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Investigação acusa YouTube de promover o negacionismo climático

ONG Avaaz solicita à plataforma que deixe de recomendar conteúdos ‘tóxicos’ e que permita às empresas não anunciarem em vídeos desse tipo

Manuel Planelles
Captura de vídeos do YouTube que negam a mudança climática.
Captura de vídeos do YouTube que negam a mudança climática.
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A grande plataforma de vídeos YouTube, pertencente ao Google, está falhando no controle da desinformação a respeito da mudança climática. Uma investigação realizada pela organização não governamental Avaaz e divulgada nesta quinta-feira mostra que o YouTube "induz milhões de pessoas a verem vídeos de desinformação climática todos os dias". Embora a ONG admita que a plataforma já fez algumas melhoras, seu algoritmo de recomendações continua sendo um aliado das teorias conspiratórias sobre o aquecimento global, e seu sistema leva os anúncios de grandes empresas — e inclusive de reconhecidas ONGs ambientais, como WWF e Greenpeace — a acompanharem esses vídeos tóxicos.

"Exigimos que o YouTube deixe de recomendar e promover conteúdo desinformativo pernicioso", diz Julie Deruy, coordenadora de campanhas do Avaaz. A ativista nega que sua organização busque censurar vídeos. "Este conteúdo", afirma ela em referência aos vídeos com desinformação sobre o aquecimento global, "pode permanecer no YouTube, mas não deveria ser recomendado ou promovido entre os usuários". "Queremos um debate igualitário e saudável, baseado em fatos", acrescenta. Mas "os algoritmos da plataforma priorizam conteúdos revoltantes e aditivos, e os negacionistas da mudança climática estão usando os buracos do sistema para promover mentiras virais, pondo em perigo a capacidade das pessoas de manterem uma discussão razoável", observa Deruy em conversa por email com o EL PAÍS.

"Nossos sistemas de recomendações não foram concebidos para filtrar ou prejudicar vídeos ou canais em função de perspectivas específicas", defendeu-se o Google nesta quinta. Em todo caso, a companhia afirma ter feito investimentos para "reduzir as recomendações de conteúdo-limite e a informação errônea ou nociva".

Durante cinco meses, cerca de 30 membros do Avaaz analisaram mais de 5.500 vídeos alojados na plataforma multimídia. Trata-se dos vídeos que o site recomenda aos seus usuários como “vídeo seguinte" e na barra de sugestões. Para chegar a eles, partiram de três buscas (em inglês): "aquecimento global", "mudança climática" e "manipulação climática". E o resultado desta investigação revela que entre 8% e 21% dos 100 primeiros vídeos recomendados contêm "desinformação" sobre a crise climática que o planeta atravessa. A busca que oferece menos conteúdos tóxicos é por "mudança climática", e a que mais leva a esses vídeos é "manipulação climática".

Para sua investigação, os membros do Avaaz classificaram como "negação climática e desinformação" os conteúdos que eram comprovadamente falsos ou enganosos e que tinham "o potencial de causar dano público, como solapar o apoio público aos esforços para limitar a mudança climática". E para isso partiram das pesquisas publicadas pelo IPCC (comitê científico internacional que assessora a ONU em questões climáticas), pela NASA, pela NOAA (agência oficial dos EUA para questões atmosféricas) e publicações científicas revisadas por pares.

Negacionismo patrocinado

Mas a investigação do Avaaz vai um passo além e também denuncia que muitos desses vídeos negacionistas são acompanhados de anúncios de grandes empresas internacionais ou até mesmo de ONGs ambientalistas, que há anos lideram o ativismo contra a mudança climática. O estudo identificou anúncios de mais de uma centena de empresas vinculadas a esses vídeos tóxicos. "Samsung, L'Oréal, Decathlon, Carrefour, WWF, Greenpeace Espanha, Nikin e Ecosia confirmaram à Avaaz que não estavam a par de que seus anúncios apareciam junto com esses vídeos", explica-se no estudo. "Todas estas empresas exigiram ao YouTube que tome medidas imediatas", acrescenta o relatório.

A inclusão destes anúncios representa uma via de financiamento para esse negacionismo através do "programa de monetização" do YouTube. "Cada vez que se mostra um anúncio num vídeo do YouTube, o anunciante paga uma tarifa da qual 55% vão para o criador do vídeo, e os outros 45% para o YouTube", especifica a investigação.

Esta plataforma, assim como o Google, há anos está consciente do problema da intoxicação e das teorias conspiratórias. De fato, em fevereiro de 2019 o Google divulgou um documento sobre a forma como a luta contra a desinformação em que afirma estar implantando medidas para que seus "sistemas" não divulguem conteúdos capazes de "desinformar os usuários de uma maneira nociva", especialmente em assuntos relacionados com "a ciência, a medicina, as notícias e os acontecimentos históricos".

"É um bom primeiro passo, mas não é absolutamente suficiente", aponta Julie Deruy. "A companhia deveria começar por desintoxicar seus algoritmos, o que significa redesenhá-los para que a desinformação e os conteúdos perniciosos não sejam recomendados aos usuários", explica. A Avaaz pôs sobre a mesa uma lista de recomendações. E, segundo Deruy, o primeiro passo que o YouTube precisa dar é definir "claramente o negacionismo climático como desinformação" e que ofereça "imediatamente aos anunciantes a opção de excluir sua publicidade dos vídeos que contenham desinformação sobre a mudança climática". O Google, por sua vez, afirmou que "o YouTube tem políticas publicitárias rigorosas que regem onde se permite que os anúncios apareçam” e oferece aos anunciantes ferramentas para “descartar o conteúdo que não se alinhe com sua marca”.

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