_
_
_
_

O ano das diversidades nos museus

Os museus da América Latina se voltaram para a reconstrução de histórias da arte rejeitadas, em especial a feminista e a de origem africana. Novas preocupações sacodem o discurso tradicional

Lina Bo Bardi
Vista da exposição com a recriação do projeto de Lina Bo Bardi, no Museu Gulbenkian, em Lisboa.Pedro Pina (Museu Gulbenkian)
Estrella de Diego

Que o mundo e as coisas do mundo são muito diversos é algo que hoje todos sabemos e que até os museus mais canônicos aceitaram. Basta percorrer as salas do MoMA para comprovar: não só Picasso é acompanhado por uma artista afro-americana, como também a Coleção Patricia Phelps de Cisneros de arte da América Latina ocupa um lugar essencial e dialoga com Mondrian e outros grandes nomes da tradição europeia. Da mesma forma, instituições da América Latina resgatam esquecimentos históricos, dão destaque a antigas exclusões e traçam novos mapas de preocupações que sacodem aquilo que até pouco tempo atrás governava o discurso e os olhares.

Mais informações
A artista portuguesa Grada Kilomba.
Grada Kilomba: “O colonialismo é a política do medo. É criar corpos desviantes e dizer que nós temos que nos defender deles”
Fragmento de ‘Planes, Rockets, and the Spaces in Between’ (2018), de Amy Sherald.
O museu que vende ‘warhols’ para comprar obras de mulheres e negros
'Abaporu', pintura antropomórfica de la artista brasileña
O ‘Abaporu’ visita São Paulo

Dentro e a partir dessa área geográfica, inúmeros projetos foram se adaptando às exigências de mudança, a essas revisões históricas imprescindíveis de hoje. Essa é a tarefa à qual se dedica há tempos o MASP, começando pela reutilização da museografia de Lina Bo Bardi, que revela descaradamente as partes de trás dos quadros, organizados em uma montagem não linear, com planos de profundidade cinematográficos. É a montagem radical abordada agora no Museu Gulbenkian, em Lisboa, em uma exposição dedicada à arquiteta paulista de origem italiana e que é emocionante como nova fórmula de contar histórias.

Mas esse não é o único resgate promovido pelo MASP. O museu se dispôs a reconstruir algumas histórias da arte negadas, especialmente a feminista e a de origem africana, com as implicações frequentemente implícitas nos dois terrenos — como ficou evidente há dois anos na incrível exposição da artista Maria Auxiliadora. Problemas semelhantes foram abordados em História das Mulheres: Artistas Antes de 1900, uma exposição que esteve no MASP até novembro deste ano e na qual podemos apreciar telas anônimas ao lado de pintoras tradicionais. A mesma linha de resgate de mulheres em mostras individuais é reafirmada nas exposições de Anna Bella Geiger — uma das artistas vivas mais interessantes do Brasil — e de Gego, que visitará outros países, incluindo a Espanha.

Seguindo a linha de resgate das mulheres e da América Latina, a Pinacoteca do Estado de São Paulo — que no ano passado abrigou a exposição Mulheres Radicais — apresentou até setembro, pela primeira vez no Brasil, uma individual de Grada Kilomba: Desobediências Poéticas. Nela, a artista portuguesa de raízes angolanas revisitou a tradição e o mito, misturando gêneros e estilos, um pouco ao estilo de Yeni e Nan, o casal de venezuelanas cujas propostas teóricas e práticas, principalmente nos anos 1970 e 1980, não foram suficientemente reconhecidas, apesar de sua força. De fevereiro a junho, Yeni e Nan visitaram, com uma retrospectiva de sua obra, o Centro Andaluz de Arte Contemporânea, em Sevilha, o único museu do Estado espanhol que se dedica com afinco ao resgate de mulheres esquecidas dentro e fora do país.

No início de 2019, durante a exposição de obras peruanas em Madri, na feira de arte contemporânea ARCO, duas exposições vindas do Museu de Arte de Lima (MALI) abordaram, entre outras questões, o comentado interesse atual pelo país: a primeira, no Museu Reina Sofía, utilizou a revista Amauta como lugar para explorar a cena vanguardista do Peru, e a segunda, Amazonías (no centro de artes Matadero) destacou esses contextos artísticos regionais que ganham cada vez mais força.

O centro de arte contemporânea PROA, em Buenos Aires, apresentou a obra do atraente e radical Copi, figura cultuada por César Aira, e até o início de 2020 poderemos conhecer na Cidade do México, no Museu Universitário de Arte Contemporânea (MUAC), o trabalho fotográfico de Yvonne Venegas. Por meio das fotografias tiradas no estúdio comercial de Venegas em Tijuana, é possível recompor toda uma era da fotografia íntima.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_