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Juan Sebastián Verón: “A Argentina não é a seleção de Messi”

Titular em três Copas, o atual presidente do Estudiantes pede confiança na equipe, mais do que na figura de sua máxima estrela. “A seleção argentina é uma trituradora”, avisa

Verón no centro de treinamento do Estudiantes de La Plata.
Verón no centro de treinamento do Estudiantes de La Plata.Mariano Martino
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A uma hora de carro de Buenos Aires está o City Bell, o centro de treinamento dos jogadores do Estudiantes de La Plata, o clube onde Juan Sebastián Verón (La Plata, 1975) jogou desde pequeno, estreou na primeira divisão e alcançou a glória. O mesmo clube que preside hoje e onde teve o prazer de disputar algumas partidas no ano passado, aos 42 anos, em uma cruzada para arrecadar fundos e ajudar a terminar o novo estádio. Lá também mora com a família, atravessando um gigantesco campo de golfe. “La Bruja” – como é chamado – carrega o peso da eliminação da Argentina na primeira rodada da Copa do Mundo da Coreia e Japão de 2002, uma derrota que os argentinos preferem esquecer e que condenou ao exílio Marcelo Bielsa, o técnico da seleção argentina na época.

Pergunta. O que aconteceu na Coreia-Japão?

Resposta. Não há explicação. É claro que em uma Copa do Mundo não há margem para erro, e aconteceu o que aconteceu. O grupo no qual caímos [o Grupo F, com Nigéria, Suécia e Inglaterra] não é desculpa, porque você tem que estar preparado para jogar com os melhores.

“Minha dívida pendente é ganhar algo grande com a seleção”

O que muitos argentinos ainda se lembram é a aparente tranquilidade com a qual Verón – que na época jogava no Manchester United – jogou as partidas contra a Inglaterra e a Suécia, equipes que condenaram o destino da albiceleste. Até o próprio Maradona continua punindo-o por isso: "Melhor que Verón convoque a lista da Inglaterra e não a da Argentina", disse no ano passado, quando “La Bruja” era secretário de Seleções da AFA (Associação do Futebol Argentino). No entanto, Verón diz que ninguém lhe critica nas ruas e culpa o jornalismo "que esquece que não é vestir a camisa da seleção e jogar como Maradona". "Acho que fui muito criticado, precisamente pelo EL PAÍS. Mas, com o tempo, aprendi que é preciso separar as coisas e se relacionar melhor com os meios de comunicação", disse Verón.

P. Havia química naquele grupo de 2002?

R. Sim, e também nos outros dois dos quais fiz parte. O grupo funcionava e, com relação a isso, não tenho nenhuma crítica. Obviamente que, depois, você se relaciona mais ou menos com um ou outro jogador. No Parma e na Lazio joguei com [Roberto] Sensini, [Diego] Simeone e [Abel] Balbo, e também na seleção. Nós nos dávamos muito bem.

P. Como os torcedores o trataram?

“O trabalho em conjunto deve suprir o surgimento de um novo Messi”

R. Com vaias, alguns insultos, mas fico tranquilo de que tudo o que acontece, acontece dentro do campo de jogo. Ando na rua normalmente e nunca tive problemas.

P. Você se sente em dívida?

R. Eu gostaria de, pelo menos, ter cumprido a expectativa de estar entre os quatro melhores. Sempre fiquei nas quartas de final e, em uma delas, não passamos da primeira rodada. Minha dívida pendente é ter ganhado algo grande com a seleção. Depois, há a realização de ter participado do torneio máximo para qualquer profissional. Aquilo que você sonha desde pequeno e trabalha quando adulto.

"A seleção é uma trituradora, porque não há paciência"

P. Como vê a equipe argentina para a Copa do Mundo da Rússia?

R. Convenhamos que esta última etapa foi muito traumática, devido ao processo geral, as finais perdidas, as pessoas que pressionam, o jornalista que se esquece do jornalismo e vira torcedor. O contexto não é levado em conta e acaba triturando o jogador que poderia dar uma solução. O exemplo é [Gonzalo] Higuaín, que começou insultado e hoje é fundamental no ataque da seleção. De Higuaín vamos para [Lucas] Pratto, que jogou duas partidas, depois [Mauro] Icardi e, no meio disso, sobrou para [Darío] Benedetto, [Lucas] Alario e para o garoto Lautaro Martínez. E terminamos novamente com Higuaín. A seleção é uma trituradora, porque não há paciência.

P. As três finais perdidas podem jogar contra?

R. Tomara que não, e espero que tenham a sorte de chegar a outra final. O futebol de hoje não é apenas o talento que um jogador tem, muitos outros componentes influem. Se até mesmo Di María fez referência aos memes que os criticam. Você tem que estar preparado para as redes sociais. Por isso é bom ter um treinador, psicólogo e pessoas que te ajudem a superar essas coisas. Os garotos de hoje são muito permeáveis e recebem tanta influência de todos os lados que chega um momento em que se torna difícil de processar.

P. O que acontecerá depois da Rússia?

R. É preciso melhorar e continuar evoluindo. E, para isso, é preciso trabalhar. O futebol argentino não vai parar de lançar jogadores, mas devemos evoluir na dependência de alguém que se ilumine e nos leve a ganhar alguma coisa. O trabalho em conjunto deve suprir o surgimento de um novo Messi.

P. Lionel Messi influencia na convocação da equipe?

R. Não. Aqui em La Plata me dizem a mesma coisa. Acreditam que trago alguém porque é meu amigo. A amizade é uma coisa, e o trabalho é outra. Não acredito que um jogador possa aceitar isso, ainda mais em uma seleção, colocar este e tirar o outro. Porque, quando você coloca este, tira o outro que divide espaço e tempo com você. Agora, o que existe – e eu fiz isso – são opiniões sobre alguma partida ou como a estratégia poderia ser proposta. Depois, a decisão é do técnico. Não acredito que seja a seleção de Messi.

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