Pfizer anuncia que sua terceira dose é eficaz contra a ômicron após estudo preliminar

Segundo a farmacêutica, nível de defesas com apenas duas aplicações da vacina é “significativamente mais reduzido” e tem menos capacidade de combater a nova variante do coronavírus. Comunidade científica reage com cautela

Um agente de saúde administra a terceira dose da vacina da Pfizer em um centro de Sevilha em 24 de novembro.PACO PUENTES (EL PAÍS)

Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise. Se você quer apoiar nosso jornalismo, clique aqui para assinar.

Um estudo preliminar das empresas Pfizer e BioNTech indica que uma terceira dose de reforço da sua vacina contra a covid-19 aumenta em até 25 vezes os anticorpos neutralizantes e é eficaz contra a variante ômicron. Segundo as farmacêuticas, o grau de proteção com o reforço é semelhante ao fornecido pelas primeiras doses contra as variantes iniciais, enquanto o esquema de dupla dose é menos eficaz diante do surgimento da nova linhagem do coronavírus. A vacina da Pfizer é mais utilizada na Europa e também o imunizante preferencial no Brasil para aplicação como dose de reforço.

Embora as duas empresas tenham anunciado que estão desenvolvendo uma vacina específica contra a ômicron, prevista para março, seus estudos mostram que o imunizante atual é eficaz se for complementado com uma terceira dose. Em contraste, segundo as farmacêuticas, duas doses geram níveis de anticorpos neutralizantes “significativamente reduzidos”. A Pfizer afirmou que o esquema de dupla dose “pode não ser suficiente para proteger contra a infecção com a variante ômicron”, ressaltando: “A proteção mais robusta pode ser obtida com uma terceira dose”.

Embora duas doses da vacina ainda possam oferecer proteção contra a doença grave causada pela ômicron, fica claro que a proteção melhora com uma terceira dose da nossa vacina
Albert Bourla, presidente e diretor executivo de Pfizer

Isso não significa que os vacinados com duas doses estejam desprotegidos contra a variante ômicron. Albert Bourla, presidente e diretor executivo de Pfizer, explica: “Embora duas doses da vacina ainda possam oferecer proteção contra a doença grave causada pela ômicron, fica claro, com base nos dados preliminares, que a proteção melhora com uma terceira dose da nossa vacina”. Bourla propõe avançar o máximo possível na vacinação com o esquema duplo e começar a administrar o reforço.

Ugur Sahin, cofundador e diretor executivo da BioNTech, acrescenta que “amplas campanhas de vacinação e reforço ao redor do mundo poderiam ajudar a proteger melhor as pessoas em todos os lugares e a superar a temporada de inverno”, que começa daqui a duas semanas no Hemisfério Norte. Sahin diz que a empresa trabalha desde 25 de novembro com uma nova geração da vacina, que aumentará a duração da imunidade e a proteção contra a forma grave da doença e contra a variante ômicron. Se os processos de aprovação correrem como se espera, essa nova vacina estaria disponível no mercado dentro de 100 dias, para março do próximo ano.

Os testes contra a variante ômicron foram feitos com amostras de soro de pessoas imunizadas entre três e quatro semanas depois de receber a segunda dose da Pfizer. Cada soro foi testado simultaneamente para determinar o nível de anticorpos neutralizantes gerados contra a proteína spike do vírus SARS-CoV-2 (a chave utilizada pelo coronavírus para entrar nas células humanas) tanto em suas primeiras variantes como na recentemente sequenciada ômicron.

Reações

A comunidade científica reagiu com cautela aos resultados do estudo da Pfizer, reiterando que o esquema de duas doses fornece proteção e assinalando que a dose de reforço é oportuna, como já ficou estabelecido em um estudo recente sobre sua segurança e sua eficácia, que variam conforme as combinações de vacinas.

Nesse sentido, Paul Moss, professor de Hematologia da Universidade de Birmingham, afirmou ao Science Media Center: “As descobertas são importantes, mas podem ser interpretadas de diferentes formas: o preocupante é que a neutralização de anticorpos é cerca de 40 vezes reduzida contra a ômicron em comparação com o vírus original de Wuhan. Isso significa que apenas 2,5% da atividade de neutralização de anticorpos é mantida. O lado positivo é que o vírus não evoluiu além do uso do receptor ECA2 para entrar nas células e, portanto, os anticorpos que foram gerados para bloquear esta interação não são totalmente ineficazes. Além disso, as evidências que estão surgindo sobre as vacinas de reforço mostram que elas são capazes de gerar níveis muito altos de anticorpos que potencialmente deveriam proporcionar uma proteção valiosa contra a infecção, e as respostas imunológicas celulares também devem permanecer, em grande parte, intactas”.

O vírus não evoluiu além do uso do receptor ECA2 para entrar nas células e, portanto, os anticorpos que foram gerados para bloquear esta interação não são totalmente ineficazes
Paul Moss, professor de Hematologia da Universidade de Birmingham

Para Daniel Altmann, professor de imunologia do Imperial College de Londres, os resultados do estudo são um “argumento ainda mais forte para obter reforços da forma mais ampla e rápida possível”.

O professor de virologia molecular Jonathan Ball insiste na capacidade de defesa adquirida pelo corpo com a dupla dose: “Embora uma imunidade reduzida de anticorpos pudesse significar que mais pessoas podem se infectar e ter sintomas leves, ainda confio que as vacinas, especialmente depois de um reforço, protegerão de formas graves da doença”.

Mais informações

Arquivado Em