Jungmann nega mais verba a Roraima e expõe disputa política com governadora
Em visita ao Estado, o ministro da Segurança criticou quem "tira proveito" da crise dos imigrantes
A visita do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a Pacaraima, em Roraima, nesta quinta-feira, 23, evidenciou mais uma vez que o drama da imigração venezuelana no Estado foi contaminado pela disputa política entre o Governo Michel Temer e o Governo estadual e pela campanha eleitoral. Em conversa com os jornalistas, o ministro disse que, no momento, não vai disponibilizar mais verba para a crise em Roraima porque o Estado ainda não gastou tudo que Brasília havia enviado. Segundo os números oficiais da gestão Temer, o Governo federal já destinou 187 milhões de reais, só na área de saúde, para o Governo e os municípios de Roraima e, destes, ainda existe um saldo de quase 70 milhões de reais não usados. A governadora, Suely Campos (PP) cobra, no entanto, ressarcimento de 184 milhões de reais pelos gastos extraordinários que o Estado teve com a entrada dos imigrantes. Segundo documento protocolado ontem no Palácio do Planalto pelo Governo de RR, a União não transferiu os recursos solicitados anteriormente.
Roraima, o Estado menos povoado do Brasil, é o que mais recebe imigrantes venezuelanos, provocando pressão nos serviços públicos. Tem havido também episódios de tensão, como o do último fim de semana, quando um grupo de brasileiros atacou um acampamento de venezuelanos em Pacaraima, na fronteira. O Governo enviou agentes da Força Nacional, que, a pedido do Governo estadual, deve começar a fazer patrulhamento ostensivo nas ruas, e não só nas fronteiras.
Jucá x Campos
Jungmann disse ainda que a cabe à governadora, Suely Campos, decidir se quer as Forças Armadas, não para fechar a fronteira, porque é ilegal e já foi negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas para fazer a segurança. “Queria aqui dar um recado a senhora Governadora de Roraima [Suely Campos]. Se a senhora acredita que há possibilidade de problemas maiores que nós de fato tentamos evitar, é só a senhora ligar para o presidente e as Forças Armadas estarão aqui com emprego delas e da garantia da lei e da ordem, podem assumir o controle da segurança pública aqui no Estado de Roraima. Estamos prontos para assumir também essa responsabilidade. Cabe à senhora decidir isso”, disse Jungmann.
“A governadora quis as Forças Armadas para fechar a fronteira. Ora, já foi dito pelo STF, pelo presidente, está nos acordos internacionais que isso (fechamento da fronteira) não será possível”, seguiu o ministro. Questionado se o pedido de fechamento da fronteira era uma medida eleitoreira, disse: “Acho que não pode tirar proveito de uma tragédia como essa, não se pode fazer política como uma questão dessa. A disputa política precisa de limite e o limite é dignidade dessas pessoas. Isso não pode entrar em uma disputa mesmo num momento de tensão.”
Apesar da firmeza de Jungmann, um aliado-chave do próprio Governo, o senador Romero Jucá, também tem pedido o fechamento da fronteira. Candidato a reeleição ao Senado por Roraima, mas numa disputa embolada e sem vitória garantida, Jucá tem usado até o nome de Temer para reforçar sua pauta anti-imigração. O mesmo faz a governadora Suely, que amarga um terceiro lugar na disputa pela reeleição, segundo a última pesquisa Ibope no Estado.