Um debate sem vencedores, e com um perdedor: a candidatura do PT
Petistas tentaram se contrapor ao encontro da Band, mas audiência dos Lives foi baixa. Palanque televisivo traz mais realidade que as redes sociais para cristalizar opiniões
O debate dos presidenciáveis da Band, transmitido nesta quinta, nivelou o processo eleitoral que entra na prova dos nove sobre o papel que a televisão vai cumprir a partir de agora. Ao trazer a campanha para a casa do brasileiro, num formato familiar e conhecido desde 1989, percepções se cristalizam sobre cada candidato e injetam mais realidade do que as redes sociais conseguem. Não se pode eleger vencedores, mas pode-se dizer quem são os perdedores deste palanque televisivo. A candidatura do PT, ausente diante da sua crise de identidade entre Lula preso e Fernando Haddad, seu vice. Ciro Gomes, do PDT, também fica em xeque, pouco questionado nos primeiros blocos do programa, quando havia mais audiência acordada. Mas é o PT quem mais perde, emaranhado no imbróglio jurídico sobre quem é efetivamente a cabeça de chapa. Se não resolver isso antes do próximo debate, no dia 17 na RedeTV, vai perder espaço precioso na cabeça do eleitor que ainda flerta com a possibilidade de escolher a 'chapa triplex'.
Com oito candidatos em cena e as aparições mais diluídas, não houve palco para Jair Bolsonaro se sobressair como se esperava, nem positiva e nem negativamente. Trouxe os mesmos argumentos de sempre, com a defesa da posse de armas, a castração química a estupradores e o ataque às políticas de direitos humanos e à esquerda. Liderou as buscas por seu nome na internet enquanto o debate estava no ar, mas não se sabe se essa curiosidade virtual vai se transformar em votos. Há indícios que quando se torna mais conhecido do eleitor, sua rejeição aumenta, como mostrou uma pesquisa do DataPoder360.
O desempenho do tucano Geraldo Alckmin, que defendeu ajuste fiscal, e reforma tributária, é uma incógnita. Visivelmente tenso, Alckmin viu no programa da Band que ele não conseguirá fugir do calvário de ser identificado com o radioativo presidente Michel Temer. O mesmo vale para Henrique Meirelles, que se esforçou para se destacar como o homem forte do emprego durante os governos Lula (2003-2010), como se o cargo de presidente do Banco Central fosse mais decisivo que de um presidente. Meirelles, no entanto, não tem nada a perder, pois está em baixa nas pesquisas, diferente de Lula.
Marina Silva, por sua vez, repetiu o mesmíssimo discurso que apregoa há dois anos, atacando PT e PSDB, corrupção, e fazendo o aceno de sempre sobre um plebiscito quando questionada sobre aborto, por exemplo. Mas, para aqueles que estão acessando a campanha política somente agora, ela ainda pode estar mais próxima do ideal de um candidato a presidente. Álvaro Dias também pode disputar um pedaço dos indecisos, amarrando o juiz Sergio Moro ao seu eventual mandato. E o Cabo Daciolo virou a caricatura da vez com suas mensagens religiosas e as platitudes que lembravam o discurso do PSTU, como a auditoria da dívida pública, uma desculpa que a gente ouve desde o slogan contra burguês, vote 16.
Para além das especulações, que só serão dirimidas numa próxima pesquisa eleitoral, as três horas de programa da Band só confirmaram que as eleições de 2018 são o pleito em que os brasileiros (que não desistirem de votar) escolherão o menos pior. Depois de tantas cambalhotas no cenário político desde 2014, há um couro mais curtido entre o eleitor que já se iludiu ou foi enganado por discursos de lobos em pele de cordeiro durante a campanha. É a eleição mais angustiante da democracia recente, em que ninguém se atreve a ter certeza sobre quem estará no segundo turno em outubro. O coração está na boca e o desafio principal é não permitir retrocessos maiores do que o país já viveu até aqui. Não é só um debate que vai definir essa percepção, mas o noticiário que vem a reboque.
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