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Limitar reenvio de mensagens no WhatsApp retarda, mas não impede, propagação de notícias falsas

Equipe de pesquisadores rastreia 784.000 imagens compartilhadas em grupos públicos do aplicativo durante processos eleitorais

Isabel Rubio
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A cada minuto, 41 milhões de mensagens são enviadas através do WhatsApp, segundo a Visual Capitalist. Entre elas, há boatos e notícias falsas que se propagam a toda velocidade. A empresa, pertencente ao Facebook, tentou frear a divulgação de informações falsas limitando o encaminhamento de mensagens para apenas cinco contatos. Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) comprovou que essa medida retarda a disseminação de notícias falsas, mas não a impede totalmente.

O reenvio de memes, fotos manipuladas ou vídeos e áudios sem contexto tem sido, nos últimos anos, uma das maiores dores de cabeça do WhatsApp. Os boatos compartilhados diariamente no serviço de mensagens instantâneas incluem teorias da conspiração, informações erradas sobre vacinação e mensagens falsas sobre sequestradores de crianças que provocaram espancamentos em massa na Índia. A difusão de notícias falsas também afetou processos eleitorais. As eleições presidenciais de 2018 no Brasil, por exemplo, motivaram campanhas agressivas de desinformação dirigidas diretamente aos celulares dos eleitores.

O WhatsApp tomou medidas para combater o problema. Em julho de 2018, começou a informar aos usuários quando as mensagens que recebiam tinham sido reenviadas de outra conversa e limitou o encaminhamento de mensagens para 20 pessoas ou grupos diferentes ao mesmo tempo. Depois, anunciou que a restrição iria além: os usuários só poderiam reenviar um texto, áudio ou imagem para cinco contatos ou grupos diferentes. "Você só pode compartilhar com até mais cinco conversas", alerta o WhatsApp desde janeiro quando o usuário tenta reenviar uma mensagem para um número maior de contatos.

Para comprovar até que ponto é eficaz limitar o reenvio de mensagens, os pesquisadores se uniram a grupos públicos do WhatsApp no Brasil, na Índia e na Indonésia nos quais se falava sobre política. Os links para acessar esses grupos, que têm um limite de 256 usuários, estavam disponíveis publicamente online. Os grupos públicos, segundo os autores do estudo, são a espinha dorsal das campanhas de desinformação pelo WhatsApp. No entanto, a maioria dos grupos no aplicativo é privada e, por isso, os pesquisadores não puderam ter acesso a eles.

"Esta pesquisa nos permitiu compreender a rapidez com que as informações podem viajar através da rede subjacente do WhatsApp. Essa rede tem características muito particulares, como a presença de grupos públicos, que conectam diretamente comunidades de pessoas que, de outra forma, seriam distantes", afirma Pedro O. S. Vaz de Melo, um dos autores do estudo.

"Esta pesquisa nos permitiu compreender a rapidez com que as informações podem viajar através da rede subjacente do WhatsApp"

Nos grupos analisados, os usuários compartilhavam "todos os tipos de mensagens relacionadas com política, mas principalmente textos, imagens e memes a favor ou contra um determinado grupo político". Os pesquisadores monitoraram os grupos durante o período da campanha eleitoral e coletaram as seguintes informações: o país onde a mensagem foi publicada, o nome do grupo, o ID do usuário, a data e os arquivos multimídia anexados.

No total, rastrearam 784.000 imagens diferentes compartilhadas pelos usuários nos 60 dias anteriores e 15 dias posteriores às eleições em cada um dos três países. Embora quase 80% das imagens tenham sido enviadas apenas uma vez, algumas foram compartilhadas mais de 100 vezes em vários grupos.

A maior parte do conteúdo compartilhado nesses grupos contém informações erradas, segundo os pesquisadores. Por exemplo, uma agência de checagem de fatos no Brasil verificou as 61 principais imagens compartilhadas nesses grupos e descobriu que só 10% delas eram verdadeiras. A esse problema se soma o fato de que a propagação desse tipo de conteúdo pode durar semanas. Embora 80% das imagens tenham parado de ser compartilhadas depois de dois dias, algumas continuaram sendo enviadas nos grupos mais de dois meses depois de sua primeira aparição.

Conteúdo viral

Depois de coletar dados desses grupos públicos, os pesquisadores construíram uma rede para simular e comparar como as informações seriam propagadas utilizando diferentes configurações de WhatsApp −por exemplo, com o limite de reenvio definido para 5, 20 ou 256 contatos. Descobriram que limitar o reenvio para cinco contatos desacelera a disseminação do conteúdo. Mas não a impede por completo. Principalmente quando se trata de conteúdo altamente viral. A propagação desse tipo de mensagem, segundo os pesquisadores, "continua sendo mais rápida que a difusão de informações levemente virais quando não há nenhum limite".

"Os limites de reenvio e transmissão podem reduzir a velocidade de difusão até em uma ordem de magnitude, principalmente em redes maiores, como na Índia. Em redes menores, como na Indonésia, os resultados não são tão surpreendentes. Ou seja, a redução de velocidade é muito limitada", explica Vaz de Melo.

Os pesquisadores sustentam que a natureza fechada do WhatsApp e a facilidade de compartilhar informações em grupos com um grande número de usuários fazem com que seja difícil combater a propagação de informações falsas. O WhatsApp explica que os limites que estabeleceu reduziram significativamente o número de mensagens reenviadas pelos usuários. Um porta-voz da empresa explicou ao portal da revista New Scientist que "nove de cada 10 mensagens no WhatsApp são enviadas entre duas pessoas, e o grupo médio tem menos de 10 pessoas", acrescentando: "Observando apenas os tipos de grupos dentro do estudo, perdem-se as formas mais comuns como as pessoas usam o WhatsApp".

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