Erdogan aponta premeditação no “selvagem” assassinato de Khashoggi

Presidente turco diz confiar no rei Salman, a quem pede que extradite os 18 detidos para que sejam julgados na Turquia

Recep Tayyip Erdogan durante seu pronunciamento no Parlamento turcoREUTERS
Mais informações
Londres, Berlim e Paris censuram Riad pelo ‘caso Khashoggi’
Arábia Saudita admite, pela primeira vez, que jornalista desaparecido morreu em consulado
O que Jamal Khashoggi escreveu para irritar a monarquia saudita?

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, relatou ao Parlamento turco as conclusões da investigação sobre o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, visto pela última vez há três semanas entrando no consulado do seu país em Istambul para cumprir um trâmite, em 2 de outubro. Khashoggi, de 59 anos, caíra em desgraça no Reino do Deserto após criticar o regime de Riad.

“Temos a certeza de que Khashoggi foi assassinado no consulado saudita”, sentenciou Erdogan que, contrariando a versão oficial de Riad, disse que esse “selvagem” crime foi planejado. “Houve um plano que começou a ser gerado em 28 de setembro, na primeira visita de Khashoggi ao consulado”, disse o presidente.

Em 1º de outubro, véspera da “operação”, equipes sauditas fizeram “explorações” no Bosque de Belgrado e em Yalova. Erdogan contou que a Arábia Saudita lhe informou sobre a detenção de 18 pessoas, incluindo os 15 participantes da equipe que perpetrou o assassinato. “Essas 15 pessoas, por que chegaram a Istambul no dia do crime? Essas pessoas, de quem receberam ordens para vir? No consulado, porque não deixaram investigar imediatamente, só dias depois? Por que não aparece o cadáver de alguém que reconhecidamente foi assassinado?”, perguntou-se Erdogan.

“As provas indicam que Khashoggi foi assassinado de maneira selvagem e que se tentou acobertar o crime. As provas indicam, sem lugar a dúvida, que o crime foi planejado”, reiterou o presidente turco, que exigiu saber onde está o corpo do jornalista, ao mesmo tempo que pediu uma “comissão de investigação independente” sobre o caso.

“Faço um apelo à Arábia Saudita, ao rei Salman, custódio das duas mesquitas. O lugar onde se cometeu o crime é Istambul. Peço-lhe que envie esses 18 detidos para que sejam julgados em Istambul. A decisão é dele, mas esta é minha proposta, minha solicitação”, concluiu Erdogan, que expressou sua confiança no monarca.

O comparecimento do presidente atrasou porque primeiro discursou Devlet Bahçeli, líder do partido ultradireitista MHP e aliado de Erdogan no Governo. E soltou uma bomba: depois de semanas de debate, anunciou que desta vez não estarão coligados com Erdogan nas eleições municipais de março, o que põe em perigo o controle do presidente e de seu partido sobre várias prefeituras importantes.

Erdogan prometeu nesta segunda-feira, 22, anunciar “toda a verdade” sobre o caso. “Desde o início, a linha do nosso presidente foi clara: não haverá nenhum segredo sobre este caso”, declarou o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, que insistiu, entretanto, na necessidade de preservar as relações entre Ancara e Riad. “A Arábia Saudita é um país importante para nós. É um país irmão e amigo. Temos muitos vínculos e não gostaríamos que estes se danificassem”, declarou.

Em um novo vazamento, do jornal turco Sabah, próximo do Governo, informou que um alto funcionário diplomático da Arábia Saudita em Istambul foi o “cérebro” da operação que matou o jornalista. Esse veículo relata que Ahmed Abdulah al Muzaini, um adido diplomático que trabalha desde 2015 em Istambul e é apontado como chefe local da inteligência saudita, viajou a Riad em 29 de setembro e retornou em 1º de outubro, véspera do desaparecimento de Khashoggi. O Sabah, que não identifica nenhuma fonte, diz que essa pessoa foi quem recebeu e executou a ordem de matar o jornalista.

Horas antes do pronunciamento de Erdogan, o Governo turco declarou que graças à reação da comunidade internacional e da Turquia a Arábia Saudita reconheceu a morte do jornalista crítico. “O mundo falou com uma voz forte. Isso, junto com a nossa reação, forçou a Arábia Saudita a reconhecer a morte [de Khashoggi]”, afirmou o ministro turco de Relações Exteriores, Mevlüt Çavusoglu, à agência Anadolu. “Há um assassinato, e a questão é esclarecê-lo”, acrescentou o chanceler.

À margem do que foi dito por Erdogan, o mais importante do dia é que a polícia científica espera autorização do consulado saudita para vistoriar um automóvel com placas diplomáticas no qual há três bolsas suspeitas, duas delas grandes. Enquanto isso, a diretora da Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana, Gina Haspel, embarcou nesta segunda-feira para a Turquia, segundo o The Washington Post. A chegada de Haspel ao país coincidiria com a revelação dos detalhes sobre a investigação.

 

Mais informações

Arquivado Em