David Katz, o profissional dos videogames que tingiu de sangue um torneio na Flórida
Jovem matou duas pessoas e feriu outras 11 em uma reação descontrolada à derrota no último domingo
Um jovem de semblante sério, superconcentrado na tela, inexpressivo. É o aspecto que David Katz oferece em vídeos e imagens de sua carreira como jogador profissional do Madden NFL, um popular simulador de futebol americano que tem competições com prêmios substanciais e grandes audiências on-line. Em um destes torneios, no último domingo, 26, uma eliminatória regional, Katz matou outros dois jogadores e feriu 11 pessoas em Jacksonville (Flórida). Em seguida se suicidou ali mesmo, no restaurante onde acontecia o evento.
Katz tinha 24 anos e era de Baltimore (Maryland), 1.200 quilômetros ao norte de Jacksonville. A polícia passou detalhes sobre ele e continua a investigá-lo. Ainda no domingo, agentes do FBI vasculharam a casa onde supostamente vivia, num bairro abastado de Baltimore, e a polícia de Jacksonville analisou o veículo com o qual se deslocou até um shopping center dessa cidade, onde provocou a tragédia com uma pistola semiautomática que comprou legalmente em seu Estado, segundo as autoridades. Na segunda-feira, o xerife de Jacksonville informou que Katz entrou no restaurante com duas pistolas, compradas há poucas semanas, e com munição para recarga.
Diversos meios de comunicação revelaram que, de acordo com a documentação do divórcio de seus pais, Katz esteve hospitalizado em algum momento da sua adolescência num centro psiquiátrico de Baltimore.
Depoimentos de jogadores apontam que Katz pode ter tido uma reação descontrolada à derrota. Steven Javaruski e Javaris Long disseram, respectivamente ao Los Angeles Times e ao Tampa Bay Times, que Katz perdeu, saiu do restaurante e logo depois voltou atirando. Não está claro se sua intenção era matar algumas pessoas específicas ou aleatoriamente. Javaruski disse que “apontou [e disparou] contra vários” e depois deu um tiro em si mesmo. Já Long relatou que Katz – ”um sujeito estranho”, como o definiu – “se pôs a disparar contra todo mundo”. No vídeo da transmissão on-line do torneio, se vê um ponto laser sobre o peito de Elijah Clayton, de 22 anos, um dos dois que ele assassinou. O breve movimento do laser é errático e nervoso, mas dá a impressão de que o tinha como alvo. Nesse instante, Clayton jogava e ria com seus fones de ouvidos colocados. O outro assassinado foi Taylor Robertson, de 28 anos, casado, pai de um filho e ganhador de uma competição no ano passado. Primeiro tirou a vida de Elijah. Depois, de Taylor. Elijah tinha ganhado 51.000 dólares (208.000 reais) em sua carreira como jogador de Madden. Taylor, 80.000 dólares (326.300 reais). Não se sabe quanto o assassino havia acumulado na carreira. Segundo o xerife do Jacksonville, ele conhecia as duas vítimas do circuito do Madden NFL.
Na competição deste domingo, o prêmio para o ganhador era de 5.000 dólares, e quem vencesse passava à outra fase do torneio do Madden NFL a ser disputado em Las Vegas, com um bote de 165.000 dólares. Conforme disse outro jogador à emissora WJAX-TV, Katz perdeu dois jogos neste fim de semana, um no sábado e o outro no domingo, antes de perpetrar o ataque. Um dos jogadores que ganharam disse que, após ser derrotado, Katz não lhe deu a mão e o olhou friamente.
Katz obteve um triunfo em 2017. Em fevereiro daquele ano, ganhou uma competição em Buffalo (Nova York), e os Buffalo Bills o felicitaram pelo Twitter. As 32 equipes da NFL real têm jogadores que os representam na NFL virtual do jogo Madden e fazem seus próprios torneios. Aquele, organizado pelos Bills, foi vencido por Katz, que embolsou 10.000 dólares. Mais tarde, ainda no ano passado, perdeu outra competição na Califórnia, relata o The Washington Post. Katz, que jogava com o apelido Bread (“pão”), foi superado numa partida muito igualada contra outro jogador de apelido Misery (“miséria”). No início do confronto – que pode ser visto no YouTube –, a câmera faz um primeiro plano de Katz, com o olhar fixo e abstraído, e um comentarista avisa ao público: “Vocês não vão ver muitas emoções no nosso menino Bread. Ele está na dele. É um homem de negócios. Não está aqui para fazer amigos.” Finalmente, Miséria o venceu.
Aquele jogador de poucas palavras acabou neste domingo tingindo a competição de sangue, tirando vidas e engrossando a funesta lista de atiradores solitários norte-americanos. O motivo ou o contexto que levou Katz a explodir continua na névoa. Sua imagem matando, entretanto, ficou cravada na mente de testemunhas como Taylor Poindexter, que assim o descreveu horas depois do tiroteio: “Com as duas mãos na pistola, simplesmente disparando balas”.
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