Mercosul suspende a eleição direta dos deputados de seu Parlamento

Legisladores do Parlasul, integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sairão dos congressos nacionais

Última sessão ordinária do Parlasul em Montevidéu, em 1º de abril.Parlasur

Criado em 2006, o Parlamento do Mercosul ou o Parlasul nunca começou de todo. E é improvável que o faça. Os países que compõem o bloco econômico do cone sul-americano concordaram em que não haverá mais a eleição direta dos legisladores que se reúnem em Montevidéu (Uruguai). Os atuais deputados cumprirão seu mandato, mas os próximos serão eleitos pelos respectivos Congressos nacionais entre os próprios membros.

O anúncio foi feito na capital paraguaia, Assunção, e o presidente do país, Mario Abdo Benítez, do conservador Partido Colorado, disse que a decisão foi acordada com os presidentes da Argentina, Brasil e Uruguai, seus parceiros no Mercosul. "O dinheiro economizado será destinado a investimento social", acrescentou Abdo Benítez.

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Os Governos de esquerda que dominaram os países do cone sul-americano durante a última década achavam que o Mercosul deveria ter uma instância de representação popular. Criaram então o Parlasul, um órgão deliberativo de decisões não vinculativas, composto por deputados escolhidos diretamente pelos eleitores dos Estados membros.

Os países se deram o prazo até 2020 para escolher os 188 integrantes do órgão. O Paraguai definiu os seus nas eleições de 2008 e a Argentina em 2015. Brasil e Uruguai, no entanto, deveriam fazer isso nas próximas eleições e só tinham representantes provisórios: deputados em atividade em seus respectivos Congressos. Os planos de eleição popular foram suspensos, provavelmente de forma definitiva.

O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Luis Alberto Castiglioni, disse numa coletiva de imprensa que não haverá eleição direta de representantes "enquanto são aperfeiçoados os mecanismos de integração e se garante a possibilidade de eleições simultâneas nos quatro países". Mas, logo em seguida, esclareceu que "não existe uma urgência real" em voltar a "escolher diretamente" os representantes nacionais. Trata-se, no fundo, de aproximar o modelo do Mercosul ao da Aliança do Pacífico, o bloco comercial que une Chile. Peru, Colômbia e México, com um mínimo de burocracia e sem nenhuma estrutura fixa, a não ser o apoio das chancelarias.

Com a guinada política na região para a direita, os novos Governos do Mercosul assumiram que o modelo a seguir era o da Aliança, enquanto se distanciavam de um tipo de organização que consideravam excessivamente ideologizada e limitante ao desenvolvimento econômico individual dos parceiros.

Em 22 de março, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, pediu ao Congresso que revogasse a lei que obriga a eleger os deputados eleitos do Parlasul porque "custa uma fortuna manter o gasto desnecessário que significa criar um novo corpo de representantes em cada eleição”. Macri não estimou a economia, como fez o Paraguai, Castiglioni calculou em quatro milhões de dólares (15,5 milhões de reais) a quantia que o bloco deixará de gastar se não tiver representantes eleitos pelo voto popular.

Os atuais deputados paraguaios concluirão seu mandato até 2023, mas a Argentina não vai mais escolher representantes nas eleições gerais no final de outubro. Brasil e Uruguai vão paralisar todo o plano eleitoral. No entanto, o chanceler paraguaio esclareceu que a decisão não implica um golpe para a saúde do Mercosul, porque o bloco está "cada vez mais forte" e mantém negociações com "outras potências". A negociação mais importante do Mercosul é a que leva adiante com a União Europeia e está paralisada

BRASIL SEGUE OS PASSOS DA ARGENTINA E OFICIALIZA SUA SAÍDA DA UNASUL

Agências, Brasília

O Brasil tornou oficial nesta segunda-feira sua saída da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), justamente quando lhe cabia exercer a presidência pro tempore do bloco, criado na década passada, em pleno auge dos Governos de esquerda da região. O gigante sul-americana, que já havia suspendido sua participação na Unasul, denunciou o Tratado Constitutivo do órgão, uma decisão que, de acordo com os dispositivos internos, entrará em vigor "transcorridos seis meses após a data", conforme indicou a Chancelaria brasileira. O Brasil segue os passos da Argentina, que deixou o grupo na última sexta-feira, e do Equador, que anunciou sua saída semanas atrás. A Unasul nasceu em 2008, nos anos dourados da esquerda latino-americana, com 12 membros. O Brasil, com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi um dos motores dessa iniciativa. Uma longa década depois, o bloco está perto de fechar a cortina.

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