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Maior estudo já feito sugere que defesas contra o coronavírus podem durar anos

Análise exaustiva de 185 pessoas que superaram a covid-19 revela uma resposta imunológica poderosa e duradoura

Os imunologistas Alessandro Sette e Daniela Weiskopf, do Instituto de Imunologia de La Jolla (Califórnia, EUA).
Os imunologistas Alessandro Sette e Daniela Weiskopf, do Instituto de Imunologia de La Jolla (Califórnia, EUA).Gina Kirchweger
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Terceira ótima notícia para a humanidade em apenas 10 dias, depois do anúncio de que as vacinas experimentais da Pfizer e da Moderna têm uma eficácia preliminar de até 95% contra a covid-19. O maior estudo já realizado revela agora que as pessoas que superaram a doença mantêm defesas robustas contra o coronavírus até oito meses depois da infecção, com um ritmo de redução muito lento. “Esta quantidade de memória [imunológica] provavelmente evitará, durante muitos anos, que a grande maioria das pessoas sofra uma covid grave que exija hospitalização”, afirmou um dos principais autores da pesquisa, o imunologista norte-americano Shane Crotty, ao jornal The New York Times.

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Estes resultados preliminares, ainda pendentes de revisão para sua publicação em uma revista científica, teriam importantes implicações para o futuro da pandemia, ao afastar o fantasma de uma imunidade raquítica que exija vacinar repetidamente a população. “As pessoas estavam começando a dizer que os anticorpos desapareciam, que as defesas não durariam tanto, que seria preciso revacinar. Pois parece que não. O lógico é que a resposta dure e proteja”, opina Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia.

O novo estudo é o primeiro a analisar ao mesmo tempo os quatro principais componentes da memória imunológica contra o coronavírus: os anticorpos neutralizantes, que são proteínas que se unem ao vírus e o inutilizam; os linfócitos B, que são as fábricas destes anticorpos; e dois tipos de linfócitos T, outros glóbulos brancos que destroem as células já infectadas. O trabalho, que inclui 185 pacientes de 19 a 81 anos nos EUA, mostra “uma memória imunológica substancial depois da covid”, nas palavras de Crotty, do Instituto de Imunologia de La Jolla (Califórnia). Após cinco meses de acompanhamento, 90% dos convalescentes apresentam pelo menos três componentes dessa memória contra o vírus.

Diante dos novos dados, a proteção pós-infecção “poderia durar anos”, concorda López Hoyos, imunologista do Hospital Marqués de Valdecilla, em Santander (norte da Espanha). “Eu quero lançar uma mensagem de otimismo às pessoas, embora ainda seja muito cedo e tenhamos que ser precavidos: as infecções geram imunidade, e esta imunidade protege”, afirma o pesquisador espanhol.

Os novos resultados são consistentes com o observado no vírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS), outro coronavírus que surgiu na China em 2002 e matou quase 800 pessoas. Um estudo liderado pelo cientista italiano Antonio Bertoletti mostrou em julho que os sobreviventes das SARS conservam linfócitos T contra esse coronavírus 17 anos depois de superar a doença.

Outro trabalho preliminar conhecido nesta segunda-feira aponta na mesma direção. O estudo, realizado na Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan (China), mostra uma reação generalizada e poderosa dos linfócitos T em 31 pacientes analisados nove meses depois de passar pela covid.

A imunologista Carmen Cámara, do hospital La Paz de Madri, aplaude o novo estudo norte-americano, mas pede cautela. “Para saber quanto vai durar a imunidade precisaríamos de uma bola de cristal, porque ninguém pode prever”, adverte. É tão simples quanto frustrante: para confirmar que a memória imunológica dure 10 anos, será preciso esperar 10 anos.

“Passaram-se 11 meses e parece que a imunidade aguenta, porque as reinfecções que estão sendo comunicadas são absolutamente pontuais. Então sabemos que 11 meses ela dura. Quanto mais durará? Teremos que ver”, acrescenta Cámara.

A imunologista destaca que o novo estudo é um dos poucos a analisarem os linfócitos B de memória, muito importantes porque são as fábricas de anticorpos específicos e se lembram do invasor. Se os anticorpos contra o novo coronavírus desaparecerem com o tempo após superar a doença, os linfócitos B podem ser ativados e produzir mais no caso de uma segunda infecção. Pesquisas anteriores revelaram que os linfócitos B contra a varíola podem durar até 60 anos depois da vacinação contra esse vírus.

O novo trabalho mostra que os linfócitos B específicos contra o novo coronavírus inclusive aumentam com o tempo. “Pode ser que estas células se autorregulem quando começa a haver menos anticorpos. Se você vir que as balas estão acabando, tem que começar a abrir as fábricas de armas”, ilustra Cámara.

Os resultados do estudo ainda são preliminares, mas levam a assinatura de cientistas respeitados, como os imunologistas Daniela Weiskopf e Alessandro Sette, também do La Jolla, e o virologista Florian Krammer, do hospital Mount Sinai de Nova York. Os autores destacam outra conclusão: a enorme variabilidade entre as pessoas. Os anticorpos neutralizantes se mantêm relativamente estáveis em geral até oito meses depois de começarem a ser estudados, mas em alguns convalescentes estes níveis podem ser 200 vezes maiores que em outros. Os pesquisadores acreditam que uma baixa carga viral no momento da infecção poderia ajudar a explicar este fenômeno.

“À vista da heterogeneidade da resposta imunológica [...], é esperável que pelo menos uma fração da população infectada – e com uma memória imunológica especialmente baixa – seja suscetível a reinfecção com relativa rapidez”, advertem os autores.

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