Irã viola acordo e diz que excedeu o limite de urânio enriquecido
Se confirmado por inspetores da ONU, país teria violado o acordo nuclear assinado em 2015

O Irã superou o limite de urânio de baixo enriquecimento (UF6) que tem permissão para armazenar pelo acordo nuclear assinado em 2015, segundo anunciou nesta segunda-feira o ministro de Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, citado pela mídia do país. Se os inspetores da ONU confirmarem que isso ocorreu de fato, o Irã teria violado o Plano Integral de Ação Conjunta (PIAC, o nome oficial do pacto). A medida, que Teerã apresenta como uma resposta à retirada unilateral do acordo por parte dos EUA no ano passado, posiciona a República Islâmica no caminho de poder avançar para a fabricação de uma bomba atômica, exatamente o que o acordo tentava evitar.
Um porta-voz iraniano já havia antecipado em meados de junho que o país ultrapassaria o limite de 300 quilos de UF6 até o final do mês. O resultado dessa atitude deixa evidente a gravidade da violação do pacto. Uma vez infringido, o Irã anunciou que a partir de 6 de julho começará a enriquecer urânio acima do 3,67% que se comprometeu a respeitar no PIAC. O objetivo desses limites era afastar a suspeita de que seu programa nuclear civil escondia um objetivo militar, algo que o Governo iraniano sempre negou, mas que seus vizinhos árabes e os EUA receiam.
"Depois de medir o material enriquecido na quarta-feira passada, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) voltaram a pesá-lo e [afirmaram] as reservas tinham ultrapassado os 300 quilos", disse uma fonte anônima à agência iraniana Fars, pouco antes de Zarif fazer o anúncio oficial. A AIEA ainda não emitiu uma declaração a respeito.
Durante a verificação na quarta-feira, suas reservas estavam no limite, sem excedê-lo. Tinha 200 quilos de urânio, sendo o máximo 202,8 quilos –equivalentes a 300 quilos de urânio pouco enriquecido (UF6)–, de acordo com informações vazadas por fontes diplomáticas à Reuters. Considerando que as instalações que o Irã manteve após o PIAC enriquecem a um ritmo aproximado de um quilo por dia, a transgressão era esperada a qualquer momento do fim de semana.
O Irã demorou para dar esse passo até a reunião que manteve na sexta-feira em Viena com os demais países signatários do acordo (China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha). Na saída, o representante iraniano, Abbas Araghchi, deixou claro que as propostas que os europeus lhe apresentaram para contornar as sanções dos EUA estavam longe das expectativas do Governo iraniano.