Esporte mundial está ‘em quarentena’ por causa do coronavírus
Ministério da Saúde da Espanha recomenda que duas partidas sejam disputadas com portões fechados, enquanto UEFA e COI esperam realizar a Eurocopa e os Jogos Olímpicos durante o verão no hemisfério norte
Depois dos primeiros cancelamentos e suspensões de eventos esportivos devido ao coronavírus em países como China, Japão, Qatar e Itália, os efeitos também chegaram às praças esportivas da Espanha. O ministro da Saúde, Salvador Illa, anunciou na terça-feira que seu departamento recomenda realizar com portões fechados as competições envolvendo equipes das regiões consideradas de risco: norte da Itália, Irã, China, Japão, Coreia do Sul e Cingapura. Em seguida, Illa assumiu que as comunidades autônomas em cujo território esses eventos estão programados acatarão a recomendação e que, portanto, ao menos os seguintes jogos de futebol serão disputados sem público: em 10 de março, Valencia x Atalanta, pela Champions League; em 19 de março, Getafe x Inter pela Europa League. Também há ao menos dois jogos de basquete afetados: nesta quinta-feira, 5 de março, Valencia x Armani Milan pela Euroliga e, em 19 de março, Girona x Venezia pela Eurocup feminina.
“Não faz sentido que grandes grupos de pessoas venham de lugares onde essas mesmas competições esportivas foram restringidas”, disse Illa, referindo-se, por exemplo, ao Armani Milan x Real Madrid pela Euroliga, disputado nesta terça-feira sem público.
Isso não afeta os jogos das equipes espanholas nas três regiões em que ocorrem surtos sem controle (Torrejón, Vitória e Málaga). Tampouco as disputas em que não esteja prevista uma afluência maciça de pessoas vindas das regiões de risco. Illa deu o exemplo de um campeonato de tênis de mesa adaptado que será realizado entre os dias 5 e 8 de março em Girona, do qual 10 italianos participarão. “Enquanto for um número em que os contatos possam ser rastreados e controlados, poderão ser realizados com portões abertos”, especificou o ministro.
A decisão, anunciada pelo ministério depois de estudá-la com as comunidades autônomas e com o Conselho Superior de Esportes (CSD na sigla em espanhol), foi recebida com cautela pela UEFA, organizadora da Champions League e da Europa League: “Não temos nada a dizer por enquanto, apenas que estamos em contato com todos os clubes e autoridades e que, se for necessário fazer algum anúncio, será feito em seu devido tempo”, afirmaram fontes oficiais.
Nesta terça-feira o organismo europeu estava imerso em outra incerteza maior, depois que o presidente da FIFA, Gianni Infantino, sugeriu em entrevista à agência Reuters que não se poderia descartar o cancelamento da Eurocopa 2020, prevista para o período de 12 de junho a 12 de julho em doze cidades europeias. Aleksander Ceferin, seu colega da UEFA, com quem a FIFA mantém uma disputa pelo controle do calendário internacional do futebol, negou a incerteza nesta terça-feira em Amsterdã: “Não li a entrevista, mas li a manchete e falei com Infantino agora. Ele me disse que nunca disse isso”, afirmou Ceferin. “Vamos tentar ser otimistas. Organizamos uma competição que será realizada em doze países. Temos preocupações relacionadas à segurança, preocupações com a instabilidade política, e uma das preocupações é o vírus. Estamos lidando com isso e estamos confiantes”, acrescentou o principal dirigente do futebol europeu, que explicou que não há data limite para decidir sobre a realização do evento.
Incerteza sobre Tóquio 2020
Nos últimos dias também surgiram dúvidas sobre o futuro dos Jogos Olímpicos de Tóquio, programados de 24 de julho a 9 de agosto em uma região atualmente de maior risco que o território europeu, e onde vários eventos esportivos foram cancelados nas últimas semanas. Embora não tenha sido oficialmente definido, começa a se perfilar uma data limite para decidir sobre a realização dos Jogos, conforme explicou na terça-feira a ministra japonesa do evento, Seiko Hashimoto, ao parlamento de seu país: “Um membro do COI [Dick Pound] disse que o fim de maio é a data limite para tomar uma decisão. Penso, portanto, que o final de maio é uma etapa importante”, afirmou.
Em seu comparecimento ao parlamento, Hashimoto também sugeriu a possibilidade de os Jogos serem realizados em datas diferentes das previstas. Trata-se de uma saída legal: “Se relermos o contrato, constataremos que o artigo 66 estipula que o COI tem o direito de cancelar os Jogos”, entre outras coisas, “caso não sejam organizados em 2020”, explicou, no momento em que seu país fechou a maioria das escolas públicas por um mês.
No entanto, em suas declarações oficiais, o Governo japonês e o Comitê Olímpico Internacional ainda mantêm a confiança de que o evento olímpico será realizado de acordo com o calendário planejado.
“Não há razão para que os Jogos de Tóquio 2020 não comecem, como está previsto, em 24 de julho”, disse Markn Adams, porta-voz do COI, depois da realização de uma reunião do comitê executivo do organismo em Lausanne. “Gostaria de dar-lhes uma boa história, mas não há motivos para que os Jogos não comecem em 24 de julho, conforme está previsto”, acrescentou.
Pouco antes, a instituição havia divulgado um comunicado reiterando essa posição e colocando-se nas mãos das autoridades de saúde: “O COI continuará seguindo o conselho da OMS [Organização Mundial da Saúde], como a agência da ONU que lidera este assunto”.