favor de enviá-lo a julgamento. O líder da Liga considerou que será beneficiado nas próximas eleições regionais com a publicidade em torno do eventual um processo – do qual dificilmente escaparia de qualquer forma – e por trazer de volta ao debate público o tema migratório, diluído desde que deixou o Governo, no ano passado. Faltava, no entanto, o trâmite parlamentar realizado na tarde desta quarta.

Mais informações
Espanha oferece porto para navio com imigrantes rejeitados pela Itália, mas ONG recusa
Detida capitã de barco de migrantes que desafiou Salvini
Itália anuncia que fechará seus portos a barco de resgate com 600 migrantes

Os senadores da Liga se ausentaram do plenário em protesto por uma votação que viam perdida de antemão. A maioria governista (dos partidos Itália Viva, PD e Movimento 5 Estrelas) votaram em bloco a favor de revogar a imunidade do político ultradireitista. Salvini aproveitou para continuar com seu discurso propagandístico anti-imigratório, mais necessário do que nunca para ele depois da derrota na Emilia Romana e da ascensão de outros partidos ultradireitistas, como o Irmãos da Itália. “Não virei a este plenário para me defender, e sim para reivindicar com orgulho o que fiz”, declarou. Como de hábito, valeu-se da retórica emotiva citando seus filhos: “Eles têm o direito de saber que, se seu pai estava frequentemente longe de casa, não era para sequestrar pessoas, e sim para defender as fronteiras e a segurança do país” – uma ideia que depois salientou citando o poeta norte-americano Ezra Pound, ídolo de um dos partidos neofascistas da Itália, o Casa Pound. “Se um homem não estiver disposto a lutar por suas ideias, ou suas ideias não valem nada, ou é ele que não vale nada”, publicou, junto a uma foto sua.

Salvini foi acusado pela Justiça de Catania (Sicília) de “abuso de poder e sequestro forçado de pessoas”, crime punido com até 15 anos de prisão e que o impediria de exercer cargos públicos. Durante seu pronunciamento, entretanto, prometeu manter “a cabeça erguida e a consciência tranquila de quem defendeu sua terra e sua gente”.

O tribunal especial para ministros agora devolverá o caso à Justiça comum. O novo trâmite permitirá recuperar a retomada do caso pelo Ministério Público de Catania, propenso no passado a arquivar o caso, e que terá agora que se pronunciar e apontar ao juiz que crimes solicita que lhe sejam imputados.

Os processos por sua atuação como ministro contra as ONGs que trabalham para ajudar migrantes no Mediterrâneo se acumulam sobre a mesa de Salvini. O líder da Liga também deverá confrontar outro trâmite semelhante pelo bloqueio durante 20 dias do navio da ONG espanhola Proactiva Open Arms com 150 imigrantes. A situação será exatamente a mesma, e a Câmara Alta começará a avaliar a partir do final de fevereiro, novamente, se cassará sua imunidade.

Mais informações

Arquivado Em