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Por que o trabalho brasileiro de decifrar o genoma do coronavírus é crucial contra a epidemia

Pesquisadores das universidades de São Paulo e Oxford divulgam a sequência completa do vírus que afeta paciente que viajou à Lombardia e é diferente do patógeno de Wuhan

Um médico segura ampola com amostra do coronavírus detectado na Itália.
Um médico segura ampola com amostra do coronavírus detectado na Itália.MATTEO CORNER (EFE)
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Coronavírus na América Latina: poucos casos e muita preocupação

Menos de 48 horas depois do primeiro caso de coronavírus da América Latina ter sido confirmado no Brasil em 26 de fevereiro, pesquisadores das universidades de São Paulo e Oxford (Grã Bretanha) divulgaram a sequência completa do genoma do vírus que afeta o paciente. A análise genética foi realizada a partir de uma amostra do paciente infectado, um homem de 61 anos que mora na cidade de São Paulo, com diagnóstico confirmado de síndrome respiratória aguda severa do tipo 2 (SARS-CoV-2) ―os pesquisadores também decifraram o código genético do segundo caso diagnosticado no Brasil, e descobriram que é diferente do primeiro.

O paciente viajou à região da Lombardia, norte da Itália, e em sua volta ao Brasil apresentou sintomas respiratórios como febre, tosse seca, dor de garganta e resfriado. De acordo com os pesquisadores, essa é a primeira análise completa do genoma do vírus responsável pela infecção na Lombardia, considerado um dos pontos mais importantes de transmissão do vírus na Europa. A análise indica que o genoma do vírus do Brasil apresenta diferenças em relação ao genoma de referência obtido na cidade de Wuhan, na China, epicentro da epidemia, e é mais próximo ao genoma do vírus identificado em uma paciente na Alemanha, em 28 de janeiro.

A análise indica que o genoma do vírus do Brasil apresenta diferenças em relação ao genoma de referência obtido na cidade de Wuhan, na China, epicentro da epidemia, e é mais próximo ao genoma do vírus identificado em uma paciente na Alemanha

“O monitoramento contínuo de novos casos suspeitos será crítico para vigiar as novas importações de vírus no Brasil e para identificar grupos iniciais de transmissão local no país”, disseram os autores, liderados por Ester Sabino e Jaqueline Goes de Jesus. A pesquisadora Ana Teresa Vasconcelos, do Laboratório Nacional de Computação Científica, no Rio de Janeiro, que não participou do estudo, elogiou a iniciativa: “A sequência do genoma gerada pelos pesquisadores brasileiros menos de 48 horas depois do diagnóstico demonstra que temos capacidade de agir em tempo real para enfrentar diversos tipos de epidemias”, disse ao SciDev.Net.

“O vírus que está circulando na Itália ainda não havia sido sequenciado, ou seja, os dados foram gerados no Brasil antes do que na Itália”, disse. E acrescentou: “A identificação do genoma viral é importante à comunidade científica internacional e brasileira pois permite acompanhar as modificações que o vírus pode sofrer com o tempo e em diferentes países; além de ajudar a compreender como o vírus está se dispersando pelo mundo, esse tipo de informação é útil ao desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos”. Os dados foram publicados em 28 de fevereiro no site Virological.org, um fórum de discussão de especialistas em virologia e epidemiologia.

“Lá foi lançado o primeiro genoma do novo coronavírus e onde foram discutidos os primeiros dados do vírus zika e Ebola. Muitos pesquisadores e especialistas em saúde pública de todo o mundo promovem a difusão de dados e compartilham conhecimento através dessa plataforma”, disse ao SciDev.Net Nuno Faria, da Universidade Oxford, um dos autores do estudo. Faria também é um dos coordenadores do Centro Conjunto Brasil-Grã Bretanha para a Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDEC), junto com Ester Sabino, da Universidade de São Paulo.

“Vivemos em um mundo global em que compartilhar informação e conhecimento durante surtos epidêmicos, especialmente em emergências de saúde pública, é crucial para que tenhamos respostas para o controle rápido desses surtos”, afirmou o especialista. “Acho que precisamos de bons recursos para permitir o diálogo, as colaborações e a troca de informações porque somente trabalhando juntos podemos encontrar soluções mais rápidas aos problemas de saúde pública”, concluiu. O genoma do vírus foi gerado no Instituto Adolfo Lutz no âmbito do CADDEC.

Este artigo foi publicado na segunda-feira 2 de março no SciDev.Net América Latina

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