Equipe de resgate desce 73 metros abaixo da terra em busca de menino espanhol desaparecido
Julen Roselló, de 2 anos, caiu em um poço no último dia 13, na cidade de Totalán (Espanha), e buscas mobilizam 300 pessoas. Entenda os pontos chaves do resgate
Já dura onze dias a operação de resgate pelo menino Julen Roselló, o caso que mobiliza e comove a Espanha. Ninguém esperava no domingo passado, 13 de janeiro, que a chamada de emergência pedindo um resgate se tornaria uma missão tão complicada. Julen, de dois anos, caiu num poço estreito e profundo na cidade de Totalán, na província de Málaga, e as buscas por ele desde então mobilizam mais de 300 pessoas que trabalham contra o relógio e com a esperança de um milagre. Nesta quinta-feira, 24 de janeiro, a equipe de resgate formada por oito mineiros conseguiu finalmente descer 73 metros abaixo da terra em busca da criança. A seguir, detalhamos algumas das questões cruciais que tornam esse caso uma situação tão inédita e comovente para o país.
Características do poço. O buraco onde a criança caiu tem cerca de 25 centímetros de largura e 110 metros de profundidade. Quando os primeiros bombeiros chegaram – membros da corporação de Rincón de la Victoria, cuja frota está a 13 quilômetros de Totalán –, analisaram o buraco e logo perceberam a magnitude do problema: a estreiteza tornava impossível para um especialista descer para resgatar Julen. Era necessário estudar outras soluções imediatamente.
Evidências. A Guarda Civil trabalha desde o primeiro momento para encontrar Julen. Encara o caso como um desaparecimento e essa é a sua prioridade. No entanto, ainda não foi localizado o ponto exato onde se espera encontrar a criança. Seus pais contaram como ele caiu ali e é esse testemunho que eles levam em conta. No domingo, dia 13, à noite, foram retiradas amostras de solo de dentro do poço e, 48 horas depois, uma análise de DNA certificou a existência de restos biológicos que coincidiam com os dos pais e da mamadeira do menino. Também encontraram um saquinho de doces que estava com ele antes de cair.
Um bloqueio de areia. Embora numa primeira tentativa tenha sido introduzido no poço um celular amarrado a uma corda para ver como estava o menino, mais tarde foi possível usar uma câmera robótica colocada à disposição da equipe por uma empresa especializada. Quando chegou a 71 metros de profundidade, atingiu um bloqueio de areia. Foram feitos esforços para eliminar o obstáculo com diferentes modalidades de sucção, mas só conseguiram remover alguns centímetros de terra porque os materiais estavam muito compactos. Nesse momento outras formas de resgate começaram a ser analisadas.
Numerosas alternativas. As opções levantadas depois disso para se chegar ao local onde Julen está mudaram com o passar dos dias. A primeira era fazer uma escavação horizontal com uma máquina tuneladora (um tipo de tatuzão), mas, após alguns testes realizados, essa alternativa foi descartada. Em seguida, surgiu a ideia de cavar dois poços verticais paralelos àquele onde Julen caiu. Para fazer isso seria necessário rebaixar o barranco em 30 metros. Por fim, pararam a uma cota de 23 metros (40.000 toneladas de terra foram retiradas) e se decidiu fazer apenas uma das perfurações, para acelerar o processo.
Complexidade do terreno. Os técnicos, liderados pelo engenheiro civil Ángel García Vidal, enfatizam repetidamente as dificuldades do solo em que precisam trabalhar. Chamado de Complexo Maláguide, consiste em afloramentos de rochas calcárias, bem como xisto, filito e ardósia. E também tem quartzito intercalado, além de materiais de decomposição que provocam instabilidade nos taludes, o que causa preocupação com a segurança dos operários. A impossibilidade de desenvolver estudos geológicos preliminares faz com que a equipe se depare com cada um desses veios –de maior ou menor dureza– praticamente de surpresa. Também tiveram de refazer os caminhos de entrada à fazenda onde o poço está localizado para permitir o acesso de máquinas de até 75 toneladas. Cada passo dado é cuidadosamente analisado e há reuniões diárias. "Não podemos deixar nada ao acaso", diz Francisco Delgado Bonilla, chefe da Coordenação Provincial dos Bombeiros.
Alta especialização. Os membros da Brigada de Salvamento dos Mineiros são um bom exemplo da alta capacitação dos profissionais que trabalham nas buscas. Ninguém mais experimentado do que estes mineiros para executar a tarefa em uma galeria horizontal a cerca de 60 metros de profundidade em pouco mais de um metro quadrado de espaço. Há também 13 engenheiros, o grupo de confiança do líder técnico, Ángel García Vidal, e equipes especializadas de bombeiros da Coordenação Provincial de Málaga. O maquinário também é o mais adequado para cada uma das tarefas a serem executadas e foi levado para Totalán de cidades como Málaga, Cádiz e Madrid. "Não há nada melhor no mercado", ressaltou García Vidal dias atrás.
Uma enorme equipe de operações. Mais de 300 pessoas trabalham em turnos desde o dia 13 no resgate da criança. Os efetivos pertencem à Guarda Civil, Defesa Civil, Grupo de Emergências de Andaluzia (GREA), Ordem de Psicologia da Andaluzia Oriental, Polícia Nacional, Coordenação Provincial de Bombeiros do Conselho Provincial de Málaga, Brigada de Salvamento dos Mineiros. Há ainda técnicos de diferentes empresas privadas.
A solidariedade de Totalán. A coordenação do trabalho é feita no posto de comando instalado em dois porões da casa de Yolanda Alcaide, uma moradora de Totalán que quis colaborar. Em outra casa, cedida também por outra habitante da localidade, estão alojados há alguns dias os pais de Julen, Victoria García e José Rosello. Muitas mulheres também fazem refeições todos os dias para todos os envolvidos na operação. "Estou orgulhoso de todos eles, por sua generosidade, amor e dedicação à família e a todos os envolvidos nesta grande operação de resgate", disse na terça-feira o prefeito de Totalán, Miguel Ángel Escano. Há ainda alimentos e outros itens básicos que pessoas de diferentes municípios de Málaga e Andaluzia levaram até a cidade.
Investigação dos fatos. Tanto o Governo da Andaluzia como a prefeitura da cidade de Totalán confirmaram a ausência de autorizações e licenças para realizar uma prospecção de busca de água ou seu aproveitamento nas coordenadas da propriedade onde fica o buraco em que a criança caiu. A ilegalidade do poço será um ponto-chave da investigação do caso, bem como a movimentação de terras executada na área. A Guarda Civil tentar descobrir qual das duas obras ocorreu primeiro. O Tribunal de Instrução No. 9 de Málaga já abriu processos para esclarecer o que aconteceu.
A pressão da mídia. A cada dia que passa é maior o número de órgãos da mídia que se deslocam para as proximidades de Totalán para relatar o resgate. A imprensa internacional também presta atenção cada vez maior. Há equipes de países como Portugal, Holanda, Alemanha e Reino Unido. É uma situação à qual os técnicos não estão acostumados, pois em outras circunstâncias sempre cabe aos políticos falar sobre as operações. O próprio delegado do Governo na Andaluzia, Alfonso Rodríguez Gómez de Celis, pediu respeito a eles. "As equipes técnicas estão trabalhando sob forte pressão para encontrar uma criança de dois anos o mais rápido possível. É por isso que peço, especialmente à mídia, que não aumente mais [a pressão]", afirmou, acrescentando que, dessa maneira, os trabalhadores podem ter a “paz e a tranquilidade” necessárias para se concentrarem na tarefa complexa que devem realizar.
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