Brasil se torna palco do combate entre dois gigantes do setor elétrico da Europa
O confronto entre a espanhola Iberdrola e a italiana Enel pelo controle da Eletropaulo se acirra nas vésperas de uma semana decisiva
A companhia elétrica brasileira Eletropaulo virou objeto de desejo de dois dos gigantes do setor na Europa. A disputa pelo controle da empresa abriu uma guerra encarniçada entre os dois concorrentes, com uma sequência de ofertas e contraofertas cujo desfecho é ainda uma incógnita à espera de uma semana que parece decisiva. A espanhola Iberdrola e a companhia pública italiana Enel disputam o comando do setor privado da distribuição elétrica no Brasil nos mesmos dias em que o Governo de Michel Temer fez as primeiras movimentações para preparar a venda da Eletrobras.
Se a espanhola for a vencedora, consolidaria uma posição hegemônica no país, com mais de 20 milhões de clientes. Caso a Enel consiga seu objetivo, chegaria a 17 milhões de clientes e ultrapassaria a Iberdrola no mercado brasileiro. As duas companhias são também as principais no mercado espanhol, onde a Enel, através da Endesa, tem a primeira posição na frente da Iberdrola. A acirrada disputa pela Eletropaulo lembra aliás em alguns detalhes o longo combate que nos anos 2006 e 2007 houve na Espanha pelo controle da Endesa, no que a companhia com participação maioritária do Estado italiano acabou vencendo para a privada alemã E.on.
A Iberdrola tinha fechado na terça-feira passada um acordo com o Conselho de Administração da Eletropaulo. O comprador seria Neoenergia, subsidiária brasileira da Iberdrola, que possui 52% de seu capital. A empresa espanhola ofereceu na casa de 6 bilhões de reais, divididos entre uma ampliação de capital e a compra de ações em uma OPA posterior. Mas a Enel pegou por surpresa a Iberdrola apenas umas horas depois de fechado o acerto. Os italianos apresentaram uma OPA e incrementaram 200 milhões na proposta da Neonergia. Além da ampliação de capital, ofereceram 28 reais por ação, frente a 25,51 dos espanhóis.
A Iberdrola não abriu mão. Na tarde da sexta-feira, o Conselho de Administração da Neoenergia subiu a sua proposta até 29,40 reais, 5% mais do que a oferta italiana. Mas pessoas envolvidas na operação não descartam alguma nova movimentação da Enel ao longo da semana que vem. A Eletropaulo informou, neste sábado, que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deu prazo até a segunda-feira para a empresa se manifestar sobre a oferta dos italianos.
Os dois gigantes europeus vêm mostrando há tempos grande interesse no mercado brasileiro. Os sete milhões de consumidores da Eletropaulo permitiriam a qualquer uma das duas companhias aumentar sua presença de forma muito importante. Até agora, a Iberdrola, que já é a primeira distribuidora privada no país, tem 13,5 milhões de clientes através de quatro distribuidoras, enquanto a Enel possui cerca de 10, com duas companhias de distribuição. As duas concorrentes prometem grandes investimentos no Brasil: cerca de 8 bilhões de reais nos próximos dois anos no caso dos italianos e 25 bilhões até 2022 no dos espanhóis, 18% do total de investimentos previstos pela empresa nesse período, segundo disse o seu presidente, Ignacio Sánchez Galán, a um grupo de jornalistas brasileiros convidados há algumas semanas à Espanha pela companhia para explicar seus planos no país sul-americano. Tanto a Iberdrola quanto a Enel também asseguram que sua entrada na Eletropaulo traria uma importante melhora tecnológica nas redes de distribuição.
No combate em território brasileiro ecoam as disputas no mercado espanhol. Nesse país o fato de a Enel ter a maioria de suas ações -25%-propriedade do Estado italiano tem causado algumas polêmicas. Em março passado, os sindicatos da Endesa organizaram protestos diante da Embaixada da Itália em Madri pelas demissões de funcionários e acusaram a companhia matriz de estar fazendo um "saque" na subsidiária espanhola. Segundo o jornal espanhol Cinco Días, a Enel "sempre ficou de olho" no Brasil e se conseguir o controle da Eletropaulo, o país será o segundo da empresa por número de clientes, só depois da Itália.
A Iberdrola também tem como primeiro acionista um grupo estatal, o Qatar Investment Authority, ainda que nesse caso com só 9% porque seu capital está muito mais dividido.
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