Um semana na trilha dos ‘salvadores de almas’ do Acre
Equipe 91, grupo de evangélicos formado por ex-criminosos que se tornaram pastores, age como uma última instância do tribunal do crime em Rio Branco. Quem aceita caminho de Jesus ganha salvo conduto para deixar facções
A diferença entre viver e morrer no Acre mora dentro do WhatsApp. A plataforma é uma das mais usadas pela Equipe 91, um grupo de ex-criminosos que se tornaram pastores e agora funciona como espécie de corte de apelações para o tribunal do crime do Estado. Quem deseja deixar a vida fora da lei, promete se converter ao cristianismo e é filmado fazendo a nova profissão de fé. Na imagem, o pastor Conrrado Sena lidera um culto.Avener PradoOs pastores se dirigem especialmente aos líderes das facções. O Acre é um território estratégico para o crime organizado, por fazer fronteira com a Bolívia e o Peru, dois dos maiores produtores de cocaína do continente. Na imagem, uma inscrição do Comando Vermelho nas ruas de Rio Branco. O grupo de origem carioca hoje domina este Estado.O nome Equipe 91 vem do salmo bíblico de mesmo número, segundo o qual se livrarão da “peste perniciosa” os que estão ao lado do Senhor. Evangélicos sem ligação com nenhuma igreja específica, os membros da equipe são ex-presidiários que abraçaram a palavra de Deus.A maioria das intervenções se dá virtualmente. A Equipe 91 filma os novos testemunhos de fé e envia às instâncias superiores do crime.Avener PradoUm dos artífices da iniciativa, o pastor Conrrado é protagonista e testemunhou uma transformação sem precedentes no mundo do crime do Norte. Foi um dos criminosos mais célebres do Acre, assaltante de banco conhecido em todo o Brasil. Preso, inaugurou o presídio federal de Mato Grosso do Sul, em 2007. Reunido com a elite criminosa do país, acompanhou, durante os banhos de sol, a integração do Acre com as facções do Sudeste.Avener PradoA reportagem do EL PAÍS acompanhou a Equipe 91 em agosto. A pandemia mudara a rotina dos pastores, mas não de todo. Eles nunca chegaram a ter os chamados completamente interrompidos. Na foto, Conrrado Sena conduz seu destacamento na escuridão da periferia de Rio Branco. Por telefone, recebe as coordenadas e repassa a todos no pelotão de trabalho.Avener PradoFrancisco Ferreira da Conceição, 46 anos, foi da "velha guarda" do crime em Rio Branco e viu tudo se tornar uma guerra sangrenta sem precedentes. Entrou "na bênção", o jargão que usam para a conversão, e hoje desenvolve o trabalho de "resgate de almas dos soldados do crime".Avener PradoA maior parte dos atendimentos é feita à noite, em uma cidade esvaziada. A guerra entre facções e o aumento da violência provocou há alguns anos uma mudança em Rio Branco, impondo espécie de toque de recolher informal.Avener PradoA influência evangélica como contrapeso às facções não está apenas nas ruas. O instituto que administra as prisões do Acre criou no início de 2020 um pavilhão exclusivo para evangélicos na Penitenciária Francisco de Oliveira Conde, a maior do Estado. São 625 presos divididos em 25 celas.Avener PradoNo Acre, o CV é majoritário, mas ainda enfrenta uma pequena resistência do PCC, que controla a Cidade do Povo em associação ao B13, facção local criada como oposição às do Sudeste.Avener PradoNas reuniões noturnas da Equipe 91, visitas a casas e cultos, onde os antigos integrantes das facções formalizam a entrada "na bênção", o termo usado para a conversão.Avener PradoO missionário Regimar Souza do Nascimento, 46, a estima que a Equipe 91 já livrou da morte mais de mil pessoas, quer em audiências especiais improvisadas ou virtuais. Nas últimas, a intervenção é feita sob medida e gravada pelo WhastApp, e o vídeo serve como prova da mudança de vida.Avener PradoO grupo também atua fora de Rio Branco. A interiorização do domínio das facções é um dos problemas se segurança emergentes no Estado.Avener PradoJovens em comunidade rural nos arredores de Rio Branco. A chegada do Comando Vermelho transformou a dinâmica da região. Ao centro, um jovem que foi salvo de sentença de morte pela Equipe 91.Comunidade assiste reverente ao culto da Equipe 91, que promete salvar Lucena (nome fictício), de 30 anos, da sentença de morte.Avener PradoChega ao fim mais uma intervenção da Equipe de 91, com a gravação do testemunho que serve de "salvo-conduto" de vida.Avener Prado