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Segundo dados do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, mais de 15.000 pessoas estiveram na fila em busca de uma entrevista de emprego no mutirão organizado pela Prefeitura na terça-feira, 26 de março, no Vale do Anhangabaú, centro da capital. 1.200 pessoas foram atendidas na terça, e o resto pegou senhas para terem o atendimento dividido entre os dias seguintes. O mutirão está previsto para acontecer até quinta-feira, dia 4 de abril.
Segundo dados do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, mais de 15.000 pessoas estiveram na fila em busca de uma entrevista de emprego no mutirão organizado pela Prefeitura na terça-feira, 26 de março, no Vale do Anhangabaú, centro da capital. 1.200 pessoas foram atendidas na terça, e o resto pegou senhas para terem o atendimento dividido entre os dias seguintes. O mutirão está previsto para acontecer até quinta-feira, dia 4 de abril. REUTERS

As caras do desemprego no Brasil

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Mais de 15.000 pessoas foram até o centro de São Paulo atrás de uma chance no Mutirão do Emprego, organizado pelo Sindicato dos Comerciários e pela Prefeitura da cidade. Na semana em que a taxa de desemprego chegou a 12,4% dos brasileiros, o EL PAÍS conversou com representantes da parcela que enfrenta dias de fila para conseguir uma carteira assinada

  • "Como uma pessoa se mantém sem um emprego?", questiona Dayane do Amor Divino, 26 anos, após sair do Sindicato dos Comerciários, no Vale do Anhangabaú, na última sexta-feira, com a instrução de se candidatar em um processo seletivo online para operadora de caixa no supermercado Pão de Açúcar. O aceno foi positivo para quem passou oito horas na fila do Mutirão de Emprego apenas para pegar uma senha e poder voltar na sexta, quando foi entrevistada por representantes do supermercado. Abandonada pelo pai, ela e a irmã trabalham desde os 16 anos para completar a renda da casa onde moram com a mãe, na zona norte de São Paulo. Dayane quer encerrar o período de "muita angústia" que está vivendo durante um ano e meio desempregada para, depois que ajudar no aluguel de casa, bancar um curso de cabeleireira. "Passei quase a semana inteira aqui. Tenho experiência e ainda assim não é certeza de que vão me contratar. No momento, eu preciso de qualquer coisa, mesmo que seja pouco."
    1"Como uma pessoa se mantém sem um emprego?", questiona Dayane do Amor Divino, 26 anos, após sair do Sindicato dos Comerciários, no Vale do Anhangabaú, na última sexta-feira, com a instrução de se candidatar em um processo seletivo online para operadora de caixa no supermercado Pão de Açúcar. O aceno foi positivo para quem passou oito horas na fila do Mutirão de Emprego apenas para pegar uma senha e poder voltar na sexta, quando foi entrevistada por representantes do supermercado. Abandonada pelo pai, ela e a irmã trabalham desde os 16 anos para completar a renda da casa onde moram com a mãe, na zona norte de São Paulo. Dayane quer encerrar o período de "muita angústia" que está vivendo durante um ano e meio desempregada para, depois que ajudar no aluguel de casa, bancar um curso de cabeleireira. "Passei quase a semana inteira aqui. Tenho experiência e ainda assim não é certeza de que vão me contratar. No momento, eu preciso de qualquer coisa, mesmo que seja pouco."
  • "Ter uma primeira experiência é fundamental para se inserir no mercado. Acho um pouco injusto, mas as empresas adotam esse critério", reclama Paulo José, 20 anos. O jovem mora com pai, mãe e dois irmãos em Campo Limpo, zona sul de São Paulo, e foi até o centro da cidade tentar a primeira carteira assinada de sua vida. "Fiquei seis anos cuidando de um problema no ouvido e estou terminando um curso de informática no SENAI. Por enquanto, não busco nada específico. É só para pegar experiência mesmo, porque na minha área sempre perguntam onde eu trabalhei." Paulo agradece os empregos dos seus pais, que evitam que a família passe por necessidades, e foca no objetivo de usar o dinheiro do trabalho para fazer uma faculdade de análise de sistemas. "Alguém que fez curso técnico costuma ter mais habilidade do que quem fez ensino superior. Mesmo assim, as empresas exigem muito o superior."
    2"Ter uma primeira experiência é fundamental para se inserir no mercado. Acho um pouco injusto, mas as empresas adotam esse critério", reclama Paulo José, 20 anos. O jovem mora com pai, mãe e dois irmãos em Campo Limpo, zona sul de São Paulo, e foi até o centro da cidade tentar a primeira carteira assinada de sua vida. "Fiquei seis anos cuidando de um problema no ouvido e estou terminando um curso de informática no SENAI. Por enquanto, não busco nada específico. É só para pegar experiência mesmo, porque na minha área sempre perguntam onde eu trabalhei." Paulo agradece os empregos dos seus pais, que evitam que a família passe por necessidades, e foca no objetivo de usar o dinheiro do trabalho para fazer uma faculdade de análise de sistemas. "Alguém que fez curso técnico costuma ter mais habilidade do que quem fez ensino superior. Mesmo assim, as empresas exigem muito o superior."
  • "As contas e a barriga não esperam", brinca Maria José, 50 anos, na saída do sindicato após ser entrevistada para uma vaga de operadora de caixa. Bem-humorada, a baiana que mora há 30 anos em São Paulo só demonstra desânimo na hora de admitir a preocupação pelos quatro meses sem emprego. Maria era sustentada pelo marido quando, em 1996, se separou e precisou correr atrás de um trabalho. Desde então, mora sozinha em Guarulhos. Ela trabalhava há três anos como auxiliar de limpeza em uma empresa terceirizada, de onde foi demitida em novembro. Agora sobrevive com o seguro-desemprego e uma "ajudinha" das suas quatro filhas adultas. "O seguro tá acabando", confessa. "Fiz entrevista no Pão de Açúcar, na Marisa... Me pediram para aguardar o contato. Não ajuda muito na minha ansiedade. A saúde mental é o principal".
    3"As contas e a barriga não esperam", brinca Maria José, 50 anos, na saída do sindicato após ser entrevistada para uma vaga de operadora de caixa. Bem-humorada, a baiana que mora há 30 anos em São Paulo só demonstra desânimo na hora de admitir a preocupação pelos quatro meses sem emprego. Maria era sustentada pelo marido quando, em 1996, se separou e precisou correr atrás de um trabalho. Desde então, mora sozinha em Guarulhos. Ela trabalhava há três anos como auxiliar de limpeza em uma empresa terceirizada, de onde foi demitida em novembro. Agora sobrevive com o seguro-desemprego e uma "ajudinha" das suas quatro filhas adultas. "O seguro tá acabando", confessa. "Fiz entrevista no Pão de Açúcar, na Marisa... Me pediram para aguardar o contato. Não ajuda muito na minha ansiedade. A saúde mental é o principal".
  • Aos 61 anos, Carlos Peinado precisa de mais três de contribuição para conseguir sua aposentadoria. "Trabalhei 16 anos no Banco do Brasil, já tive negócio próprio e já fui motorista. Hoje, topo qualquer coisa". Foram quase 14 horas de fila (das 3h30 às 17h) na terça-feira até sair com uma senha para voltar na sexta. Desde novembro do ano passado, quando deixou o emprego de motorista que tinha no próprio Sindicato dos Comerciários, Carlos procura algo que o ajude a sustentar sua mulher e duas filhas adultas, com quem mora em São Paulo. "Não cogitei trabalhar em aplicativos como o Uber porque não tenho dinheiro para comprar um carro melhor. O meu é de duas portas e não tem ar condicionado", comenta ele. Entre o começo de 2016 e o fim de 2018, dados do IBGE apontam que o número de trabalhadores informais, que não possuem carteira assinada - como os de aplicativos de transporte particular -, cresceu de 35,3 para 38,2 milhões de pessoas. "Ainda tem a prioridade para gente mais nova, isso torna tudo muito difícil para mim. Acordar e não ter o que fazer o dia inteiro... Se ficar martelando na cabeça, você não aguenta."
    4Aos 61 anos, Carlos Peinado precisa de mais três de contribuição para conseguir sua aposentadoria. "Trabalhei 16 anos no Banco do Brasil, já tive negócio próprio e já fui motorista. Hoje, topo qualquer coisa". Foram quase 14 horas de fila (das 3h30 às 17h) na terça-feira até sair com uma senha para voltar na sexta. Desde novembro do ano passado, quando deixou o emprego de motorista que tinha no próprio Sindicato dos Comerciários, Carlos procura algo que o ajude a sustentar sua mulher e duas filhas adultas, com quem mora em São Paulo. "Não cogitei trabalhar em aplicativos como o Uber porque não tenho dinheiro para comprar um carro melhor. O meu é de duas portas e não tem ar condicionado", comenta ele. Entre o começo de 2016 e o fim de 2018, dados do IBGE apontam que o número de trabalhadores informais, que não possuem carteira assinada - como os de aplicativos de transporte particular -, cresceu de 35,3 para 38,2 milhões de pessoas. "Ainda tem a prioridade para gente mais nova, isso torna tudo muito difícil para mim. Acordar e não ter o que fazer o dia inteiro... Se ficar martelando na cabeça, você não aguenta."
  • Aos 11 anos de idade, Priscila Dantas já trabalhava na feira perto de casa para pagar seu curso de computação, que fazia simultaneamente à escola. "Acho que a mulher precisa ser independente. Fazer o que ela quiser, não achar que tem que ser dona de casa", opina a mãe de duas filhas e casada há sete anos. Priscila, hoje com 30 anos, parou de trabalhar em 2016, quando nasceu sua segunda filha, e voltou a procurar emprego assim que conseguiu uma creche para a criança, há oito meses. "Precisei voltar porque muitas coisas mudaram em casa nesses três anos, só com meu marido sustentando. Quando somos acostumados a um patamar, não queremos baixá-lo". Ela conta que saiu do sindicato encaminhada para o RH da rede de supermercados Makro, para fiscal de estoque. "Ainda quero fazer uma faculdade ligada à área que estudei, mas preciso de condições financeiras. Então o que aparecesse hoje eu iria fazer."
    5Aos 11 anos de idade, Priscila Dantas já trabalhava na feira perto de casa para pagar seu curso de computação, que fazia simultaneamente à escola. "Acho que a mulher precisa ser independente. Fazer o que ela quiser, não achar que tem que ser dona de casa", opina a mãe de duas filhas e casada há sete anos. Priscila, hoje com 30 anos, parou de trabalhar em 2016, quando nasceu sua segunda filha, e voltou a procurar emprego assim que conseguiu uma creche para a criança, há oito meses. "Precisei voltar porque muitas coisas mudaram em casa nesses três anos, só com meu marido sustentando. Quando somos acostumados a um patamar, não queremos baixá-lo". Ela conta que saiu do sindicato encaminhada para o RH da rede de supermercados Makro, para fiscal de estoque. "Ainda quero fazer uma faculdade ligada à área que estudei, mas preciso de condições financeiras. Então o que aparecesse hoje eu iria fazer."
  • Pernambucano e morador de São Paulo desde os seis anos, Paulo Sérgio da Silva, 49, não lembra a última vez que teve um emprego com carteira assinada. "Faz muito tempo. Já tive loja de roupas, fui Uber e fui assaltado, pedreiro, eletricista... Sempre trabalhei autônomo. Agora quero algo registrado porque me preocupo com minha família." Marido de uma esposa desempregada e pai de um filho de 19 anos, ele diz ser "meio invertido" ver o filho ajudando no sustento da casa. "Ele engravidou uma menina agora, o que deixa mais difícil. Minha mulher ainda está recebendo seguro-desemprego, e por isso não precisou vir". Paulo sorri ao dizer que foi encaminhado para uma vaga de instalador de TV a cabo, mesmo procurando algo como motorista ou promotor de vendas. "Estou muito ansioso. O cara desempregado é insignificante. Sujei meu nome por conta de empréstimos e fico desesperado vendo as dívidas. Agora deu uma esperança".
    6Pernambucano e morador de São Paulo desde os seis anos, Paulo Sérgio da Silva, 49, não lembra a última vez que teve um emprego com carteira assinada. "Faz muito tempo. Já tive loja de roupas, fui Uber e fui assaltado, pedreiro, eletricista... Sempre trabalhei autônomo. Agora quero algo registrado porque me preocupo com minha família." Marido de uma esposa desempregada e pai de um filho de 19 anos, ele diz ser "meio invertido" ver o filho ajudando no sustento da casa. "Ele engravidou uma menina agora, o que deixa mais difícil. Minha mulher ainda está recebendo seguro-desemprego, e por isso não precisou vir". Paulo sorri ao dizer que foi encaminhado para uma vaga de instalador de TV a cabo, mesmo procurando algo como motorista ou promotor de vendas. "Estou muito ansioso. O cara desempregado é insignificante. Sujei meu nome por conta de empréstimos e fico desesperado vendo as dívidas. Agora deu uma esperança".
  • "Sou divorciado, meu pai é falecido e moro com a minha mãe, de 78 anos, porque ela depende de mim para ir no médico". Gilmar José Amancio, 54, interrompeu a faculdade de logística quando novo para trabalhar e sustentar a família. Ingressou no ramo automobilístico, de onde saiu há dois meses, quando foi demitido de uma ferramentaria que teve o contrato cortado com a montadora de carros Honda. Com uma filha de 24 anos, ele se emociona ao contar que ela o ajuda quando pode. "Mas também está desempregada desde quando saiu de uma empresa de telemarketing, há um ano. Ela é a minha maior motivação". Ele reclama da corrupção na política do país, que, para ele, impede que empresários de fora invistam no Brasil. "Na terça, cheguei 7h30, olhei aquela fila e achei frustrante ver esse povo desempregado. O preço do feijão subiu hoje. A Ford de São Bernardo vai fechar. Não sabemos o quanto mais a economia vai piorar com esses políticos... gastei meus últimos reais tentando achar emprego". Segundo divulgou o IBGE na última semana, o número de pessoas que "desistiu" de procurar emprego é recorde no país: 4,9 milhões de pessoas.
    7"Sou divorciado, meu pai é falecido e moro com a minha mãe, de 78 anos, porque ela depende de mim para ir no médico". Gilmar José Amancio, 54, interrompeu a faculdade de logística quando novo para trabalhar e sustentar a família. Ingressou no ramo automobilístico, de onde saiu há dois meses, quando foi demitido de uma ferramentaria que teve o contrato cortado com a montadora de carros Honda. Com uma filha de 24 anos, ele se emociona ao contar que ela o ajuda quando pode. "Mas também está desempregada desde quando saiu de uma empresa de telemarketing, há um ano. Ela é a minha maior motivação". Ele reclama da corrupção na política do país, que, para ele, impede que empresários de fora invistam no Brasil. "Na terça, cheguei 7h30, olhei aquela fila e achei frustrante ver esse povo desempregado. O preço do feijão subiu hoje. A Ford de São Bernardo vai fechar. Não sabemos o quanto mais a economia vai piorar com esses políticos... gastei meus últimos reais tentando achar emprego". Segundo divulgou o IBGE na última semana, o número de pessoas que "desistiu" de procurar emprego é recorde no país: 4,9 milhões de pessoas.
  • Cristiana dos Santos, 29, mora em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, e foi ao Anhangabaú porque viu no Mutirão do Emprego uma esperança de conseguir trabalhar com carteira assinada após seis anos de bicos de faxina e manicure. Desde os 13 anos, quando fazia abordagem de rua para uma escola de informática, busca dinheiro para ter independência financeira. "Na época, também era para ajudar minha mãe, que tinha câncer e era separada do meu pai". Ela se casou aos 16, saiu de casa aos 18, voltou para a casa da mãe após também se divorciar do marido, mas foi morar sozinha novamente depois do falecimento de sua mãe, vítima da doença. "Tenho duas filhas, de cinco e um ano, que estão na escola. Aceito qualquer coisa por elas. Vejo o mercado de trabalho difícil para quem tem curso profissionalizante, experiência, tudo. Imagina para a gente que não têm quase nada..."
    8Cristiana dos Santos, 29, mora em Mauá, na região metropolitana de São Paulo, e foi ao Anhangabaú porque viu no Mutirão do Emprego uma esperança de conseguir trabalhar com carteira assinada após seis anos de bicos de faxina e manicure. Desde os 13 anos, quando fazia abordagem de rua para uma escola de informática, busca dinheiro para ter independência financeira. "Na época, também era para ajudar minha mãe, que tinha câncer e era separada do meu pai". Ela se casou aos 16, saiu de casa aos 18, voltou para a casa da mãe após também se divorciar do marido, mas foi morar sozinha novamente depois do falecimento de sua mãe, vítima da doença. "Tenho duas filhas, de cinco e um ano, que estão na escola. Aceito qualquer coisa por elas. Vejo o mercado de trabalho difícil para quem tem curso profissionalizante, experiência, tudo. Imagina para a gente que não têm quase nada..."