Duas vezes Lina Bo Bardi
No ano em que recebe um Leão de Ouro póstumo, a maior homenagem da Bienal de Arquitetura de Veneza, duas biografias destrincham a vida e arquitetura da italiana que marcou a cultura brasileira
Lina Bo Bardi (Roma, 1914 - São Paulo) insistia em ser chamada de arquiteto porque, segundo ela, a palavra arquiteta não existe. Quando chegava em uma obra, a equipe logo notava sua presença não apenas pelas ordens em voz alta, coisa de uma italiana típica, mas pela correria com a qual ia de um lado a outro. Se fosse necessário, ela trocava de roupa e vestia o macacão para trabalhar com os demais. A mulher que aos seis anos decidiu que não seria mãe —e não foi— era bela e forte, feminina e determinada. Graças ao seu empenho em negar os tradicionais padrões de gênero, o gênio de Bo Bardi concebeu uma arquitetura humanística na qual estética e funcionalidade se combinam para que todos os espaços sejam “aproveitáveis pelas pessoas”.
No ano em que a criadora de obras como o Masp, em São Paulo, e o Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador, recebe o Leão de Ouro póstumo, a maior homenagem da Bienal de Arquitetura de Veneza, duas biografias destrincham sua vida e trabalho. Lina: uma biografia (Todavia), de Francesco Perrotta-Bosch, e Lina Bo Bardi - O que eu queria era ter história (Companhia das Letras), de Zeuler R. Lima, contam as muitas facetas da arquiteta para além de suas obras, como seus relacionamentos familiares, a paixão pela arte tradicional brasileira, as amizades com os grandes nomes da cultura nacional e sua relação com a Bahia, que, segundo ela mesma contava, tirou-a dos eixos. O EL PAÍS separou trechos de ambas publicações para o deleite dos leitores.