_
_
_
_
_
Séries na TV
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

‘Família Soprano’ e o minuto e meio que mudou a história da televisão

Os créditos da série sobre uma família mafiosa anunciaram uma nova era na televisão

James Gandolfini, no papel de Tony Soprano na série ‘Família Soprano’
James Gandolfini, no papel de Tony Soprano na série ‘Família Soprano’

Antes dos dragões de Game of Thrones e dos pistoleiros derrotados de Deadwood, antes da família dona de uma funerária de A Sete Palmos e de McNulty e toda a turma dos subúrbios de Baltimore de The Wire, um cara atravessou o túnel Lincoln entre Manhattan e Nova Jersey com um charuto na mão e uma canção do Alabama 3 e mudou a história da televisão. O minuto e quarenta e cinco minutos dos créditos de Família Soprano deixou claro que uma nova era estava começando na televisão. A HBO transmitiu o primeiro episódio dessa série de mafiosos meia-tigela em 10 de janeiro de 1999 e desde então nada foi igual.

“Você se levantou esta manhã. / Você tinha uma pistola. / Mamãe sempre disse / que você era o escolhido. / Ela disse: você é um em um milhão. / Você tem que arder para brilhar. / Mas você nasceu com um signo ruim, / com uma má sorte extraordinária. / Você se levantou esta manhã. / Todo o amor tinha ido embora / Seu pai nunca te contou / nada sobre o bem e o mal”. Esta é a letra em português de Woke up This Morning, do grupo Alabama 3, do bairro londrino de Brixton, que acompanha Tony Soprano nos primeiros compassos da série. E aí está tudo.

Mais informações
‘Euphoria’, a alucinante viagem de ser jovem e estar perdido
Em ‘Pico da Neblina’, atores retratam suas vidas na periferia em um Brasil onde a maconha é legalizada
Balas, amor e sintetizadores: a trilha sonora da Camorra napolitana

Em seu caminho para casa, Tony Soprano passa por áreas industriais sem graça, fábricas fechadas e depósitos de gás, pontes, cemitérios, bairros de classe média, centros urbanos em decadência até chegar à sua mansão nas florestas de Nova Jersey. Assim começaram os 86 episódios desta série de David Chase, créditos impossíveis de pular porque são magnéticos. Ofereciam novos detalhes e perspectivas a cada vez e serviam para emoldurar o que viria a seguir: a máfia transformada em drama familiar, a violência misturada com a história de uma sociedade em crise, a sordidez dos bares de strip-tease e as ruas desalmadas de Jersey City. .

É impressionante agora ver as Torres Gêmeas nos créditos das três primeiras temporadas, mas elas desapareceram na quarta, que estreou em setembro de 2002, um ano depois dos ataques da Al Qaeda a Washington e Nova York. É outro sinal de quanto a história dessa família estava ligada à própria história dos Estados Unidos. Família Soprano, assim como Friends, acompanhou a sociedade norte-americana. Em certa medida, é o avesso sombrio da luminosa e um tanto ingênua história da vida de seis amigos em Manhattan.

David Chase, que antes tinha sido produtor e roteirista de Northern Exposure, passeou em várias redes com sua história de um mafioso que sofre ataques de pânico, que tem de enfrentar os problemas de sua profissão –coisas de gângsteres– e, ao mesmo tempo, sua família (especialmente a mãe terrível). O primeiro episódio teve três milhões e meio de telespectadores e foi aumentando aos poucos até atingir 20 e se tornar uma série cult. São números muito distantes dos de Game of Thrones, mas refletem a revolução que se aproximava: a televisão por assinatura, a possibilidade de que qualquer assunto se tornasse o roteiro de uma série. Tudo começou com um cara viajando de carro de Manhattan a Nova Jersey com um charuto na mão.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_