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Grupo sanguíneo A aumenta o risco do coronavírus; o tipo O diminui

Estudo com 1.980 pacientes encontra seis genes associados à gravidade da doença

Pessoal sanitário extrai sangue de um homem em Torrejón de Ardoz perto de Madri, em maio.
Pessoal sanitário extrai sangue de um homem em Torrejón de Ardoz perto de Madri, em maio.SANTI BURGOS

Pessoas com sangue tipo A têm 50% mais risco de precisar de apoio respiratório em caso de infecção por coronavírus do que a média de doentes. As do tipo zero (também chamado de tipo O), 35% menos. Um trabalho publicado nesta quarta-feira na revista norte-americana New England Journal of Medicine (NEJM), elaborado por médicos das UTIs de sete hospitais italianos e espanhóis, concluiu que um dos fatores que influem na grande variabilidade da gravidade da infecção pode ser o grupo sanguíneo. A “forte associação” é, neste caso, a conclusão estatística após analisar regiões genéticas de 1.980 pessoas internadas nas UTIs e compará-las às de 2.205 indivíduos que não tinham tido a doença. Ou seja, se sabe por que os genes que determinam o grupo sanguíneo podem ter um efeito mais ou menos protetor.

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TOPSHOT - This photo taken on June 17, 2020 shows medical workers carrying a man who is the last patient recovered from the COVID-19 coronavirus infection in the Wuhan, pulmonary hospital before he leaves the hospital in Wuhan, in China's central Hubei province. (Photo by STR / AFP) / China OUT
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Mas há ideias a respeito dessa possível relação com uma zona do cromossomo 3 que contém seis genes, os quais, conforme se observou, estão relacionados com a maior vulnerabilidade dos pacientes. Por exemplo, um deles está relacionado à enzima ECA2, que é a porta de entrada do coronavírus nas células. Outros dois codificam os receptores de quimiocinas, que são as substâncias que desencadeiam o processo inflamatório agudo, a chamada tempestade de citocinas, que ocorre em muitos casos numa segunda etapa da infecção – para a qual foi observada a utilidade da dexametasona. Um desses receptores, além disso, regula a localização específica das células do sistema imunológico que reagem a agentes patogênicos nas vias respiratórias. Estas variantes genéticas são mais frequentes em pessoas mais jovens (média de 59 anos), o que poderia explicar, ao menos em parte, a gravidade de certos casos nesse grupo de idade, afirmam os pesquisadores.

“Obteve-se em menos de dois meses de toda a informação necessária para avaliar os resultados e compará-los com um grupo de controle de 2.205 indivíduos saudáveis. Assim, identificou-se uma maior frequência de 26 variantes genéticas nos pacientes afetados por insuficiência respiratória em comparação com o grupo controle não infectado, e duas delas em particular, localizadas nos cromossomos 3 e 9, mostraram uma potente associação com a gravidade”, explicam os autores.

“Os resultados deste estudo permitem avançar na identificação dos pacientes de maior risco que necessitarão de internação em UTI, assim como conhecer melhor a fisiopatologia da doença mediante a identificação destes genes implicados”, disse Ricard Ferrer, presidente da Sociedade Espanhola de Medicina Intensiva, Crítica e Unidades Coronárias (SEMICYUC), e que também participou do estudo como responsável pelo Serviço de Medicina Intensiva do Hospital Vall d’Hebron (Barcelona). Os outros hospitais espanhóis participantes foram o Clínic (Barcelona), o Universitário Ramón y Cajal (Madri) e o Universitário de Donostia (San Sebastián).

“Investigações anteriores haviam indicado que fatores como a idade e doenças crônicas como diabetes e hipertensão, assim como a obesidade, aumentam o risco de desenvolver casos graves de covid-19. Entretanto, esse estudo demonstra a possibilidade de identificar pessoas mais vulneráveis ao desenvolvimento de doença grave com insuficiência pulmonar por causa do coronavírus, segundo suas características genéticas, o que possibilita identificar grupos de risco que necessitem de proteção especial e desenvolver tratamentos personalizados”, disse em nota o Ministério da Ciência da Espanha, que participou do trabalho através dos centros de pesquisa biomédica em rede de doenças respiratórias (CIBERER, na sigla em espanhol) e de doenças hepáticas e digestivas (CIBEREHD).

“Este estudo europeu colaborativo foi o primeiro a identificar fatores genéticos que aumentam o risco de desenvolver insuficiência respiratória em pacientes com covid-19. Entretanto, não é o único a investigar nesta linha, já que existem diferentes consórcios internacionais cujo objetivo é identificar características genéticas de risco da covid-19. Desta maneira, futuros estudos permitirão aprofundar estes resultados”, acrescenta o ministério.

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