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Escritor John Le Carré morre aos 89 anos

Autor, cujo nome real era David Cornwell, vendeu milhões de livros e era um mestre admirado no gênero dos romances de espionagem

Rafa de Miguel
O escritor John Le Carré, em Mallorca, em 2019.
O escritor John Le Carré, em Mallorca, em 2019.Samuel Sánchez
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John Le Carré, cujo nome real era David Cornwell, faleceu aos 89 anos em um hospital da Cornualha, onde morava, após uma breve doença, como informou no domingo em uma nota Jonny Geller, presidente da Curtis Brown, a agência que o representava atualmente.

A vida de Carré foi tão apaixonante como seus numerosos romances, em que combinava uma destreza literária imensa para apresentar o complicado, enigmático e traiçoeiro mundo da espionagem junto com uma força moral que cativou milhões de leitores de todo o mundo. Começou a trabalhar para os serviços secretos britânicos enquanto estudava alemão na Suíça, no final dos anos quarenta. Foi enquanto dava aulas no elitista colégio privado de Eton, berço do poder conservador no Reino Unido, que foi recrutado pelo Serviço Externo Britânico. De um pequeno escritório no MI5 (a agência de inteligência interna) em Curzon Street (Londres), David Cornwell captava, instruía e ensinava espiões do outro lado da Cortina de Ferro atraídos ao lado do Ocidente. Foi aí que começou a escrever, sob o pseudônimo John Le Carré.

Seu primeiro romance, O Morto ao Telefone, introduziu o protagonista de várias de suas obras mais universais: George Smiley. Metódico, inteligente, anódino em sua vestimenta e em sua fisionomia, sua constante batalha contra seu rival, inimigo e espelho, o agente soviético Karla.

O ator Alec Guinness foi um dos que tentaram encarnar Smiley nas adaptações cinematográficas da obra Le Carré. Gary Oldman foi o último a tentar a sorte em O Espião Que Sabia Demais.

O Espião que Veio do Frio, O Espião Que Sabia Demais, Sempre Um Colegial e A Vingança de Smiley consagraram Carré como o mestre indiscutível de um gênero de imensa popularidade durante a década dos anos sessenta e setenta.

A queda do muro de Berlim e o final da Guerra Fria poderiam ter sido o final de uma trajetória muito identificada com essa Europa da pós-guerra, mas Le Carré demonstrou que continuava existindo um imenso caudal de maldade no mundo, e que sua habilidade literária lhe permitiria denunciá-lo com sucesso, com obras como A Casa da Rússia, O Jardineiro Fiel e Nosso Fiel Traidor.

O desmembramento caótico da União Soviética, o mundo dos traficantes de armas, a corrupção das gigantes farmacêuticas nos países do terceiro mundo e o terrorismo islâmico: Le Carré fincou os dentes em todos os assuntos. Investigava a consciência antes de escrever, e nunca se furtou de assumir um posicionamento moral que irritava seus críticos —o mundo é mais complexo do que tudo isso, lhe diziam—, mas entusiasmou milhões de admiradores e construiu lealdades. A ambiguidade de seus primeiros livros foi substituída gradualmente por um posicionamento cada vez mais inequivocamente político.

Enquanto seus romances tinham sucesso global e seu talento era tão elogiado quanto sua capacidade de produzir best-sellers, Le Carré optou por sair de cena e evitar a popularidade. Isso apenas aumentou o mistério que o autor despertava entre seus leitores. Casado por duas vezes, ele viveu seus últimos 20 anos recluso em sua casa na Cornualha, na Inglaterra, enquanto continuava a escrever.

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