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Mais uma barragem da Vale pode se romper a partir deste domingo

Mineradora identificou deformação na Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, que levaria à terceira catástrofe do tipo na região de MG em menos de quatro anos

Reprodução do Google Maps da região da Mina de Gongo Soco, em MG
Reprodução do Google Maps da região da Mina de Gongo Soco, em MGDIVULGAÇÃO

Mais uma barragem da Vale está em risco de se romper provocando uma nova catástrofe humana e ambiental em Minas Gerais. Em um documento da própria empresa, obtido pelo Ministério Público do Estado, a mineradora brasileira diz que identificou uma deformação em um dos taludes (espécie de parede) da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, localizada a cerca de 70 quilômetros da barragem de Brumadinho. Caso o talude se rompa, não se descarta o risco de que a vibração possa causar o rompimento da barragem que recebe os rejeitos desta mina entre os dias 19 e 25 de maio. Se consumada, esta seria a terceira tragédia ambiental relacionada a barragens em menos de quatro anos no país —três anos antes do rompimento de Brumadinho, em janeiro deste ano, que deixou 240 pessoas mortas, a barragem de Fundão, em Mariana, também cedeu, deixando 19 mortos e um rastro de destruição ambiental sem precedentes.

O risco foi verificado no talude norte da cava (buraco onde se tira o minério) de Gongo Soco. Segundo o documento, um radar instalado detectou que as trincas no talude estão evoluindo. "Os dados de monitoramento demonstram que a movimentação no talude norte da cava está aumentando", destacou o G1, que obteve uma cópia do relatório. O documento ainda afirma que caso o talude norte se rompa, "não é possível afirmar se a vibração decorrente poderá causar um gatilho para a liquefação da Barragem Sul", a barragem para onde os rejeitos desta cava são enviados. A liquefação acontece quando os rejeitos de minério passam do estado sólido para o líquido e acabam por pressionar os limites da represa. Tanto em Brumadinho quanto em Mariana, a liquefação foi uma das principais hipóteses da tragédia. Em nota divulgada à imprensa depois de o documento se tornar público, porém, a Vale afirmou que não "há elementos técnicos" para afirmar que haverá ruptura.

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A barragem Sul Superior já é considerada ameaçada e foi colocada em fevereiro deste ano em nível 2 de alerta (o segundo mais rigoroso). Na ocasião, 400 pessoas foram removidas das comunidades de Piteiras, Socorro, Tabuleiro e Vila do Gongo após o acionamento de sirenes de alerta. Por meio de nota, a Vale informou na ocasião que a decisão foi preventiva: "Como medida de segurança, a Vale está intensificando as inspeções da barragem Sul Superior. Também será implantado equipamento com capacidade de detectar movimentações milimétricas na estrutura”. No dia 22 de março, as sirenes voltaram a soar e o nível de segurança foi elevado para 3, o máximo.

Segundo a Vale, a produção de minério de ferro da mina de Gongo Soco foi paralisada em abril de 2016. A barragem Sul Superior, com 85 metros de altura, armazena seis milhões de metros cúbicos de rejeitos e abastece o complexo Mariana-Brucutu, uma das maiores minas da empresa em Minas Gerais.

Medidas Preventivas

Diante da deformação no talude  comunicada pela Vale nesta semana, o Ministério Público determinou que a mineradora adote imediatamente uma série de medidas para deixar claro à população sobre os riscos que corre. Segundo nota do MP divulgada nesta quinta-feira, 16, a empresa deve comunicar "por meio de carros de som, jornais e rádios, informações claras, completas e verídicas” sobre a condição estrutural da barragem. Entre outras determinações, o órgão quer as pessoas saibam dos "potenciais danos e impactos de eventual rompimento”.

Em comunicado, a Vale diz que “não há elementos técnicos até o momento para se afirmar que o eventual escorregamento do talude Norte da Cava da Mina Gongo Soco desencadeará gatilho para a ruptura da Barragem Sul Superior”. Um simulado de evacuação está marcado para este sábado, 18, em Barão de Cocais.

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