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Economia argentina cresce pela primeira vez desde o início da crise

Atividade se recupera 2,6% em maio graças ao impulso do campo. É o melhor dado em 13 meses

Federico Rivas Molina
Agricultor conduz um trator em uma plantação de sorgo na província de Buenos Aires.
Agricultor conduz um trator em uma plantação de sorgo na província de Buenos Aires.E. Marcarian (Reuters)

A Argentina parou de cair. A Estimativa da Atividade Econômica Mensal (Emae) de maio, divulgada nesta quinta-feira pelo Governo, registra aumento de 2,6% no comparativo anual e de 0,2% em relação ao mês anterior. A cifra, havia muito esperada pelo Governo, entusiasma o presidente Mauricio Macri, que precisa de um mínimo de estabilidade para derrotar o kirchnerismo nas eleições de outubro. Se a economia emergiu da vertigem que se seguiu à derrocada cambial iniciada em abril do ano passado –quando o peso perdeu metade de seu valor em poucas semanas–, deve isso ao recorde nas colheitas, ao setor primário. No entanto, o saldo do ano será negativo. O FMI –que em junho do ano passado concordou com um resgate milionário ao país e que reduziu drasticamente sua previsão de crescimento para toda a América Latina e o Caribe– estima uma queda de 1,3% no PIB para o ano em curso.

É preciso retroceder a abril do ano passado para encontrar uma variação positiva do Emae, um indicador antecipado cuja curva costuma acompanhar a do PIB. Desde aquele mês a economia argentina iniciou uma trajetória de queda livre, impulsionada pela perda do valor do peso e uma política oficial de controle inflacionário muito restritiva, sustentada por taxas de juros muito altas (de até 70%) e emissão zero de moeda. O aperto monetário permitiu, enfim, conter a queda da divisa nacional, estável em relação ao dólar há mais de dois meses, mas ao custo de uma economia em recessão, mais desemprego (10,1%), menos consumo (-13,5%) e mais pobreza (32%). Os dados de crescimento de maio deram ao menos um pouco de oxigênio a Macri, ansioso por boas notícias para vender na recém-iniciada campanha eleitoral.

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A recuperação da atividade deve tudo ao setor agrícola, que se expandiu 49,5% em relação a maio do ano passado. O ano de 2018 foi de seca e a agricultura sofreu um colapso da produção que acabou contagiando as demais atividades e afetou fortemente a entrada de divisas de exportação. Em contrapartida, este ano a colheita foi recorde. Os outros setores, por sua vez, não estão se saindo bem. De acordo com as medições do escritório estatístico argentino – o Indec– para o mês de maio, a indústria caiu 6,5%, o comércio varejista, 11,4% e a construção civil, 3,1%.

A entrada dos dólares da agricultura mais a ajuda do FMI, que contribuiu com 57 bilhões de dólares (215 bilhões de reais) para sustentar a economia argentina, permitiu que Macri mantivesse os indicadores no prumo. O vento externo também ajudou,com os mercados emergentes absorvendo dólares em busca de melhores taxas de juros do que nos Estados Unidos. A Argentina é um mercado de alto risco, mas suas taxas podem convencer até os mais prudentes. As Leliqs, os títulos usados pelo banco central para absorver os pesos que podem ir para o dólar, pagaram 59% de juros nesta quarta-feira.

Maio pode ser o ponto de inflexão para a economia argentina, e os resultados das eleições dependerão disso. Mas a desagregação entre os setores é um alarme para o Governo. Se o crescimento depender apenas das boas notícias no campo, será difícil para Macri que a sensação de bem-estar se desloque para a rua, onde estão os votos. O presidente tem pouco a mostrar sobre o passado econômico e, por isso, concentra sua campanha no futuro. Seu discurso gira em torno do eixo democracia-populismo, com o kirchnerismo como o alter ego de todos os males. No entanto, ele precisa que a economia lhe sorria e o ajude a manter elevado o ânimo social, afetado pela crise.

As pesquisas mais recentes dão à candidatura de Macri entre três e quatro pontos menos que à chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner, mas com uma tendência de redução da diferença à medida que o dólar permanece calmo e a inflação sob controle, em torno de 3% ao mês. A prova de fogo será em 11 de agosto: nesse dia os partidos realizam primárias abertas e obrigatórias. Como os candidatos já estão definidos, o dia será uma sondagem em larga escala que delineará a campanha para o primeiro turno, em outubro. Um empate entre Macri e Fernández nas primárias manterá a economia estável, mas uma derrota do presidente pode causar uma debandada de investimentos e novas turbulências. Outra crise só aumentaria as chances de Fernández e Kirchner.

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