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China ‘desliga’ NBA após apoio de um diretor aos protestos de Hong Kong

Televisão chinesa suspende a exibição dos jogos, e a liga de basquete dos EUA defende a liberdade de expressão depois da polêmica

Robert Álvarez
James Harden, no Rockets x Raptors desta terça-feira no Japão.
James Harden, no Rockets x Raptors desta terça-feira no Japão.KAZUHIRO NOGI (AFP)
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A China e a NBA mergulharam em um conflito que ameaça a expansão da mais poderosa liga de basquete do mundo no seu mais importante mercado fora dos Estados Unidos. Está em jogo um negócio que gera bilhões de dólares por ano e a compatibilidade ou não com as políticas do gigante asiático e com a liberdade de expressão. A emissora pública chinesa CCTV cancelou a exibição dos jogos da pré-temporada da NBA e a cobertura das duas partidas que Lakers e Brooklyn Nets disputam na terça-feira, em Xangai, e no sábado, em Shenzen. A disputa eclodiu depois que o diretor-geral do Houston Rockets, Daryl Morey, tuitou na sexta-feira: “Lute pela liberdade, apoie Hong Kong”. O próprio Morey, depois das críticas e insultos que recebeu, apagou o tuíte. Representantes da liga norte-americana se distanciaram do comentário, numa tentativa de apaziguar a indignação da Administração chinesa por essa mensagem de apoio aos manifestantes de Hong Kong.

Adam Silver, o comissário da NBA, veio a público na segunda-feira em Tóquio, onde o Rockets e o Toronto Raptors, atual campeão da Liga, disputam dois jogos da pré-temporada, e defendeu a liberdade de expressão. “Estou solidário com nossos interesses aqui e com nossos sócios que estão incomodados”, afirmou o máximo dirigente da NBA. “Não acredito que seja incompatível me solidarizar com eles e ao mesmo tempo defender nossos princípios. Mas se essas são as consequências de aderirmos aos nossos valores, sinto que é ainda mais importante aderir a eles”.

Alguns empresários norte-americanos pediram a Silver que tomasse as rédeas do assunto e ajudasse a pacificar a situação. O comissário observou que “isso é muito mais importante do que fazer crescer nosso negócio. Os valores da igualdade, respeito e liberdade de expressão há muito tempo definem a NBA, e continuarão defini-la. Como uma liga norte-americana que opera em nível global, uma de nossas maiores contribuições é a defesa destes valores do esporte”.

A resposta da CCTV foi taxativa. “Estamos muito insatisfeitos e nos opomos à reivindicação de Adam Silver de apoiar o direito de Morey à liberdade de expressão”, disse o canal em nota. “Acreditamos que qualquer comentário que desafie a soberania nacional e a estabilidade social não esteja dentro do âmbito da liberdade de expressão.” A emissora estatal, que já tinha anunciado que não exibirá os jogos dos Rockets, decidiu também cancelar a transmissão dos amistosos entre o Lakers de LeBron James e o Brooklyn Nets. A Vivo, fábrica chinesa de smartphones e patrocinadora dos dois jogos da pré-temporada em solo chinês, levou várias empresas chinesas a suspenderem seus negócios com a NBA. Yao Ming, presidente da federação chinesa de basquete, qualificou de “inapropriados” os comentários de Morey e manifestou sua “forte oposição”. Uma opinião de muito peso, já que o ex-pivô, de 2,29 metros e que atuou na NBA justamente com o Houston Rockets entre 2002 e sua aposentadoria, em 2011, é uma lenda do basquete e do esporte chinês. Em poucas horas, milhares de mensagens foram dirigidas à conta de Morey, muitos a partir do Twitter, que é vetado na China, mas que o país asiático utiliza com fins propagandísticos perante o exterior. Em muitas dessas mensagens havia a sigla “NMSL”, abreviatura em chinês de “sua mãe morreu”.

“Pedimos desculpas. Amamos a China. Gostamos de jogar lá”, afirmou James Harden, astro do Rockets, em uma entrevista coletiva em Tóquio, junto ao seu novo colega de time Russell Westbrook. O ativista e artista plástico Badiucao respondeu com um desenho em que caracteriza Harden como a polêmica chefa do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, e a mensagem: “Você e a NBA não amam a China coisa nenhuma! O que amam é o dinheiro da China. Seu lamentável pedido de desculpas mata a esperança de uma Hong Kong e uma China livres e democráticas”. Silver planeja se reunir com funcionários do Governo chinês.

Um mercado gigantesco com 500 milhões de torcedores

O basquete é um dos esportes mais populares na China, o país mais povoado do mundo, com 1,4 bilhão de cidadãos – dos quais cerca de 300 milhões praticam esse esporte. A NBA tem presença no país desde que abriu seu primeiro escritório em Hong Kong, em 1992. Agora, mantém relações com vários canais de televisão e sites, incluindo uma associação de três décadas com a emissora pública CCTV.

A NBA China, responsável pelos negócios da liga no país, começou a operar em 2008 e vale mais de quatro bilhões de dólares (16,3 bilhões de reais), segundo a Forbes. Desde 2014, 17 equipes da NBA jogaram 26 partidas em Pequim Cantão, Macau, Xangai, Shenzhen e Taipei. A NBA e a Tencent, um meio de comunicação chinês que oferece uma plataforma de retransmissão ao vivo, anunciaram a renovação de um acordo para a temporada 2024-2025 no valor de 1,5 bilhão de dólares (6,1 bilhões de reais), e estima-se que 500 milhões de torcedores chineses consumam conteúdos da NBA. As franquias da liga norte-americana registraram um aumento de 47 milhões de novos seguidores nas plataformas de redes sociais chinesas durante a temporada 2018-19, segundo o relatório anual da liga sobre o rendimento digital das equipes.

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