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De presidente da direita à filha de Allende, Chile rechaça declarações de Bolsonaro sobre Bachelet

Senadora socialista e oposição repudiam em bloco as palavras do brasileiro, que defendeu o golpe de Estado de Pinochet e atacou pessoalmente Michelle Bachelet

Presidente chileno Sebastián Piñera.Vídeo: EFE | REUTERS
Rocío Montes
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O apoio de Jair Bolsonaro ao golpe de Estado de Pinochet e seus ataques pessoais a Michelle Bachelet –ex-presidenta do Chile e alta comissária da ONU de direitos humanos– agitaram a política chilena nesta quarta-feira. A centro-esquerda repudiou em bloco as declarações do presidente do Brasil: “Isso só mostra o quanto é miserável”, disse a senadora socialista Isabel Allende, filha do presidente Salvador Allende (1970-1973). Enquanto isso, o atual presidente, Sebastián Piñera, de direita, indicou através de uma declaração pública que não compartilha “em absoluto a alusão feita pelo presidente Bolsonaro a uma ex-presidenta do Chile e, especialmente, num um assunto tão doloroso quanto a morte de seu pai”.

Piñera se referia às palavras do brasileiro, que disse que Bachelet “se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas estava seu pai, brigadeiro à época”. O presidente chileno, que tenta assumir a liderança regional depois da reunião do G7 na França, onde o presidente Emmanuel Macron o encarregou de coordenar as ajudas ao combate aos incêndios na Amazônia, acrescentou que “toda pessoa tem direito de ter seu próprio julgamento histórico sobre os governos que tivemos no Chile nas décadas de 70 e 80”. “Mas essas visões sempre devem ser expressas com respeito pelas pessoas”.

A declaração de Piñera não satisfez a oposição, que havia pedido uma nota de protesto ao Brasil, em defesa da ex-presidenta e rejeitando “declarações que constituem uma ofensa a todos os parentes das vítimas e aos democratas do Chile”, segundo disse o presidente do Partido Socialista (PS), Álvaro Elizalde. Porque junto ao repúdio aos ataques de Bolsonaro a Bachelet, Piñera pediu à alta comissária da ONU que entregasse os antecedentes que justificam seus julgamentos sobre “a redução do espaço cívico e democrático” no Brasil, como denunciou na véspera. “As declarações feitas pela alta comissária devem ser devidamente justificadas com os antecedentes e as evidências correspondentes, que não foram fornecidos publicamente nesta ocasião”, disse o chileno.

As principais figuras da oposição do Chile apoiaram Bachelet nesta quarta-feira. Para a senadora Allende, “o Brasil não merece esse presidente”. “A perversa alusão ao general Bachelet mostra isso por inteiro”, disse a parlamentar.

O nacional-populista brasileiro se envolveu com a alta comissária da ONU e a acusou de ingerência por suas críticas ao Brasil: Bachelet, “seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu Bolsonaro no Twitter.

Para a filha de Allende, as palavras do ex-militar “são lamentáveis e geram nossa total indignação”. Aconteceram em um dia especial para a oposição chilena, que comemora os 49 anos da vitória de Allende nas urnas que deu origem aos 1.000 dias da Unidade Popular, um 4 de setembro de 1970. “As opiniões de Bolsonaro apenas mostram, mais uma vez, suas posições de extrema-direita e sua ignorância, porque não é capaz de reconhecer que Pinochet causou um dano imenso ao nosso país”, acrescentou a parlamentar, a caçula das três filhas de Allende e sua esposa, Hortensia Bussi. “Na ditadura foi interrompido um processo democratizador substantivo, que vinha se desenvolvendo desde os anos sessenta no Chile e se gerou um modelo de desenvolvimento que contribuiu para a maior desigualdade existente entre as e os chilenos”.

Várias figuras do Partido Socialista chileno –no qual Bachelet milita desde o início da década de setenta– apoiaram a ex-presidenta, que governou o Chile entre 2006 e 2010 e entre 2014 e 2018. O ex-secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o senador José Miguel Insulza, qualificou as palavras de Bolsonaro como “uma vergonha”.

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