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Cinco gafes no jantar da empresa que se repetem todos os anos e deveríamos corrigir já

Algumas se devem somente à desinibição, outras satisfazem desejos sexuais latentes, todas podem se transformar no mexerico do trabalho durante os próximos doze meses

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Todo ano é uma repetição do anterior. Cerimonial idêntico e o mesmo gesto emburrado quando nos é comunicado que a empresa organiza um almoço ou jantar de Natal. Cochichos nos corredores sobre como será dessa vez e esse zunzum por cada detalhe do convite. A simples menção do evento faz com que ressoe em nossas cabeças o tilintar do chefe anunciando o temido discurso de Natal. Esse gole é necessário?

Parece que sim, de acordo com o psicólogo Gabriel Schwartz, bom conhecedor dos recursos humanos após 25 anos na área trabalhista. “Ainda que pareça trivial – diz –, as reuniões de final de ano são pensadas para compartilhar um momento de festejo entre os que estiveram próximos durante doze meses. É bom para a empresa planejar eventos que permitam que todos participem e os colaboradores se sentirão contentes participando. Fazem parte do trabalho e de nossa vida. De acordo com sua cultura e suas peculiaridades, cada empresa fará seu estilo de comemoração”.

O problema apontado por Schwartz é que, por ser um momento de distensão, “nossas defesas baixam” e acabamos arrumando confusão. Entramos titubeantes no local sem saber muito bem onde está o lugar de cada um e pressentindo que ocorrerão desavenças. “Sempre acontecem, da mesma forma que no âmbito familiar”, diz o especialista. Um pouco depois, as histórias serão suficientes para encher os doze meses do próximo calendário. Quais são as gafes mais comuns, aquelas que é preciso evitar para não estar nas bocas dos colegas durante os próximos doze meses?

Nunca falar demais passa menos desapercebido

Em estado ébrio é difícil falar com cordura e qualquer comentário, mesmo que pareça inocente, pode causar uma discussão. Isso é corroborado por uma pesquisa realizada pela empresa de pesquisa de mercados OnePoll, cujas conclusões foram publicadas no New York Post: dois em cada cinco funcionários presenciaram uma cena incômoda e histórias demasiadamente quentes para conseguir manter a boca fechada. Cada convidado volta para casa com uma média de sete fofocas sobre seus colegas, de modo que não é estranho que 75% dos empregados esperem com avidez esse encontro deixando claro que qualquer lamento é pura hipocrisia. Convém lembrar que é mais fácil prestar atenção ao que se diz do que o que sai por bocas alheias.

Retirar o espertinho que fica dentro de você (e lá deve ficar)

“A refeição incita o reforço dos vínculos; divertir-se e mostrar facetas desconhecidas enriquece a relação. Nas reuniões se descobre que alguém sabe cantar e tocar um instrumento, e é bom dançando e o melhor contando piadas”, diz o psicólogo. Uns decidem brilhar e ser a alma da festa, enquanto outros precisam de um empurrão para se integrar.

Mas não é fácil dividir a mesa com o comilão, o puxa-saco, o bem-educado, o estraga-prazeres, o chato, o pedante, o desagradável e o irritante que acaba abraçado a não se sabe quem, mas que decidiu que essa noite será seu amigo. O melhor que pode acontecer é aproveitar um delicioso menu, estreitar laços com colegas, se aproximar do chefe, beber álcool grátis e ficar a par da melhor fofoca. “Se há algum pequeno excesso, também não é grave. Mas como em qualquer ocasião, os extremos são ruins”, diz Swchartz. Se a pessoa decide ser o centro das atenções pode conquistar algumas amizades, mas não deve se esquecer de que a exposição pode trazer consequências imprevistas.

Os chefes são humanos: não deixarão de tomar nota

Que distância deveríamos guardar ao brindar com os mandachuvas? O prudente é não se mostrar muito carinhoso e demasiadamente litúrgico, vamos agir com boas maneiras, que aconselham naturalidade e discrição. “Os chefes – diz o psicólogo – são pessoas, mas continuam mandando. Ainda que sua atitude dependa do vínculo com seus empregados, não vamos perder de vista que prestarão atenção a qualquer dado que revele mais sobre quem é e como é cada um”. As pessoas tendem a julgar os outros, e se você é um superior o julgamento pode ser devastador: baixar a guarda pode acabar servindo somente para dar-lhes motivos para mudar de opinião em relação a nós... para pior. E o álcool é muito eficiente para diminuir o nível de alerta, deixando pouco resquício às preocupações e ao senso comum.

Resolver a tensão sexual com um colega (ou um superior)

A conversa pós-refeição, com o espírito festivo elevado a outra dimensão, parece que incita a dar rédeas soltas às paixões e às tensões sexuais não resolvidas entre colegas. O Detectives Global Risk destaca um dado: 57% dos homens e 63% das mulheres reconhecem ter sido infiéis aos seus companheiros após um jantar de Natal. “A mudança do cenário habitual pode levar a uma maior desinibição entre os colegas, que misturada ao ambiente de festa pode levar ao adultério”, escrevem em um blog de seu site. Aproximadamente 4% dos homens afirmam ter sido infiéis com sua chefa, enquanto 13% das mulheres tiveram um encontro íntimo com seu chefe.

O aplicativo de encontros Victoria Milan, cujos usuários são de início infiéis, traz dados semelhantes e acrescenta que quase todo mundo sente a necessidade de se sentir atraente. 53% de suas usuárias beijaram algum colega nessa festa e 18% dos casos acabaram em sexo. Nos homens, a porcentagem do beijo sobe a 55% e 27% as ocasiões em que o jantar teve como epílogo um encontro sexual. O Ashley Madison, outro site de encontros extraconjugais, diz que 38,3% de seus usuários confessam ter passado essa noite com um superior. 60% dos homens foram descobertos por suas companheiras. Quer os dados mostrem a realidade com detalhes, quer venham de pesquisas enviesadas, vale a pena refletir sobre outra das estatísticas que trazem: somente 22% decidem repetir.

Nem todas as noites se comemora o Natal

Voltando à pesquisa da OnePoll, um em cada três funcionários faz algo de que se arrepende. 35% chega tarde ao trabalho e 17% tem a pouca decência de faltar. Uns por vergonha, outros por autêntica indisposição. É a rara virtude das bebidas alcoólicas servidas em abundância, que avivam a criatividade e a pessoa acaba misturando o divino com o humano. A pior gafe é nos esquecer de que o Natal só se comemora uma vez por ano, e que os colegas de trabalho são pessoas com as quais precisamos lidar em um entorno profissional os outros 364 dias, talvez tão rápido como no dia após a noite de farra.

Por fim acabaremos sem saber muito bem quem é quem e cantando Noite Feliz, brindando, com o copo meio cheio ou meio vazio, pelo que já se passou da noite e o que ainda resta. Como se cada ano novo trouxesse um novo destino. Ao nosso lado, Nietzsche: “Bem-aventurados sejam os esquecidos, que voltam a tropeçar na mesma pedra”.

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