_
_
_
_
_

OCDE mantém previsão de crescimento para o Brasil apesar do coronavírus

A organização com sede em Paris deixa em 0,7%, cinco décimos a menos, o novo prognostico para o México e em -2% para a Argentina. O Brasil fica estável, com alta de 1,7%

Ignacio Fariza
Mulheres se protegem do coronavírus com máscaras, neste sábado, na Cidade do México.
Mulheres se protegem do coronavírus com máscaras, neste sábado, na Cidade do México.Sashenka Gutiérrez (EFE)
Mais informações
People wearing protective face masks wait in line outside the National Institute of Respiratory Diseases where a patient who tested positive for coronavirus is being treated, according to local authorities, in Mexico City, Mexico February 28, 2020. REUTERS/Gustavo Graf
Coronavírus na América Latina: poucos casos e muita preocupação
'Quer para já uma vacina contra o coronavírus?', por Moisés Naím
Sanitarios israelíes prueban un centro electoral para votantes aislados por el coronavirus, el domingo en Tel Aviv.
Medo do coronavírus ameaça a terceira eleição convocada em menos de um ano em Israel

A sombra do coronavírus na economia será prolongada. O golpe será muito maior na China, onde a epidemia causou a coisa mais próxima de uma quarentena coletiva, e em países como a Coreia do Sul, em que disparou. Mas as principais economias da América Latina, que nos últimos tempos sofreram um declínio em suas previsões econômicas iniciais com o passar dos meses, também sentirão a desaceleração global. O México, apesar de não ser um grande exportador de matérias-primas e de ter uma economia muito mais conectada aos Estados Unidos do que ao gigante asiático, crescerá apenas 0,7% em 2020, cinco décimos a menos do que projetara a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E a Argentina, imersa em uma forte crise interna e em plena renegociação de sua dívida com o Fundo Monetário Internacional e com os grandes detentores privados de títulos, decrescerá 2%, três décimos a mais do que o esperado em novembro passado. O Brasil, entretanto, fica como estava: sua economia se expandirá 1,7%, em linha com o previsto até agora. No entanto, nenhuma delas está entre as economias latino-americanas mais expostas ao coronavírus: as do Chile e Peru, pelo cobre e, em menor grau, a do Equador.

O corte no crescimento da segunda e terceira economias da região está entre as maiores tesouradas divulgadas nesta segunda-feira pela agência sediada em Paris. Só reduz mais ainda sua projeção para 2020 na China ―o país de origem do SARS-CoV-2 e onde o golpe foi mais forte, tanto no plano humano como econômico―, que crescerá oito décimos a menos, por volta de 4,9%, e na África do Sul, muito dependente da exportação de produtos básicos, um dos principais canais de transmissão econômica do surto, e que crescerá apenas 0,6% neste ano. Em seguida, vêm o México e a Austrália ―uma economia muito vinculada ao que acontece na Ásia-Pacífico e, principalmente, na China―, com queda de 0,5%, o mesmo que se espera para o G20 como um todo. No caso da Argentina, a redução é igual à aplicada a Turquia, França e Canadá. Mas as coisas terão de mudar muito para não ser, em mais um ano, o único país da OCDE que decrescerá em 2020: no ano passado, apenas o México se juntou, por pouco (-0,1%), a esse grupo.

A foto estática feita por essa consultoria das economias avançadas varia pouco em 2021 para os três grandes da América Latina. A OCDE projeta um crescimento de 1,8% para o Brasil, em linha com o previsto até agora, e de 0,7% para uma Argentina que começará a ver a luz no fim do eterno túnel da recessão, do resgate e da inflação sem freio. O México, por sua vez, vê seu crescimento definhar: passa de 1,6% para 1,4%, além de fazer parte do pequeno grupo de países que tem reduzida sua projeção tanto neste ano como no próximo: o Reino Unido pós-Brexit, com tudo o que isso implica; a Índia, que terá desaceleração; a Rússia, intimamente ligada ao mercado de petróleo e minerais, que não vive seus melhores dias com o coronavírus; e a África do Sul.

“O surto de coronavírus [com quase 90.000 infecções, até agora] já trouxe um sofrimento humano considerável e uma grande perturbação à economia. As consequências adversas em outros países são significativas, incluindo a interrupção direta das cadeias mundiais de valor, uma menor demanda por bens e serviços importados e um grande declínio nas viagens de turismo e negócios”, destacam os técnicos da OCDE em sua revisão nesta segunda-feira, lembrando ao mesmo tempo que a amplificação econômica do vírus de Wuhan é maior que a do SARS em 2003 porque "a economia mundial está substancialmente mais conectada e a China desempenha um papel global mais importante no PIB, comércio, turismo e mercados de matérias-primas”. Os economistas da entidade alertam, porém, que uma certa parada na economia mundial já era percebida antes que o coronavírus aparecesse. “O comércio mundial estava fraco, a produção industrial continuava estagnada no final de 2019 e o aumento no consumo perdia força, apesar da melhoria no mercado de trabalho”, com a guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China como um fator “importante” por trás dessa tendência à fraqueza.

Se qualquer previsão econômica estiver sempre sujeita a um alto grau de incerteza, neste caso ela é ainda maior. "As perspectivas são muito incertas", reconhece a OCDE. “Elas se baseiam no pressuposto de que a epidemia atinge o pico na China no primeiro trimestre de 2020, com uma recuperação gradual do país ao longo do segundo, graças às políticas domésticas expansivas [monetárias e fiscais]. Junto com a recente deterioração acentuada nas condições financeiras mundiais, deprimirá o crescimento do PIB no período inicial do ano, possivelmente até pressionando para abaixo de zero no primeiro trimestre.” De acordo com suas simulações, o vírus pode subtrair até meio ponto percentual do crescimento do planeta este ano. “Assumimos que novos casos do vírus em outros países serão esporádicos e contidos. Se assim não for, o crescimento mundial se debilitará substancialmente.”

Para o conjunto do bloco emergente, no qual as três principais economias latino-americanas estão enquadradas, a OCDE espera uma recuperação “gradual, mas modesta” neste ano e no próximo, depois de ter sofrido na própria carne os efeitos da guerra comercial entre os Estados Unidos e China. No entanto, para que haja uma “recuperação” serão necessários um “impacto positivo das reformas e do apoio da política monetária na Índia e no Brasil, políticas bem focadas no México e na Turquia para impulsionar o crescimento sustentável e uma retomada gradual das exportações de matérias-primas mais expostas à desaceleração chinesa este ano.”

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_