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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Metade dos cânceres já tem cura. Vamos para a outra metade?

Dados comparativos com outros países mostram que há muita margem de ação para melhorar a sobrevivência dos pacientes de câncer na Espanha

Javier Sampedro
Câncer de pulmão.
Câncer de pulmão.

Recordamos com frequência que o câncer não é mais uma condenação à morte, que a metade dos cânceres tem cura. Mas a pergunta óbvia que é preciso fazer então é: do que precisamos para curar a outra metade? Todos os oncologistas concordam em que não vai haver uma penicilina do doutor Fleming que vá resolvê-los de uma penada: é preciso ir ganhando terreno da doença passo a passo, e caso a caso. A melhor forma de definir o caminho, como sempre na ciência, são os dados. E os dados dizem que no mundo há ampla margem para a melhora agora mesmo, sem esperar que novos fármacos e técnicas biotecnológicas venham em nosso socorro.

Existem estratégias de ação muito concretas para cada tipo de câncer. Por exemplo, os exames de sangue nas fezes, muito valiosos para a detecção precoce do câncer de cólon, somente são garantidos para toda a população em risco alguns lugares, o que explica em parte que 60% da população de risco esteja fora de cobertura, e que outros países nos superem na sobrevivência a esse câncer. A outra parte se explica pela recusa ignorante e supersticiosa das pessoas em fazer os exames.

Todos os especialistas concordam em que os maiores recursos deveriam se concentrar em grandes hospitais de referência, em lugar de serem distribuídos por todas as partes com resultados desiguais e ineficazes. Também é necessário garantir que os mesmos fármacos estejam disponíveis para toda a população. Um oncologista pediátrico que só examina poucos casos por ano não pode atuar tão bem como outro que examina cem. É senso comum, mas a gestão descentralizada da saúde está matando crianças, para expressar isso com a brutalidade que tal situação lamentável requer.

E há outro ponto essencial sobre o qual devemos estrilar e martelar com insistência. Cortar recursos de pesquisa é uma política errada e, no caso da pesquisa oncológica, mata gente ou matará no futuro. Esta semana ficamos conhecendo também uma pesquisa básica espanhola, ainda em ratos, que promete combater o câncer de mama mais agressivo. Os cidadãos querem que esse tipo de estudo chegue logo aos ensaios clínicos e que sejam feitos muito mais trabalhos desse tipo. Ao que parece, porém, nossos governantes não estão de acordo conosco. Que pena, não acham?

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