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Vale perde 6,6 bilhões de reais em 2019 por causa do desastre de Brumadinho

Números vermelhos se devem aos gastos e provisões relativos ao desastre que matou 270 pessoas e pelo qual parte da cúpula da empresa é acusada de homicídio doloso

Naiara Galarraga Gortázar
O rastro de destruição em Brumadinho após rompimento da barragem da Vale.
O rastro de destruição em Brumadinho após rompimento da barragem da Vale.Washington Alves (Reuters)

A Vale perdeu 6,6 bilhões de reais em 2019, de acordo com os resultados anuais divulgados na quinta-feira, e o posto de maior produtora de minério de ferro do mundo em um ano marcado pelo desastre de Brumadinho, no qual 270 pessoas morreram. Os números vermelhos, adiantados pelo jornal O Globo, se devem aos gastos e provisões decorrentes da ruptura de uma barragem de resíduos tóxicos em janeiro daquele ano que liberou um tsunami de lama que destruiu o refeitório de uma mina cheio de funcionários na hora do almoço. O total relacionado à catástrofe foi de 32,5 bilhões de reais.

O resultado do ano passado contrasta com o grande lucro do ano anterior, quando a Vale ganhou mais de 25,65 bilhões de reais. O acidente de Brumadinho foi o segundo semelhante em uma mina da multinacional no Brasil em quatro anos. O primeiro matou cerca de vinte pessoas, além de causar imenso dano ambiental.

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Quando o Ministério Público apresentou em janeiro sua acusação contra o então presidente e outros diretores da Vale por homicídio doloso, relacionou sua maneira de proceder com a obsessão pela primeira posição no setor: “Com o apoio da [auditoria] Tüv Süd, a Vale operava uma caixa-preta com o objetivo de manter uma falsa imagem de segurança da empresa de mineração, que buscava, a qualquer custo, evitar impactos a sua reputação e, consequentemente, alcançar a liderança mundial [do setor] em valor de mercado”, escreveram os promotores na denúncia. A australiana Rio Tinto é a maior produtora mundial de minério de ferro depois que a produção da empresa brasileira caiu mais de 20%, para 300 milhões de toneladas.

Um juiz deve decidir se aceita a denúncia e coloca no banco dos réus Fabio Schvartsman, que foi afastado como presidente executivo depois da catástrofe, e outros 15 diretores da mineradora e da empresa alemã Tüv Sud, que apenas seis meses antes garantiu que a barragem era estável.

No balanço financeiro anual, divulgado após o fechamento da Bolsa de Valores de São Paulo, o atual presidente executivo, Eduardo Bartolomeo, se refere à tragédia de Brumadinho: “Um ano se passou desde a ruptura da Barragem I e gostaria de reafirmar o nosso respeito pelas famílias das vítimas. A Vale permanece firme em seus propósitos: reparar integralmente Brumadinho e garantir a segurança de nossas pessoas e ativos. Temos feito progressos significativos, com um efetivo programa de reparação, com melhorias relevantes em nossa governança e operações, e com um plano de descaracterização para nossas barragens a montante (a maneira mais barata de construção, a das barragens de ambos os desastres) sob implementação acelerada”.

A Vale, com 55.000 funcionários no Brasil, é uma das maiores multinacionais do país. Os investigadores acusam parte da cúpula da Vale de saber, pelo menos dois anos antes de a barragem ceder, que esta havia atingido um nível crítico; afirmam os promotores que os diretores também tinham informações detalhadas sobre o estado desses depósitos usados para armazenar resíduos de mineração. A empresa “escondia de forma sistemática essas informações do poder público, da sociedade, inclusive dos investidores e acionistas da empresa”, segundo a denúncia do Ministério Público.

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