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Crítica | A última loucura de Claire Darling
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

Os trastes da memória

Tudo flui com a naturalidade de um rio da existência onde a dor e o ardor habitam um único tempo

Deneuve, em uma cena de 'A Última Loucura de Claire Darling'.
Deneuve, em uma cena de 'A Última Loucura de Claire Darling'.
Javier Ocaña
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Em muitas ocasiões, pôr ordem na vida é reconsiderar nossas próprias memórias. Refletir e estruturar; expulsar o supérfluo, aceitar o que é daninho e agarrar-se às poucas ou muitas certezas do passado e do presente. Quase como um mercado de pulgas com os trastes da casa da família: a metáfora usada pela diretora e roteirista francesa Julie Bertuccelli em A Última Loucura de Claire Darling, que estreia nesta quinta-feira, drama simbólico sobre o peso irresistível da memória, com ecos evidentes do filme-mãe neste sentido, Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, e ainda mais paralelos com uma obra recente com o qual compartilha não só o tema, tratamento e espaço vital (uma casona burguesa), mas também o porte de mito e a gravidade de sua principal intérprete: O Leão Dorme Esta Noite, de Nobuhiro Suwa, estrelado por Jean-Pierre Léaud.

Aqui é Catherine Deneuve que envolve a história da aura de transcendência que sempre acompanha a diva francesa, em torno das supostas últimas horas da vida de uma mulher com um evidente desequilíbrio mental que decide vender seus móveis e objetos, como quem se desfaz das punhaladas da vida. À maneira de Bergman (e de Suwa), mas mais sutilmente, de um jeito mais tênue na imagem, Bertuccelli introduz no mesmo plano os seres humanos do passado e os do presente, para ir moldando uma história onde, embora haja flashbacks, tudo flui com a naturalidade de um rio da existência onde a dor e o ardor habitam um único tempo.

Com boa cadência na informação, pouco a pouco vão se revelando tanto a tragédia familiar que espeta a alma e a mente, como as discutíveis decisões do passado, e Bertuccelli, que adapta um romance de Lynda Rutledge, também recorre a uma espécie de metalinguagem interpretativa ao outorgar o papel de filha da personagem de Deneuve à filha da própria atriz: Chiara Mastroianni. E como já tinha feito no notável A Árvore (2010), seu filme anterior, a diretora foca seu discurso na influência da paisagem e dos objetos em um retrato em torno da loucura, da culpa e da morte, que só dá um importante escorregão em seu desenlace apocalíptico: horrível no formal e mais do que discutível em seu fundo.

A ÚLTIMA LOUCURA DE CLAIRE DARLING

Direção: Julie Bertuccelli.

Elenco: Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni, Alice Taglioni, Samir Guesmi.

Gênero: drama. França, 2018.

Duração: 94 minutos.

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