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Biden pede ao Congresso apoio à sua agenda social: “Não podemos parar agora”

Em seu primeiro discurso no Capitólio, prestes a completar 100 dias no cargo nesta quinta-feira, presidente norte-americano pede apoio para taxar alta renda para financiar programas sociais

Amanda Mars
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Vista aérea de una parcela lista para cultivar junto a una franja de vegetación en una hacienda de Sinop. Como está ubicada en la Amazonia, la ley exige que la vegetación del 80% de cada propiedad rural sea preservada. Solo se puede cultivar en el 20% restante. Los productores, el Gobierno y las ONG alcanzaron un acuerdo años atrás por el que los primeros se comprometieron a no cultivar en tierras deforestadas ilegalmente.
Cúpula do Clima, Biden e Amazônia
Joe Biden, en los jardines de la Casa Blanca.
100 dias de Biden, uma profunda mudança de rumo nos Estados Unidos

O presidente Joe Biden fez nesta quarta-feira, em seu primeiro discurso perante o Congresso dos Estados Unidos, uma defesa capital do Governo federal em e de seus ambiciosos planos de proteção social e investimento em infraestrutura, que somam quatro trilhões de dólares e que, se efetivados, representarão a maior expansão do Estado de bem-estar social em décadas. Às vésperas de seus primeiros 100 dias de mandato, Biden pediu aos republicanos apoio para um novo arcabouço que enterre o credo neoliberal que reina desde os anos 1980 e defendeu as medidas tomadas na Casa Branca: “Os Estados Unidos se movem, estão avançando, não podemos parar agora.“

O discurso do presidente ao Senado e à Câmara dos Representantes, um rito anual da política americana, ocorreu este ano em condições anômalas, como praticamente tudo neste ano pandêmico. Os cerca de 1.600 convidados foram reduzidos, desta vez, para cerca de 200 e a segurança foi reforçada em todo o perímetro do Capitólio, por causa dos alertas ativados desde o assalto sofrido pelo local em 6 de janeiro perpetrado por radicais que estavam precisamente tentando torpedear a chegada de Biden à Casa Branca. Nesta noite, ladeado pela primeira vez por duas mulheres ―a presidenta da Câmara, Nancy Pelosi, e a vice-presidenta do país, Kamala Harris―, o democrata fez uma declaração que dificilmente imaginou que faria durante seus 36 anos como senador, onde conquistou fama de moderado e pacificador. “É hora de fazer crescer a economia de baixo para cima”, sublinhou, em um discurso de pouco mais de uma hora, no qual também fez um apelo pelo fortalecimento do sindicalismo e pela arrecadação de impostos para os mais ricos.

Biden mostrou aquele otimismo que faz parte do DNA do país ―“A América está em movimento novamente. Transformando o perigo em possibilidade. Crise de oportunidades”―, destacou o 1,3 milhão de empregos criados em três meses, um recorde nos primeiros 100 dias para qualquer presidente da história, e pediu mais artilharia. O democrata tomou as rédeas do país em um momento inusitado e crítico, diante de um grande desafio, e decidiu aproveitar a crise para lançar um pacote de estímulos e reformas estruturais de grande significado social. Em março, conseguiu aprovar um plano de resgate de 1,9 bilhão de dólares que já parecia excessivo aos republicanos, então apresentou um plano de infraestrutura de 2,3 bilhões. Nesta quarta-feira, aproveitou o encontrou entre os norte-americanos e seus legisladores para apresentar um novo programa, dirigido a famílias, que amplia a educação pública, orçado em 1,8 trilhão.

Para financiá-lo, propõe mais recursos para o combate à sonegação fiscal, aumento de impostos para empresas e para cidadãos que ganham mais de 400.000 dólares por ano, de 37% para 39,6%. Qual deve ser o tamanho do governo e a intensidade da intervenção na economia divide os americanos. Os republicanos rejeitam novas medidas de gastos, enquanto os democratas as veem como um investimento. Para os republicanos, o aumento dos impostos é um revés, principalmente depois do grande corte aprovado por Donald Trump em 2017. Biden garante que seu foco é apenas “1% mais rico” e que a classe média não vai pagar nada a mais.

Biden enviou uma mensagem cuidadosamente dirigida ao trabalhador de macacão azul, aquele que perdeu nas transformações econômicas das últimas décadas e de quem Trump soube se aproximar. Depois de anos de críticas nos quais os democratas foram acusados de não saberem ler a angústia da América do chão de fábrica, o democrata tentou assegurar-lhe de que pensa nele em todos e em cada um dos planos econômicos que formulou. Por exemplo, o presidente apresentou as ambiciosas metas ambientais com as quais os Estados Unidos acabaram de se comprometer como fonte de empregos técnicos e manufatureiros, em vez de a sentença de morte para outras indústrias. “Quando penso em mudança climática, penso em empregos”, enfatizou. Não há razão, continuou ele, para que as turbinas para os moinhos de vento “não devam ser produzidas em Pittsburgh, em vez de Pequim”. “Você se sente abandonado e esquecido em uma economia em rápida mudança? Digo que esses empregos são bem pagos e não podem ir para o exterior“, frisou o democrata, que destacou que os “90% dos empregos em infraestrutura não exigem diploma universitário.”

O democrata, em uma guinada muito evidente em relação ao Governo Barack Obama, defendeu o fortalecimento do movimento sindical, destacando: “Wall Street não construiu este país, a classe média construiu este país. E os sindicatos constituem a classe média“. E disputou com Trump a bandeira do patriotismo econômico, prometendo que o plano de emprego será baseado “em um único princípio”: “Compre produtos americanos”. “Os dólares dos contribuintes dos EUA serão usados para comprar produtos americanos que criam empregos americanos.”

Biden completou seus primeiros 100 dias no cargo com índices de aprovação razoavelmente bons (59%, de acordo com dados da Pew Research, contra 39% obtidos por Trump por volta das mesmas datas), com a gestão da pandemia como o aspecto mais valorizado e a imigração como o pior. No auge da chegada de migrantes sem documentos à fronteira, o democrata pediu aos legisladores que aprovem seu projeto de lei para aumentar a segurança na fronteira e para fornecer um caminho rumo à cidadania para os cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos que existem nos Estados Unidos.

Ele também se referiu à China e à Rússia, países rivais com os quais o democrata mantém um tom duro. Ele garantiu que não busca uma “escalada de tensão” com o Kremlin, mas alertou que as ações russas ―como interferência eleitoral e ataques cibernéticos― “têm consequências”. Também disse que não busca um “conflito” com Pequim, mas vai lutar contra a concorrência econômica desleal.

O republicano também se referiu à morte do afroamericano George Floyd sob o joelho do agente Derek Chauvin, que foi considerado culpado na semana passada pelo júri em Minneapolis, e pediu ao Congresso que aproveite o aniversário do crime, em 25 de maio, para aprovar uma lei de reforma policial que ajude a prevenir abusos e que leve seu nome.

O último discurso de Donald Trump no Congresso, em fevereiro de 2020, mostrou o clima de hostilidade que prevalece na política americana. Aconteceu um dia antes de ser votado o veredicto do primeiro impeachment, do qual foi absolvido. Logo após iniciar, o republicano se recusou a cumprimentar a presidenta da Câmara dos Deputados, a poderosa democrata Nancy Pelosi. Trump falou por mais de uma hora, defendendo sua gestão e atacando a imigração. Ao terminar, Pelosi se levantou e rasgou os papéis do discurso de Trump com óbvio desprezo. Desta vez não houve drama, ninguém rasgou roupas ou papéis, mas os republicanos deixaram a Câmara se dizendo contrários aos planos de expansão do Governo que tinham acabado de ouvir, deixando claro que as negociações no Congresso serão árduas e que a promessa de uma era de cooperação bipartidária será difícil de cumprir.



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