Alex, camaronês, foi estuprado pelo tio aos 13 anos. Saiu de casa e foi trabalhar
Alex, camaronês, foi estuprado pelo tio aos 13 anos. Saiu de casa e foi trabalharGorka Postigo

Refugiados LGBTQIA+ recuperam a dignidade longe de casa

Em seus lugares de origem foram humilhados por sua identidade de gênero ou por serem homossexuais. Em 69 países isso é castigado e em 6 há pena de morte. São refugiados LGBTQIA+, acolhidos na Espanha pela ONG Rescate. Longe de casa, reencontraram sua dignidade. E o fotógrafo Gorka Postigo os retratou

Tom C. Avendaño Fotografia de Gorka Postigo
Madri -
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Brussels (Belgium), 24/06/2021.- Hungary's Prime Minister Viktor Orban (C) arrives for a European Union leaders meeting in Brussels, Belgium, 24 June 2021. EU leaders meet in Brussels for two days to discuss COVID-19, economic recovery, migration and external relations. (Lanzamiento de disco, Bélgica, Hungría, Bruselas) EFE/EPA/JOHANNA GERON / POOL
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Henrik, um salvadorenho de 35 anos, esperou completar 27 para anunciar à família que era um homem trans. “Minha família é católica, conservadora, não sabia se iriam me aceitar. Em primeiro lugar, queria ter minha independência financeira para me sustentar caso me rejeitassem, mas também esperei para ter a força do que iria me doer se isso acontecesse”, explica hoje. Sua mãe não teve problemas. “Ela me disse: ‘Eu te amo, mas tenho medo das consequências.’” Tinha razão. As gangues que comandam certas comunidades de El Salvador o perseguiram e extorquíram até que, em 2019, teve de sair do país. “É muito forte porque... teve uma parte da sociedade que me aceitou. Minha família, no trabalho, gostavam de mim como eu era”, lamenta Henrik, com a voz trêmula, sentado em um escritório em Madri. “Mas vêm esses delinquentes que se enraizaram nos preconceitos, que nos encaram como abominações, que é como nos chamam, abominações, e é uma coisa muito forte. Ter de se afastar da família por esse tipo de coisa.”

Henrik é um caso arquetípico do tipo de refugiado que mais cresceu na Espanha nos últimos anos: o refugiado LGBTQIA+ (sigla de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou travestis, queer, intersexuais, assexuais e outras identidades de gênero ). “É um duplo trauma: aquele que envolve a fuga de seu país, que une todos os refugiados, mais o sofrimento da perseguição por causa da identidade ou orientação sexual. Várias formas de xenofobia e racismo se juntam. Seu fardo é maior”, explica Cristina Bermejo, diretora da ONG Rescate, que atua na Espanha desde 1960 e é uma das poucas a atender expressamente as necessidades dos refugiados do LGBTQIA+. Em um mundo onde pertencer a esse grupo é crime em 69 países da ONU, punido com a morte em seis; onde 14 nações perseguem abertamente as pessoas trans e 42 Estados restringem a liberdade LGBTQIA+, o coletivo está assustadoramente desprotegido. “A Convenção de Genebra determina que se pode solicitar asilo por pertencer a um grupo social específico. Foi feita em 1951, não menciona especificamente as pessoas LGBTQIA+! Existem países que modificaram suas leis para incluí-los, mas não muitos.”

Henrik (El Salvador, 35 anos) e Tania (El Salvador, 24 anos). A única coisa que este casal fez foi sair para beber. “Alguns rapazes chegaram ao bar”, lembra ele. Membros de gangue, o quarto poder em El Salvador. Começaram a molestá-la, cis heterossexual. Viram que ele era trans. “Lá começaram a discutir conosco”, diz ela. Assediavam-na no supermercado. Pediam-lhe dinheiro, 200 euros por semana, para deixá-los viver. “Um amigo os ignorou. Apareceu em sua casa, em um banho de sangue, com um saco amarrado na cabeça e os genitais na boca”, lembra ele. Fugiram. “Aqui sou livre, mas vim com a dor de que lá me aceitavam. Minha mãe me aceitava. Meu pior pesadelo era ir embora e nunca mais vê-la. Em outubro me ligaram: tinha acabado de morrer.”
Henrik (El Salvador, 35 anos) e Tania (El Salvador, 24 anos). A única coisa que este casal fez foi sair para beber. “Alguns rapazes chegaram ao bar”, lembra ele. Membros de gangue, o quarto poder em El Salvador. Começaram a molestá-la, cis heterossexual. Viram que ele era trans. “Lá começaram a discutir conosco”, diz ela. Assediavam-na no supermercado. Pediam-lhe dinheiro, 200 euros por semana, para deixá-los viver. “Um amigo os ignorou. Apareceu em sua casa, em um banho de sangue, com um saco amarrado na cabeça e os genitais na boca”, lembra ele. Fugiram. “Aqui sou livre, mas vim com a dor de que lá me aceitavam. Minha mãe me aceitava. Meu pior pesadelo era ir embora e nunca mais vê-la. Em outubro me ligaram: tinha acabado de morrer.” Gorka Postigo

A Espanha o fez, em 2001. Desde então, dá amparo a inúmeras vidas que não podiam continuar em seus países. No último ano e meio, a ONG Rescate ajudou a trazer e inserir um jovem ugandense cuja bissexualidade lhe custou não o projeto político que estava desenvolvendo, mas suas próprias raízes africanas. Ou várias mulheres transexuais da América Latina, que foram forçadas à prostituição por falta de alternativas de trabalho, o que as levou a conviver com gangues em seus países e a uma vida de violência (e que de fato vivem na Espanha com cicatrizes físicas de armas de fogo ou queimaduras na pele). Ou uma pessoa não binária de Casablanca (Marrocos) que arriscava a vida cada vez que punha os pés na rua por causa de seu jeito de andar e de se expressar. Inúmeras histórias com o poder de lembrar a importância de amparar e proteger, mas não só. Também podem ajudar pessoas em situações semelhantes a encontrar uma saída.

“Não posso mudar a minha história, mas quero contá-la”, anuncia Alex, um camaronês de 20 anos que sofreu todo tipo de abusos, dentro e fora de casa, quando confessou sua homossexualidade à tia, a mulher encarregada de criá-lo. “Perdi a confiança dela e a minha em mim mesmo. Se minha própria tia, a pessoa mais próxima de mim, pode fazer isso comigo: me bater, me cortar com navalha e colocar pimenta no meu sangue para limpar minha homossexualidade... Mas talvez, se isso for visto por outra pessoa, ela pode reagir como eu reagi. Que não é tirar a própria vida, o que eu mesmo tentei várias vezes. Há um caminho. O que mais me interessa é isso, ajudar”.

Alex (Camarões, 20 anos). Os pais dessa pessoa não binária morreram cedo e ele foi morar com sua querida tia. Um dia, ela perguntou-lhe sobre garotas; ele respondeu que preferia os garotos: “Ela me tirou da escola e me fez vender suco na rua. Tudo mudou”, lembra. “Aos 13 anos, meu tio me estuprou.” Saiu de casa para trabalhar em um restaurante. Lá conheceu um rapaz, que se ofereceu para protegê-lo e dividir as despesas para fugirem juntos para a Europa. Estavam na Argélia quando discutiram. “Minha mãe me apareceu em sonhos. Me disse para ficar, que o mar estava perigoso. Contei o sonho ao meu namorado. Ele foi embora sem mim. Depois de duas semanas sem notícias, soube que ele havia morrido na viagem.”
Alex (Camarões, 20 anos). Os pais dessa pessoa não binária morreram cedo e ele foi morar com sua querida tia. Um dia, ela perguntou-lhe sobre garotas; ele respondeu que preferia os garotos: “Ela me tirou da escola e me fez vender suco na rua. Tudo mudou”, lembra. “Aos 13 anos, meu tio me estuprou.” Saiu de casa para trabalhar em um restaurante. Lá conheceu um rapaz, que se ofereceu para protegê-lo e dividir as despesas para fugirem juntos para a Europa. Estavam na Argélia quando discutiram. “Minha mãe me apareceu em sonhos. Me disse para ficar, que o mar estava perigoso. Contei o sonho ao meu namorado. Ele foi embora sem mim. Depois de duas semanas sem notícias, soube que ele havia morrido na viagem.” Gorka Postigo
Lali (Colômbia, 26 anos). A adolescência em Villavicencio, a sudeste de Bogotá, trouxe consequências imediatas para esta jovem: “Por ser mulher, você já é objeto de desejo. Quando é uma mulher assumidamente lésbica, é como se você lhes pusesse um doce. Você se torna um desafio e começam os assédios... Não me sentia segura no meu ambiente. Não tenho nada de errado, não preciso de um homem que me conserte. Que me faça mulher. Tudo isso desencadeou uma rejeição e me isolei. Tinha namorada, a distância, e comecei a afastá-la até que ela me deixou. Não queria ter contato com ninguém. Em algum momento me disseram: “Você não sai de casa, do seu quarto, tem de fazer alguma coisa”. Então o universo se alinhou e eu vim para a Espanha.”
Lali (Colômbia, 26 anos). A adolescência em Villavicencio, a sudeste de Bogotá, trouxe consequências imediatas para esta jovem: “Por ser mulher, você já é objeto de desejo. Quando é uma mulher assumidamente lésbica, é como se você lhes pusesse um doce. Você se torna um desafio e começam os assédios... Não me sentia segura no meu ambiente. Não tenho nada de errado, não preciso de um homem que me conserte. Que me faça mulher. Tudo isso desencadeou uma rejeição e me isolei. Tinha namorada, a distância, e comecei a afastá-la até que ela me deixou. Não queria ter contato com ninguém. Em algum momento me disseram: “Você não sai de casa, do seu quarto, tem de fazer alguma coisa”. Então o universo se alinhou e eu vim para a Espanha.”Gorka Postigo
Daniel (Uganda, 28 anos). “Algumas tradições africanas dizem que a homossexualidade é uma maldição que vem de um demônio e que se lava com sangue. Aprendi de pequeno que ser bissexual em Uganda significava viver na clandestinidade. Sua família, sua comunidade, seu Governo iriam te rejeitar. Tampouco pode confiar seus segredos a pessoas próximas: quando era jovem, fui a uma festa e chamaram a polícia. Quando era um pouco mais velho, entrei na política. Começaram os avisos, alguns inclusive da minha família, de que algo iria acontecer comigo. Efetivamente, me atacaram. Para limpar meu sangue. Fugi para Nairóbi, mas as comunidades estão muito bem conectadas. Era questão de tempo que me encontrassem. Tinha lido que na Europa havia direitos para os homossexuais. É muito difícil ser homossexual em Uganda.”
Daniel (Uganda, 28 anos). “Algumas tradições africanas dizem que a homossexualidade é uma maldição que vem de um demônio e que se lava com sangue. Aprendi de pequeno que ser bissexual em Uganda significava viver na clandestinidade. Sua família, sua comunidade, seu Governo iriam te rejeitar. Tampouco pode confiar seus segredos a pessoas próximas: quando era jovem, fui a uma festa e chamaram a polícia. Quando era um pouco mais velho, entrei na política. Começaram os avisos, alguns inclusive da minha família, de que algo iria acontecer comigo. Efetivamente, me atacaram. Para limpar meu sangue. Fugi para Nairóbi, mas as comunidades estão muito bem conectadas. Era questão de tempo que me encontrassem. Tinha lido que na Europa havia direitos para os homossexuais. É muito difícil ser homossexual em Uganda.” Gorka Postigo
Francesca (El Salvador, 30 anos). Conhece bem os problemas de ser mulher e trans em El Salvador. A prostituição como única saída: “Não me aceitavam em casa. Na universidade me excluíam. Nas entrevistas queriam que eu cortasse o cabelo, para ser homem, não ser eu”. As agressões: “Um dia eu estava indo com meu parceiro a um evento cultural e alguns rapazes nos jogaram tecidos em chamas. Queimaram-nos as roupas e a pele. Tenho essas cicatrizes na pele e no espírito”. E a impunidade: “Quando você vai denunciar, te dizem: ‘Você procurou isso por ser bicha, por ser como é’. E não investigam. Além disso, é assustador porque essa informação é vazada. Qualquer um pode ir te matar na sua casa. Depois a imprensa dirá que foi um acerto de contas.”
Francesca (El Salvador, 30 anos). Conhece bem os problemas de ser mulher e trans em El Salvador. A prostituição como única saída: “Não me aceitavam em casa. Na universidade me excluíam. Nas entrevistas queriam que eu cortasse o cabelo, para ser homem, não ser eu”. As agressões: “Um dia eu estava indo com meu parceiro a um evento cultural e alguns rapazes nos jogaram tecidos em chamas. Queimaram-nos as roupas e a pele. Tenho essas cicatrizes na pele e no espírito”. E a impunidade: “Quando você vai denunciar, te dizem: ‘Você procurou isso por ser bicha, por ser como é’. E não investigam. Além disso, é assustador porque essa informação é vazada. Qualquer um pode ir te matar na sua casa. Depois a imprensa dirá que foi um acerto de contas.” Gorka Postigo
José Antonio (Venezuela, 21 anos). “Quando você é gay e negro, as pessoas querem te ver menos.” Esse é o resumo que faz de seus 19 anos em Cabimas, Venezuela, onde vivia no armário, mas, ao mesmo tempo, assediado por sua pena. Que lhe gritassem na rua ou lhe atirassem ovos crus, era rotina. Em casa não dizia nada: não o aceitariam. Deixou de sair. “Só ia à casa da minha amiga, ir e voltar, 200 metros entre as duas. Voltava tarde, às duas da manhã, para não ver ninguém. Ainda assim, gritavam comigo. Um homem me parou e disse: ‘Vou te estuprar para que se torne um homem’. Saí correndo.” Não voltou a olhar para trás.
José Antonio (Venezuela, 21 anos). “Quando você é gay e negro, as pessoas querem te ver menos.” Esse é o resumo que faz de seus 19 anos em Cabimas, Venezuela, onde vivia no armário, mas, ao mesmo tempo, assediado por sua pena. Que lhe gritassem na rua ou lhe atirassem ovos crus, era rotina. Em casa não dizia nada: não o aceitariam. Deixou de sair. “Só ia à casa da minha amiga, ir e voltar, 200 metros entre as duas. Voltava tarde, às duas da manhã, para não ver ninguém. Ainda assim, gritavam comigo. Um homem me parou e disse: ‘Vou te estuprar para que se torne um homem’. Saí correndo.” Não voltou a olhar para trás. Gorka Postigo
Taira (Colômbia, 29 anos). Tudo mudou em uma manhã de 2016. “Estava em uma mercearia, comprando desodorante, quando um homem começou a me insultar. Eu disse: ‘Atire em mim, não? E, sem mais palavras, ele o fez. Olhei-me no espelho. A bala entrou pela bochecha, não quebrou nada. Eu mesma chamei a ambulância. De repente, vivia um medo horrível em meu país: aquele homem não era o único que podia me machucar. A lei não me protegeria”, lembra. Fugiu. “Ser trans é difícil. Você tem de ter colhões. É sair na rua e mostrar ao mundo quem você é. Você sabe muito bem que muitas pessoas, a maioria, têm uma vida dupla. Prefiro ser assim e receber socos e pontapés, mas ser o que sou.”
Taira (Colômbia, 29 anos). Tudo mudou em uma manhã de 2016. “Estava em uma mercearia, comprando desodorante, quando um homem começou a me insultar. Eu disse: ‘Atire em mim, não? E, sem mais palavras, ele o fez. Olhei-me no espelho. A bala entrou pela bochecha, não quebrou nada. Eu mesma chamei a ambulância. De repente, vivia um medo horrível em meu país: aquele homem não era o único que podia me machucar. A lei não me protegeria”, lembra. Fugiu. “Ser trans é difícil. Você tem de ter colhões. É sair na rua e mostrar ao mundo quem você é. Você sabe muito bem que muitas pessoas, a maioria, têm uma vida dupla. Prefiro ser assim e receber socos e pontapés, mas ser o que sou.” Gorka Postigo
Hamza (Casablanca, 24 anos). O Marrocos, onde um ato homossexual é um crime punível com até três anos de cadeia, pode ser uma prisão para gente como esta pessoa não binária que se sente atraída por homens e por usar saltos altos. “Todo dia lá é uma guerra. Em setembro de 2019, me atacaram fisicamente. Cerca de 10, 15 pessoas me cercaram, me chamando de zamel, zamel (bicha, bicha), e gravando tudo em vídeo. Peguei um táxi e fui para casa, onde não podia contar para ninguém. A saúde mental é outro tabu: se você tem um problema, dizem que está louco. Eu era comissário de bordo em uma companhia aérea e meus colegas deduraram minha sexualidade aos chefes, que me ofereceram ajuda psiquiátrica. Lá nunca me senti segura. Lá não posso ser a pessoa que quero ser.” GORKA POSTIGO
Hamza (Casablanca, 24 anos). O Marrocos, onde um ato homossexual é um crime punível com até três anos de cadeia, pode ser uma prisão para gente como esta pessoa não binária que se sente atraída por homens e por usar saltos altos. “Todo dia lá é uma guerra. Em setembro de 2019, me atacaram fisicamente. Cerca de 10, 15 pessoas me cercaram, me chamando de zamel, zamel (bicha, bicha), e gravando tudo em vídeo. Peguei um táxi e fui para casa, onde não podia contar para ninguém. A saúde mental é outro tabu: se você tem um problema, dizem que está louco. Eu era comissário de bordo em uma companhia aérea e meus colegas deduraram minha sexualidade aos chefes, que me ofereceram ajuda psiquiátrica. Lá nunca me senti segura. Lá não posso ser a pessoa que quero ser.” GORKA POSTIGOGorka Postigo
Nonardo (Cuba, 48 anos). É um rebelde. Teve de sê-lo para sobreviver na Havana dos anos setenta como garoto gay. “Como era afeminado, minha família, que me batia, me internou em uma escola rural. Tinha 13 anos, mas me colocaram na única turma que tinha vaga, na turma dos 19 anos. Sofri abusos sexuais, mentais e psicológicos todas as noites. E me rebelei. Tornei-me um aluno difícil. Comecei a fugir. Abandonei os estudos pouco depois.” Tornou-se artista. Rebelde, é claro, contra o Governo. “Em 2018, uma nova lei dava ao Governo o direito de entrar na minha casa e tomar minhas obras.” Começou a sofrer assédio. Um dia, em fevereiro, há dois anos, partiu para a Europa. Nunca mais voltou.
Nonardo (Cuba, 48 anos). É um rebelde. Teve de sê-lo para sobreviver na Havana dos anos setenta como garoto gay. “Como era afeminado, minha família, que me batia, me internou em uma escola rural. Tinha 13 anos, mas me colocaram na única turma que tinha vaga, na turma dos 19 anos. Sofri abusos sexuais, mentais e psicológicos todas as noites. E me rebelei. Tornei-me um aluno difícil. Comecei a fugir. Abandonei os estudos pouco depois.” Tornou-se artista. Rebelde, é claro, contra o Governo. “Em 2018, uma nova lei dava ao Governo o direito de entrar na minha casa e tomar minhas obras.” Começou a sofrer assédio. Um dia, em fevereiro, há dois anos, partiu para a Europa. Nunca mais voltou. Gorka Postigo

Créditos. Foto: Gorka Postigo. Estilismo: Carla Paucar. Set: Sofia Alazraki. Maquiagem: Miki Vallés. Agradecimentos: CAP, Pelonio, Camera Studio, Perfecto Madrid.


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