Fernando Ovelar, o adolescente que encanta o Paraguai
Com apenas dois jogos no time principal do Cerro Porteño, o atacante de 14 anos entrou para a história ao marcar seu primeiro gol no clássico contra o Olimpia
Fernando Ovelar, de 14 anos, 9 meses e 27 dias, chegou à bola como uma locomotiva em seu segundo jogo de primeira divisão. Deu uma cavadinha de canhota que a fez passar por cima do goleiro, que, caído no gramado, presenciou um feito notável. O “garoto histórico”, como foi batizado pela imprensa local, marcou o gol que cravou seu nome na história do futebol paraguaio.
Se há um dia tenso em Assunção é quando Cerro Porteño, “o ciclone” do bairro operário, e Olimpia, o “rei de copas”, se enfrentam no superclássico do Paraguai. Ônibus lotados até o teto de torcedores com tambores e bandeiras atravessam o centro histórico que em qualquer outro domingo estaria em silêncio. Ambos os clubes arrastam 40.000 pessoas ao estádio e a quase todo o resto do país até um aparelho de rádio ou televisão.
Dezesseis minutos levavam todos esses olhos concentrados na pelota que rodava pela grama do estádio Defensores del Chaco. Nas arquibancadas soavam cânticos enquanto nas ruas já não se circulava nenhum carro, quando um passe de Juan Aguilar atravessou a defesa do Olimpia e encontrou Ovelar dentro da área.
Com a camisa 17, ele se converteu no jogador mais jovem a marcar na elite paraguaia, superando o ex-atacante do Olimpia Gustavo Neffa, que havia anotado com 15 anos, 8 meses e 16 dias, em 1987. Também é o mais novo a disputar o clássico assunceno e o segundo do mundo a marcar em uma liga de primeira divisão, atrás apenas do armênio Armen Ghazaryan, (14 anos, 7 meses e 15 dias). Ovelar jogou 63 minutos e teve outras duas chances de gol.
Ninguém imaginava que um mita'í (garoto, no idioma guarani, a língua mais popular do Paraguai) poderia demonstrar tanta personalidade diante de jogadores experientes, a maioria com o dobro de sua idade. Somente seu treinador tinha alguma noção do que ele era capaz. O espanhol Fernando Jubero, que agora dirige o Cerro Porteño, foi quem tomou a decisão de lançá-lo a campo. “Escalei Ovelar de titular no clássico porque seu talento e sua personalidade me transmitiam confiança”, explicou Jubero ao EL PAÍS um dia depois da partida, que terminou empatada em 2 a 2.
Barcelonês de alma paraguaia, Jubero já comandou Guaraní, Olimpia e Liberdad, revelando sempre novas promessas e deixando boas impressões. O técnico, ex-observador de jogadores do Barcelona, descobriu o jovem Ovelar jogando na seleção sub-15 há três semanas. “Ele me surpreendeu. É um jogador muito maduro para sua idade. Por isso o chamei para trabalhar no plantel principal”, conta o “professor”, como lhe chamam no Paraguai. Quando decidiu subir o garoto, foi a sua casa para conversar com sua família.
Jubero, que não em vão foi também professor primário, detalhou os planos para o jovem: é obrigatório dar prioridade aos estudos, tem que desfrutar do futebol como fez até agora e deve trabalhar com humildade porque “muitos chegam e poucos se consolidam”. “Os estudos têm que andar ao lado do futebol. Se deixar a escola, eu deixo de contar com ele. A educação é fundamental para um jogador de sua idade. Primeiro a pessoa, depois o atleta. Expliquei a sua mãe e o jogador entendeu tudo. São gente trabalhadora, com valores”, relatou sobre o encontro.
No Paraguai exige-se que os clubes contem com pelo menos um jogador sub-19 em cada partida. Algo que, segundo Jubero, coincide com a intenção da equipe de “mesclar jogadores rodados a outros pratas da casa, que vistam a camisa e representem com orgulho o Cerro Porteño”. Ovelar estreou há duas semanas e, no último domingo, em sua segunda exibição, confirmou que é uma grande promessa do futebol paraguaio. O treinador decidiu blindá-lo de entrevistas e badalação, mas já garantiu sua presença nos próximos jogos da equipe.
Ovelar já tinha um bom motivo para se identificar com as cores azul-grená: é neto de Gerónimo Ovelar, zagueiro do Cerro nas décadas de 70 e 80, e campeão da Copa América em 1979 com a seleção paraguaia. Mas agora, como “garoto histórico”, tem novos motivos.
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