Embraer abre processo de arbitragem contra Boeing após desistência de acordo de fusão
Jair Bolsonaro afirma que Governo poderá negociar venda da companhia brasileira com outra empresa
A Embraer anunciou nesta segunda-feira que abriu um processo de arbitragem contra a Boeing, após a fabricante norte-americana de aviões ter cancelado no fim de semana a compra do controle da divisão de aviação comercial da companhia brasileira avaliado em 4,2 bilhões de dólares (23,5 bilhões de reais). A arbitragem é um mecanismo usado na solução de conflitos em negociações sem envolver a Justiça. O modelo é mais ágil e dispensa alguns protocolos do judiciário. Ao invés de um juiz, o processo é julgado por uma pessoa eleita pelos envolvidos e especialistas na área. A informação sobre a medida foi dada durante conferência com jornalistas e publicada em comunicado direcionado aos acionistas
O processo é uma tentativa da companhia brasileira amenizar as perdas sofridas com o cancelamento do negócio. No ano passado, a empresa brasileira investiu 485 milhões de reais para preparar a venda da divisão comercial à fabricante norte-americana. Na manhã desta segunda-feira, a quebra do acordo se refletia nas ações da Embraer, que despencaram cerca de 15% na abertura das negociações. No início da tarde, a companhia recuperou um pouco as perdas, e os papéis da empresa passaram a cair 11%. Em teleconferência, o presidente-executivo da Embraer, Francisco Gomes Neto, não quis dar mais detalhes sobre o processo de arbitragem e se a empresa poderá abrir um processo na Justiça do Brasil ou Estados Unidos. Executivos da Embraer tentaram mostrar aos investidores que a companhia continua sólida, afirmando que não teve nenhuma encomenda de avião cancelada por conta da crise do coronavírus. Apesar disso, Gomes Neto disse que 2020 será “difícil” e que 2021 “será pior do que esperávamos”. O presidente-executivo afirmou ainda que deve focar inicialmente em uma reestruturação interna. “Nós vamos fazer primeiro a lição de casa, e nós precisamos de algum tempo para isso. Vamos pensar sobre próximos passos estratégicos para nossa aviação comercial”, afirmou.
Na manhã desta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou à jornalistas que o Governo acompanha os desdobramentos do cancelamento e que uma negociação com outra companhia não está descartada. “Estamos avaliando. Tem golden share minha [ação preferencial com direito a veto em decisões importantes atualmente], eu assino. E se o negócio realmente for desfeito, talvez se recomece uma negociação com uma outra empresa”, disse Bolsonaro.
Neste sábado, em uma dura nota de resposta à fabricante norte-americana, a Embraer disse acreditar firmemente que a Boeing rescindiu indevidamente o acordo global da operação (MTA) e adotou um “padrão sistemático de atraso e violações repetidas” ao acordo, devido à “falta de vontade” em concluir a transação. Segundo a companhia brasileira, a Boeing “fabricou falsas alegações” como pretexto para tentar evitar os compromissos para concluir a transação e pagar à companhia o valor da compra. A fabricante brasileira afirmou ainda que a condição financeira da Boeing, o programa 737 MAX e “outros problemas comerciais e de reputação” também seriam os motivos pela desistência do acordo entre ambas. Já a Boeing responsabilizou a companhia pela não conclusão do negócio. Em nota, afirmou que “exerceu seu direito de rescindir (o contrato) após a Embraer não ter atendido as condições necessárias”, mas não especificou quais eram as condições.
Nos últimos três meses, a Boeing foi a empresa com pior desempenho no índice Dow Jones da Bolsa de Nova York, retrocedendo mais de 50% desde meados de janeiro. Antes da crise do coronavírus, a empresa aeronáutica já enfrentava problemas. Fechou o exercício de 2019 com prejuízos de 636 milhões de dólares, seu primeiro resultado anual negativo em décadas, devido principalmente ao veto internacional ao que era seu avião-estrela, o 737 Max, depois de dois acidentes que deixaram 346 mortos. A Embraer, que tem 16.000 funcionários no Brasil e outros 2.500 no exterior, também passa por uma situação difícil como o resto das empresas do setor aéreo. A crise do coronavírus levou ao adiamento de pedidos, e as perspectivas de negócio são sombrias.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.