Snopes, FactCheck e Politifact: os sites que ajudarão o Facebook a detectar notícias falsas
Iniciativa para evitar a divulgação de farsas conta com a participação de agências brasileiras
O Facebook se associou a veículos especializados na confirmação de notícias para evitar a presença de notícias falsas na rede social. O processo seguirá dois passos, como explica a revista Wired: de um lado, os usuários poderão marcar as notícias como falsas para que uma equipe do Facebook revise se estas publicações procedem de veículos reais ou de sites que tentam dar a impressão de sê-lo (por exemplo, bbc.co em vez de bbc.com).
Caso a notícia proceda de um veículo real, mas o conteúdo seja posto em dúvida, o Facebook remeterá a informação a veículos que comprovarão se se trata ou não de uma notícia falsa. Caso pelo menos dois desses veículos duvidem da veracidade da informação, as histórias aparecerão marcadas como “questionadas”. Poderão continuar sendo compartilhadas, mas terão menor presença na página principal de cada usuário.
No momento, a empresa se associou a cinco veículos, todos membros da Poynter’s International Fact Checking Network. São eles Snopes, FactCheck.org e Politifact, além da ABC News e da agência de notícias AP. Não se descarta a incorporação de mais veículos ao projeto, o que além disso permitiria corroborar notícias publicadas em outros idiomas além do inglês. Falamos aqui dos três primeiros, nem tão conhecidos, e da rede Poynter.
O código ético da Poynter
Poynter é uma associação criada em setembro de 2015 que reúne entidades que se dedicam a comparar a veracidade de notícias e declarações. Conta com um código de princípios ao qual seus membros aderem. Este código inclui o compromisso de transparência das fontes, metodologia e organização, além da aplicação dessas comprovações independentemente do viés ideológico do protagonista ou da publicação.
Mais de 40 veículos de todo o mundo assinaram esse código. Além dos já mencionados, estão líderes como Observador, de Portugal, Full Fact, do Reino Unido, as agências brasileiras Lupa e Truco, e El Objetivo da rede espanhola de TV La Sexta.
Snopes, desmentindo farsas desde 1995
Snopes continua investigando farsas e lendas urbanas desde 1995, quando David Mikkelson abriu a página. Desde então se tornou uma referência, a ponto de, quando começou a polêmica sobre se a farsa tinha influído nas eleições norte-americanas, a revista The Atlantic já se perguntou se o Facebook deveria comprar o Snopes. Não chegaram a isso ainda. O Snopes contava em 2015 com 15 funcionários, como explicou seu fundador em uma entrevista publicada no Washington Post. Também explicou que o Facebook já usava seus desmentidos “para determinar quem não deveria ter muito alcance orgânico”. E acrescentava que os rumores têm sucesso porque “se referem a algo que as pessoas já acreditam ou confirmam algo que as pessoas querem acreditar”.
Barbara Binowski, responsável pelos conteúdos do Snopes, afirmou no site Backchannel que “a maioria das notícias falsas são incrivelmente fáceis de desmentir porque, obviamente, são lixo”. É muito mais difícil corrigir informação errada de meios de comunicação tradicionais.
No momento, Snopes reúne em seu site algumas notícias divulgadas recentemente e colocadas em dúvida: Fisher Price lançou um brinquedo para crianças que é o balcão de um bar (falso), Trump disse que cortará a Seguridade Social norte-americana (falso, até o momento), uma mulher sem teto conseguiu viver de graça durante oito anos na Trump Tower (falso) e um menino doente morreu nos braços de um homem vestido de Papai Noel (sem comprovação).
Politifact, um site vencedor do Pulitzer
Politifact é um site fundado em 2007, de propriedade do jornal da Flórida Tampa Bay Times. Dedica-se a confirmar a veracidade das afirmações de políticos e analistas, medindo-as com seu Truth-O-Meter (algo como um “verdadômetro”). Também escolhe uma “mentira do ano”. A de 2016 é, exatamente, o conjunto de notícias falsas que levou o Facebook a tomar medidas (por exemplo: que Hillary Clinton estaria envolvida em uma rede de pederastia sediado em uma pizzaria). Em 2015 ganhou a campanha eleitoral de Donald Trump e em 2014, os exageros sobre o ebola.
Politifact levou um Prêmio Pulitzer em 2009 por sua cobertura da campanha presidencial de 2008, na qual analisou mais de 750 declarações políticas. O site conta com dez funcionários, dirigidos por Angie Drobnic Holan. Em sua home page nos deparamos com o desmentido de um tuíte de Donald Trump e a confirmação (parcial) de outras declarações do presidente eleito sobre os elevados impostos a empresas nos Estados Unidos. O site também inclui históricos de veracidade: segundo o Politifact, 69% das afirmações de Trump examinadas são falsas em sua maior parte, totalmente falsas ou embustes ridículos. Para comparar, no caso de Clinton a porcentagem é de 26%.
FactCheck.org, de comprovar campanhas de televisão a seguir as redes sociais
FactCheck.org é um projeto do centro de estudos Annenberg da Universidade da Pensilvânia. Desde 2003, o site tenta confirmar a veracidade das declarações de líderes políticos, prestando atenção especial às campanhas eleitorais. Da mesma forma, desmente notícias que se tornaram virais, como por exemplo que Hillary Clinton ganhou apenas em 57 dos 3.141 condados (ganhou em pelo menos em 487). Na capa do FactCheck.org também encontramos um artigo sobre os exageros de Trump e outro dedicado às mentiras em relação ao fracking.
O veículo conta com 8 pessoas. O diretor do site, Eugene Kiely, garantiu que “estão encantados de trabalhar com o Facebook para ajudar a combater as notícias falsas na medida do possível”, para então lembrar que “contamos com recursos limitados e nosso objetivo principal é corroborar as afirmações feitas por políticos”.
A editora, Lori Robertson, explicou em uma entrevista recente à rede de televisão CBC que não é tão fácil mudar a opinião das pessoas, mesmo que fatos contrastados sejam apresentados: “Depende se as opiniões dessas pessoas estão muito arraigadas”. Cabe lembrar que, em 2015, 29% dos norte-americanos (e 43% dos republicanos) continuavam pensado que Obama é muçulmano.
Robertson acrescentou que “antes nos concentrávamos nos anúncios televisivos, mas fomos ampliando nosso alcance e agora falamos também do que se diz em comícios, tuítes, publicações do Facebook...”. Mas não acredita que vivamos na era da pós-verdade: “O aumento de visitas a nosso site demonstra que muita gente continua se preocupando com o que é certo”.
Quem faz o fact check dos fact-checkers?
Esses veículos também estão sujeitos a crítica. São muitos, sobretudo de origem conservadora, que os acusam de ter seus próprios vieses. Ou seja, não é que Trump minta mais do que Clinton, o que ocorre é que o Politifact investiga mais a direita.
É indiscutível que todos temos vieses. Inclusive a própria escolha de que notícias ou declarações se quer confirmar e quais não estariam influenciadas por essas preferências. Mas também é fácil aceitar que esses fact-checkers fazem seu trabalho de forma honesta: basta olhar seu arquivo para comprovar que, no mínimo, têm a intenção de tratar todos os temas sem partidarismo.
Por exemplo, continuando com o Politifact, podemos mencionar seu Obameter, que avalia se o atual presidente norte-americano cumpriu as 510 promessas que fez em sua campanha eleitoral em 2012. Cumpriu 47% das promessas e mais 27% de projetos parcialmente obtidos.
E o que é mais importante: além de sua vontade de se manter à margem de partidarismos, esses veículos explicam seus métodos e citam fontes, e por isso o leitor tem pelo menos a possibilidade de verificar se é verdade que uma notícia é falsa. Os sites superpartidários ou de farsas não podem dizer o mesmo.
De fato, assim que o acordo foi publicado, o site nacionalista e racista Breitbart publicou artigos tentando desqualificar o trabalho desses veículos. Por exemplo, afirma em sua home page que o “Facebook contratou fact-checkers de esquerda como orientação do pensamento”. Tendo em conta os conteúdos desse site, não é de se estranhar que estejam preocupados.
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