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Em busca do ouro inédito, Marta e Formiga comandam goleada brasileira em estreia olímpica contra a China

Depois da última medalha olímpica, em 2008, Brasil viu outras seleções assumirem o protagonismo no futebol feminino. Agora, aposta é na treinadora Pia Sundhage e nas veteranas para reconquistar espaço. Na estreia, goleada por 5 a 0 e show da camisa 10

Marta comemora com Andressinha, Debinha e Duda um gol brasileiro na estreia.
Marta comemora com Andressinha, Debinha e Duda um gol brasileiro na estreia.AFP
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Os Jogos Olímpicos, para o futebol feminino, são tão grandes —ou maiores— do que uma Copa do Mundo. É com esse espírito que a seleção brasileira feminina, treinada por Pia Sundhage e capitaneada por Marta, vai a Tóquio em busca da primeira medalha de ouro da sua história. As duas últimas edições olímpicas, nas quais o Brasil terminou fora do pódio, e uma eliminação nas oitavas no último Mundial mostram que a missão será difícil mas, com a melhor jogadora de todos os tempos e uma treinadora vencedora, a chance de terminar entre os três primeiros existe. O começo da caminhada foi o melhor possível: em Miyagi, na manhã desta quarta-feira (21), a seleção venceu a China por 5 a 0 na estreia olímpica, pela 1ª rodada do grupo F. Marta foi quem comandou a goleada, com dois gols, e Debinha, Andressa Alves e Bia Zaneratto também marcaram. Apesar do placar elástico, outro grande destaque brasileiro foi a goleira Bárbara, que impediu a reação chinesa nos piores momentos do Brasil na partida. O próximo compromisso das brasileiras é no sábado, às 8h (horário de Brasília), contra a Holanda, uma das seleções favoritas à medalha de ouro.

Depois de fracassar na Copa do Mundo de 2019 com a mesma equipe técnica que terminou sem medalhas nas Olimpíadas do Rio em 2016, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) resolveu trocar o comando da seleção feminina. Saíram o treinador Vadão e o coordenador Marco Aurélio Cunha e entraram a técnica sueca Pia Sundhage e a coordenadora Duda Luizelli. A ex-capitã do Brasil, Aline Pellegrino, ainda assumiu a diretoria de futebol feminino da entidade. O crescimento da representatividade feminina nos bastidores da seleção não foi à toa e se refletiu também na comissão técnica. Em 2016, nenhuma mulher fazia parte da equipe de nove profissionais de Vadão. Em 2019, eram duas. Já em 2021, são seis mulheres e sete homens que viajaram a Tóquio.

A própria escolha por Pia, ainda em 2019, revela o objetivo da CBF com as Olimpíadas. A sueca é a maior vencedora a ocupar o cargo de treinadora do Brasil. Com ela no comando, a seleção brasileira teve 18 amistosos disputados em dois anos, com 11 vitórias, cinco empates e duas derrotas —estas para a França, em março de 2020, e para os EUA, em fevereiro de 2021. Aos 61 anos, Pia tem na bagagem três medalhas olímpicas nos últimos três Jogos: ouro com os Estados Unidos em 2008 e 2012, e prata com a Suécia em 2016, quando treinou uma equipe que não era favorita a chegar na final, realidade parecida com a brasileira em 2021. E, em duas das oportunidades, as conquistas de Sundhage vieram com vitórias em cima do Brasil. Em 2008, ela derrotou as brasileiras na final e, em 2016, passou pelo time de Vadão nas semifinais, quando a equipe brasileira jogava em casa.

Entre as convocadas, o nome que mais salta aos olhos é o de Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA. É ela a camisa 10 e capitã que comanda as brasileiras dentro de campo em sua quinta Olimpíada. Aos 35 anos, a craque jogou apenas nove vezes pelo seu time, o Orlando Pride, em 2021, e chega em boas condições físicas para Tóquio-2021. Do seu lado, o outro nome histórico é Formiga, que vai para sua sétima Olimpíada —um recorde entre atletas brasileiras e jogadoras de futebol. Com 43 anos e 20 partidas pelo PSG na última temporada, a nova contratada pelo São Paulo também se tornará a jogadora de futebol mais velha a disputar um Jogos Olímpicos e, antes da viagem, demonstrou confiança no time montado por Pia Sundhage. “Quem convive com ela (Pia) sabe o que estamos evoluindo, e temos condições de evoluir ainda mais. Temos que nos cuidar, buscando melhor performance, porque não vamos ter muito tempo para trabalhar”, destacou a volante.

Nenhuma das duas, porém, atuou tanto com Pia quanto Debinha, camisa 10 do North Carolina Courage. A atacante de 29 anos foi a única a entrar em todos os jogos do Brasil sob o comando da sueca e é também a artilheira com a treinadora, tendo marcado 12 dos 49 gols feitos pela seleção. Outro pilar da equipe, a volante Luana, do PSG, só ficará de fora da equipe porque sofreu uma lesão no ligamento do joelho na França. Ela deve ser substituída no time titular por Andressinha, do Corinthians, que forma a dupla de volantes com Formiga.

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Na defesa, a titular é a goleira Bárbara, do Avaí/Kindermann que há anos usa a camisa 1 da seleção. A lateral-direita levanta dúvidas: pode ser Letícia Santos, do Eintracht Frankfurt; Poliana, do Corinthians; ou Bruna Benites, do Internacional. O resto da defesa está consolidado por Erika (Corinthians), Rafaelle (Palmeiras) e Tamires (Corinthians), lateral-esquerda que é um dos pontos fortes do Brasil. No ataque, Ludmila (Atlético de Madrid) e Bia Zaneratto (Palmeiras) devem acompanhar Debinha. No banco de reservas, o nome mais conhecido é de Andressa Alves, atacante da Roma. Cristiane, por outro lado, a artilheira da seleção na última Copa, foi a ausência mais sentida da lista final de convocadas olímpicas.

Em seu histórico olímpico, a seleção brasileira bateu na trave nas duas vezes em que disputou a final, ambas para os Estados Unidos, em Atenas-2004 e Pequim-2008. Os resultados marcaram a melhor geração que o Brasil já teve na modalidade, tanto que são até hoje as únicas medalhas conquistadas. Desde então, não só as brasileiras não repetiram o desempenho como também outras seleções evoluíram, como comprova hoje o 9º lugar que o Brasil ocupa no ranking mundial da FIFA. Se antes somente Alemanha e EUA eram páreos para as brasileiras a nível internacional, temos hoje a seleção da Holanda vice-campeã do mundo e a Suécia prata nos últimos Jogos, além de equipes fortalecidas na Inglaterra, Canadá e Austrália, países onde o futebol feminino foi muito fomentado recentemente e conta com uma estrutura melhor do que a brasileira.

Ao menos a confiança está do lado brasileiro. “As meninas estão se cuidando e realmente querem, temos agora que fazer por onde. São grandes as chances de trazer essa medalha. Sinto que desta vez o ouro vem para o Brasil”, discursou Formiga. “Estou muito feliz com a forma como as jogadoras responderam. Demos o melhor de cada uma, e acho que estamos muito bem preparadas”, reforçou Pia. Na saga pelo ouro, o Brasil estreia contra a China e pega uma das favoritas, a Holanda, e a Zâmbia ainda na primeira fase. Se classificar às quartas de final, o Brasil pode ter pela frente tanto as seleções do grupo E, onde a Grã-Bretanha é favorita e Japão e Canadá brigam pelo segundo lugar, quanto do grupo G, no qual os Estados Unidos devem passar em primeiro, deixando a vice-colocação com Austrália ou Suécia.

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