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Um tsunami de silêncio e angústia atinge a Argentina após a morte de Maradona

Partida do astro provoca uma enxurrada de sofrimento e luto pelas ruas de Buenos Aires e no restante do país

Homem chora após a notícia da morte de Maradona, próximo ao estádio La Bombonera, do Boca Juniors, em Buenos Aires.

A Argentina entrou nesta quarta-feira em uma pandemia de tristeza. A morte de Diego Armando Maradona, um jogador transformado em herói nacional, provocou uma enxurrada de sofrimento e luto pelas ruas de Buenos Aires e no restante do país. Foi como se uma parte da Argentina se apagasse junto com seu ídolo. O Governo nacional decretou três dias de luto e os fanáticos da Igreja Maradoniana convocaram uma concentração nesta noite no Obelisco portenho, epicentro das grandes manifestações argentinas, à espera do início do velório, que deverá ser realizado na Casa Rosada, a sede do Governo argentino.

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O jogador de futebol Diego Armando Maradona, no programa de televisão cubano 'La hora 10' com o então presidente Fidel Castro, em 2006.
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A man takes a photograph of a mural emblazoned with an image of Diego Maradona in Buenos Aires, Argentina, Wednesday, Nov. 25, 2020. The Argentine soccer great who was among the best players ever and who led his country to the 1986 World Cup title before later struggling with cocaine use and obesity, died from a heart attack on Wednesday at his home in Buenos Aires. He was 60. (AP Photo/Natacha Pisarenko)
Só Maradona viveu, sentiu e sofreu como o povo que o endeusou
Uno de los altares dedicados a Maradona en el centro de Nápoles.
Sócrates, Che e Maradona, orai por ‘nosotros’

“Diego será um desses personagens que nunca morrem. Foi imenso e nos encheu de alegria”, disse ao meio-dia o presidente do país, Alberto Fernández, que também chamou de “incrível” o fato da morte do ídolo ter ocorrido em 25 de novembro, o mesmo dia do falecimento da maior referência política de Maradona, o líder cubano Fidel Castro.

Silêncio e angústia

Ao meio-dia de quarta-feira, minutos depois da imprensa e as redes sociais começarem a confirmar a notícia, um estranho tsunami de silêncio e de angústia começou a varrer as cidades do país. “É verdade que Maradona morreu?”, perguntavam com incredulidade os mais velhos aos mais jovens, a quem viam conectados a celulares.

Pessoas de meia idade, a geração maradoniana que o viu no esplendor da Copa do México em 1986, foi a mais abalada pela comoção. Homens sentados no meio fio, com seus olhares perdidos e lágrimas nos olhos, se tornaram uma imagem fácil de detectar em uma Buenos Aires em que até as buzinas dos taxistas deixaram de soar.

“É o maior da história, e é nosso”, disse no tempo presente, como se não aceitasse sua morte e como se desse as boas-vindas à imortalidade, um torcedor do Argentinos Juniors, primeiro time de Maradona, diante do estádio em que Maradona estreou na Primeira Divisão argentina, em 1976.

Sem saber para aonde ir, à espera da hora da maior concentração no Obelisco, muitos argentinos começaram a se reunir em diferente lugares da cidade. “Sequer podemos nos abraçar”, se queixou um torcedor, de máscara, em referência aos protocolos para evitar a infecção por coronavírus.

Enquanto algumas velas eram acessar diante do estádio Diego Maradona ―justamente o do Argentinos―, outro torcedor com a camiseta da seleção argentina foi à entrada do condomínio em que Maradona morreu, 50 quilômetros ao norte de Buenos Aires, e mal pôde articular uma frase antes de começar a chorar. “Barrilete (cometa) cósmico, voe tranquilo”, disse, se referindo à narração de rádio que descreveu seu segundo gol contra a Inglaterra no México em 86.

“Argentina sem Deus”, estava escrito na tela do canal Crónica TV, enquanto um de seus colegas da seleção argentina campeã do mundo, Sergio Batista, usou uma frase bem maradoniana para se referir à morte do ídolo. “Estou destruído, com um tiro no peito”, disse ele, justamente quem substituiu Maradona como treinador da seleção, em 2011.

Outro dos ex-campeões da Copa do México 86, Oscar Ruggeri, soube da morte de Maradona quando estava ao vivo em um programa de televisão. Depois que o jornalista informou “me dizem que Diego não resistiu”, o ex-zagueiro disse “Não pode ser, não pode ser”. O ex-treinador da Argentina, César Luis Menotti, responsável pela estreia de Maradona na seleção em 1977, quando Diego só tinha 17 anos, usou palavras semelhantes: “Estou destruído”.

Em meio ao luto, o time de coração de Maradona, o Boca Juniors, no Brasil para jogar nesta noite as oitavas-de-final da Copa Libertadores contra o Inter de Porto Alegre, pediu à Conmebol que a partida fosse adiada. As autoridades do futebol sul-americano aceitaram a solicitação da equipe argentina e a partida será disputada em 2 de dezembro.

Em meio ao luto, o que estava claro era que uma grande parte da Argentina se preparava para uma quarta-feira em que centenas de milhares dormirão muito pouco. A despedida de Maradona durará vários dias.

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