_
_
_
_
_

Telefónica enxuga seus negócios na América Latina e se concentra em Europa e Brasil

Pallete direcionará os investimentos aos quatro mercados principais da empresa e abre a porta à venda das filiais latino-americanas ante a instabilidade geopolítica e cambial

Ramón Muñoz

A Telefónica anunciou nesta quarta-feira uma mudança organizacional profunda e quase revolucionária em sua estrutura como grupo multinacional. A operadora unificará todos os seus negócios na América Latina em uma única subsidiária independente (spin off), com a finalidade de vendê-la ou levá-la à Bolsa de Valores, e concentrará seus investimentos em seus quatro principais mercados (Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido). Também criará uma nova filial (Telefónica Tech) para negócios de serviços digitais, como cloud — computação em nuvem —, cibersegurança e Internet das Coisas (IoT), e uma subsidiária de infraestrutura (Telefónica Infra).

O presidente-executivo do Grupo Telefónica, José María Álvarez-Pallete, durante a coletiva de imprensa desta quarta-feira.
O presidente-executivo do Grupo Telefónica, José María Álvarez-Pallete, durante a coletiva de imprensa desta quarta-feira.Kiko Huesca (EFE)

A decisão foi adotada em Barcelona em uma reunião do conselho de administração que durou dois dias e, conforme definiu seu presidente-executivo, José María Álvarez-Pallete, vai representar a mais importante reorganização desde que ele assumiu o cargo em 2016.

Mais informações
“Não somos pessimistas sobre o Brasil. O investimento da Telefónica é de longuíssimo prazo”
A desigualdade mobiliza latinos a voltarem às ruas para protestar

Assim, haverá uma mexida em sua estrutura internacional para se concentrar nos negócios com maior projeção e nos mercados mais consolidados, fugindo daqueles em que a instabilidade política, regulatória e cambial não aconselham um excesso de recursos, como é o caso de mercados como Colômbia, Chile e Venezuela.

A nova filial concentrará todos os negócios que a operadora espanhola mantém na América Latina, exceto o Brasil, após a recente venda das filiais da região (México, Colômbia, Venezuela, Chile, Argentina e Peru). O destino desta subsidiária ainda não foi definido. Vai buscar parceiros externos, alianças para compartilhar redes e até não se descarta a possibilidade de venda ou IPO. Terá uma diretoria própria, liderada por Alfonso Gómez, atualmente responsável pela Hispam Norte (México), e uma gestão totalmente independente.

Pallete admitiu que a instabilidade geopolítica em alguns mercados da América Latina aconselha uma virada histórica na política do grupo, que tem na região seu principal campo de crescimento há décadas. "Se tivermos que reduzir nossa exposição e risco na América Latina, faremos isso. Não descartamos nenhuma opção", disse ele em entrevista coletiva.

“A história de nossa empresa não pode ser entendida sem a aposta já há 30 anos na América Latina, o que fez da Telefónica uma empresa melhor. Sempre demonstramos um forte compromisso com a região, mesmo em seus momentos mais difíceis. Nossas operações na América Latina eram até alguns anos atrás o motor de crescimento da empresa. No entanto, as condições específicas nesses mercados impactaram a evolução dos negócios, reduzindo sua contribuição nos últimos anos por diferentes razões, apesar dos enormes esforços das equipes locais, que sempre demonstraram um forte compromisso”, acrescentou Álvarez-Pallete.

Poupança considerável

Espera-se que a implementação de todas essas medidas permita gerar, entre outros efeitos, mais de 2 bilhões de euros (9,4 bilhões de reais) adicionais de receita e dois pontos percentuais de melhoria na margem de fluxo de caixa operacional (FCO) em 2022.

Atualmente, Espanha, Brasil, Alemanha e Reino Unido constituem os quatro principais mercados da Telefónica, dos 14 em que atua, uma vez que concentram 218,1 milhões de linhas (63% do total) e 80% da receita, Oibda e fluxo de caixa operacional (FCO).

Portanto, o plano da empresa é priorizar o grosso de seus investimentos nesses quatro mercados, melhorando a oferta e os serviços proporcionados aos clientes, com a alavanca propiciada pelo relacionamento existente com milhões de usuários em mercados relevantes e com potencial de crescimento nesta nova fase. "Em resumo, concentrar os recursos nos mercados mais valiosos", assinala a empresa.

Sob o comando do CEO da Telefónica, Ángel Vilá, estão os atuais quatro diretores desses mercados: Emilio Gayo (Espanha), Christian Gebara (Brasil), Mark Evans (Reino Unido) e Markus Haas (Alemanha).

Duas novas filiais

O conselho de administração da Telefónica também concordou com a criação da Telefónica Tech, uma unidade que aglutinará os negócios digitais com alto potencial de crescimento, como cibersegurança, Internet das Coisas / Big Data e nuvem (cloud). Querem impulsionar o crescimento dessas atividades que, de forma agregada, já estão obtendo aumentos de faturamento acima de 30%. Esta unidade poderá ser expandida no futuro se aparecerem novas oportunidades de negócios. Da mesma forma, está aberta a aquisições que complementem o portfólio, como vem acontecendo nos últimos anos.

Na Telefónica Tech serão integradas as unidades atualmente dedicadas à prestação dos serviços mencionados, e essa unidade será a encarregada da oferta de valor que as equipes comerciais de cada país apresentarão aos clientes. Além disso, pretende-se exportar a proposta para outros países onde a Telefónica não está presente mediante acordos com outras empresas.

A expectativa é de que a unidade gere mais de 2 bilhões de euros (9,4 bilhões de reais) de receita adicional em 2022. O executivo-chefe desta nova empresa será José Cerdán, até agora chefe global do segmento B2B na Telefónica, reportando-se ao CEO da Telefónica.

Também será criada a Telefónica Infra, que, com 50,01% da Telxius como primeiro ativo, aglutinará as participações acionárias da Telefónica em veículos de infraestrutura de comunicações, entregando serviço a terceiros operadores e incorporando sócios.

Por meio dessa subsidiária, a Telefónica busca valorizar um portfólio único de ativos, com foco no desenvolvimento e monetização de torres, sistemas de antenas distribuídas, data centers, projetos greenfield de fibra ou cabos submarinos, entre outros. A Telefónica Infra está aberta a diferentes esquemas de participação acionária (majoritária ou minoritária) e aos melhores parceiros para cada tipo de ativo. Também sob o comando de Ángel Vilá, o CEO da Telefónica Infra será Guillermo Ansaldo, que liderou até o momento a unidade de Recursos Globais do Grupo Telefónica.

Novo organograma

A quinta iniciativa anunciada nesta quarta-feira pela Telefónica é uma mudança no organograma, com a modificação da estrutura do Comitê Executivo do Grupo Telefónica. Além dos quatro principais países, a Telefónica Tech e a Telefónica Infra, estarão sob o comando do CEO, Ángel Vilá: Tecnologia e Arquitetura, Digital Consumer e Business Solutions.

A unidade de Tecnologia será a responsável por definir as diretrizes tecnológicas estratégicas do Grupo, com Enrique Blanco na liderança. A diretoria Digital Consumer tem como principal objetivo estabelecer os novos modelos de relacionamento com o cliente, melhorar sua experiência com serviços digitais, desenvolvimentos e produtos inovadores. À frente estará Chema Alonso, atualmente Chief Data Officer da Telefónica e responsável pelo Aura, o projeto de Inteligência Cognitiva da empresa. A unidade de Business Solutions está voltada para potencializar os multicanais, o relacionamento com atacadistas e o desenvolvimento global de produto B2B. Para aproveitar as sinergias e as oportunidades com a área da Telefónica Tech, terá à frente José Cerdán.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_