Para onde os brasileiros podem voar?
Destinos como Estados Unidos, Argentina e grande parte da Europa seguem com restrições a entrada de brasileiros. Locais liberados pedem testagem negativa ou quarentena na chegada
É sexta-feira de manhã, véspera de feriado, e o terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos parece não ter acordado. O saguão onde estão concentrados os balcões para fazer o check-in para voos internacionais está quase deserto, confirmando a queda brutal de passageiros e voos internacionais durante a crise causada pela covid-19. Em agosto ― último dado atualizado ―, quase seis meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado a pandemia do coronavírus, a demanda por voos internacionais continuava no chão, com queda de 92,1% em relação ao ano anterior, ao mesmo tempo em que a oferta de assentos recuou 82,2%. Em outubro, muitas fronteiras ainda continuam fechadas para o Brasil, que hoje ostenta o triste título de segundo país com maior número de mortes pelo coronavírus, com cerca de 154.000 óbitos pela doença.
A maioria das empresas aéreas cortou rotas internacionais para o país e as poucas ainda em atividade, com algumas exceções, estão sendo usadas em sua maioria por brasileiros que estão no exterior para voltar ao Brasil. Segundo uma lista publicada na página da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), existem cerca de 50 países e territórios que não têm restrições expressas a entradas de viajantes brasileiros a lazer, em voos que partem do Brasil. A maioria deles exige, no entanto, algum tipo de testagem negativa para covid-19 ou quarentena na chegada.
Mas destinos queridinhos dos brasileiros ―como por exemplo Estados Unidos, Argentina e grande parte da União Europeia ―ainda mantém restrições e, por ora, só permitem a entrada de viajantes com cidadania ou visto de residência permanente. E, em alguns casos, com alguma autorização do consulado do país do destino. Para entrar na Europa, um dos caminhos utilizados é via Reino Unido. Passageiros brasileiros podem entrar, mas precisam ficar 14 dias de quarentena ao chegar ao país.
Comprar uma passagem para algum destino internacional pela internet não garante que o brasileiro sairá do país caso haja restrições. Rodrigo Oliver, ator e produtor de 36 anos, teve que dar meia volta ao chegar no check in da Aerolíneas Argentinas. Com passagem comprada para Buenos Aires, ele e avó não foram autorizados a decolar, porque não possuíam nenhum documento argentino. Atualmente, só argentinos e residentes são autorizados a voar para o país. Oliver lamentou que a passagem que comprou na página da empresa Decolar não tivesse um aviso sobre as restrições, mas conseguiu manter o crédito para remarcar o voo quando a fronteira do vizinho for aberta.
Mesmo não sendo residentes do Uruguai, os irmãos Giulia Mozani, de 17 anos, e Vicenzo, de 20 anos, conseguiram uma autorização do consulado uruguaio para voar para Montevidéu, onde mora o pai. “A gente precisou apenas fazer o teste de PCR para o coronavírus 3 dias antes da viagem. Como deu negativo, podemos ir. Não estamos com medo de contaminação no avião e lá no Uruguai está mais seguro que aqui”, diz Vicenzo. No mesmo voo dos dois irmãos, viajava também a Seleção Brasileira Masculina de Rugby. Eles foram autorizados a viajar pelo Governo do Uruguai, depois de testarem negativo para o coronavírus para participar do campeonato sul-americano sediado no país.
Tatiane Luup também precisou de uma carta do Governo da Arábia Saudita para ir visitar o marido, que trabalha no país árabe. Uma das exigências para poder voar era o teste do PCR, que ela resolveu fazer no próprio aeroporto de Guarulhos, já que o resultado saia em 4 horas, pagando 350 reais. Desde setembro, um laboratório remoto foi instalado no saguão de embarque do Terminal 3.
Atualmente, o aeroporto de Guarulhos conta com voos internacionais regulares para Addis Ababa (Etiópia), Amsterdã, Atlanta, Buenos Aires, Cidade do México, Cidade do Panamá, Doha, Dubai, Frankfurt, Houston, Lisboa, Londres, Madrid, Miami, Newark, Nova York, Paris, Santa Cruz de La Sierra, Santiago, Toronto e Zurique. É preciso, no entanto, checar as regras de cada país antes de comprar a passagem. O status de abertura de cada país, assim como suas exigências e condições de entrada variam de acordo com a evolução da pandemia. Alguns sites compilam essas informações, e atualizam as mudanças constantemente. Um deles é o COVID-19 Travel Regulations Map, da Iata. Veja as regras de alguns países:
América do Sul
Argentina: Passageiros não estão autorizados a entrar no país até o dia 25 de outubro. A regra não é aplicada a argentinos e residentes na Argentina. Voos estão suspensos para o país, exceto os de repatriação e voos médicos.
Chile: Passageiros não estão autorizados a entrar no país até o dia 29 de outubro. A regra não é aplicada a chilenos e residentes no Chile. Eles precisam ficar em quarentena de 14 dias assim que chegam ao país.
Uruguai: Os passageiros não estão autorizados a entrar no país. A regra não é aplicada a uruguaios e residentes no Uruguai. Cidadãos da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela que estão em trânsito para seus países de origem estão autorizados.
Paraguai: Os voos vindos de outros países estão suspensos, exceto os humanitários, de repatriação e vindos do Uruguai.
Bolívia: Os passageiros devem ter um exame médico de PCR certificando que não estão com coronavírus, feito no máximo, 7 dias antes da chegada ao país.
Perú: Voos para o Perú estão suspensos, com exceção do vindos de Assunção, Bogotá, Cali, Guayaquil, La Paz, Medellín, Montevidéu, Panamá, Quito, Santa Cruz e Santiago do Chile. Passageiros devem apresentar o teste de PCR negativo para coronavírus.
Equador: Declaração de saúde do viajante deve ser apresentada na chegada ao país. Passageiros que chegam sem o um exame de PCR que demonstra que não está com o coronavírus são testados na chegada e precisam fazer isolamento de 10 dias.
Colômbia: Os voos para a Colômbia recomeçaram. É preciso apresentar um teste de PCR negativo para coronavírus, realizado no máximo 96 horas (4 dias) antes.
Venezuela: Voos para a Venezuela estão suspensos até o dia 12 de novembro de 2020. A regra não se aplica para voos médicos, humanitários e de repatriação.
América do Norte e México
México: Voos estão liberados. Um questionário de identificação de fatores de risco dos viajantes deve ser apresentado na imigração na chegada
Estados Unidos: Passageiros que estiveram (mesmo apenas de trânsito, na Áustria, Bélgica, Brasil, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irã, Irlanda, Itália , Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça ou Reino Unido, nos últimos 14 dias não são autorizados a entrar no país. A regra não é aplicada apenas para cidadãos dos EUA e residentes permanentes no país.
Canadá: Passageiros não estão autorizados a entrar até o dia 31 de outubro, com exceção de canadenses, residentes permanentes, passageiros dos Estados Unidos viajando a trabalho.
Europa
Croácia: Exige teste negativo para Covid-19, realizado 48 horas antes do voo, e mede temperatura medida de todos que chegam. Quem não tiver o teste precisa fazer quarentena de 14 dias. É necessário preencher o formulário eletrônico no site entercroatia.mup.hr antes da viagem e comprovar a reserva de algum meio de hospedagem para o período da estadia.
Espanha: Passageiros não estão autorizados a entrar até o dia 31 de outubro, exceto se são espanhóis ou residentes. Também estão permitidos passageiros vindos da Áustria, Bélgica, Bulgaria, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Letônia, Liechtenstein, Luxemburgo, Malta , Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Suíça
França: Passageiros vindos do Brasil precisam apresentar teste do PCR negativo para coronavírus. O exame precisa ter sido feito até 72h antes do voo. Passageiros são colocados em quarentena
Irlanda: Exige quarentena de 14 dias a todos os visitantes.
Portugal: Passageiros não estão autorizados a entrar, exceto países da União Europeia, Austrália, Tailândia, Reino Unido, entre outros. Passageiros vindos do Brasil não estão autorizados, apenas se são portugueses ou residentes.
Reino Unido: Passageiros precisam ficar 14 dias de quarentena ao entrar no país.
África
África do Sul: Passageiros vindos do Brasil não são autorizados a entrar, exceto sul-africanos, residentes, ou com visto de longa duração.
Ásia
Camboja: Exige teste PCR negativo para vovid-19 feito até 72 horas antes da chegada. É necessário contratar um seguro viagem no valor de US$ 90 na Forte Insurance Company e o país exige um depósito no valor de US$ 2 mil para cobertura de despesas de saúde e gastos com a quarentena, que é de 14 dias e obrigatória.
Emirados Árabes Unidos: Exige teste PCR negativo para Covid-19 realizado até 96 horas antes do voo e um outro, na chegada ao aeroporto de Dubai, o único aberto a voos internacionais. Quarentena de 14 dias para que testar positivo.
Oceania
Austrália: Passageiros não estão autorizados a entrar na Austrália, exceto australianos, residentes e neozelandeses morando na Austrália. Todos precisam entrar em quarentena de 14 dia quando chegam ao país.
Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise. Se você quer apoiar nosso jornalismo, clique aqui para assinar.
Siga a cobertura em tempo real da crise da covid-19 e acompanhe a evolução da pandemia no Brasil. Assine nossa newsletter diária para receber as últimas notícias e análises no e-mail.